Roberto Godoy
Em certos escritórios de Brasília, sem identificação e nos quais os telefones não constam dos catálogos conhecidos, um atentado terrorista durante os grandes eventos previstos para o largo período entre meados desse ano e o segundo semestre de 2016 não é uma possibilidade – é uma certeza. "Precisamos trabalhar como se essa hipótese fosse certa e verdadeira", disse há dois dias um delegado da Polícia Federal que não pode ser identificado. Ele já compõe a reservada força-tarefa criada para "atuar de forma a impedir essa agressão e impedir que a situação se transforme em realidade ".
O governo investiu cerca de R$ 134 milhões na estrutura da Defesa para garantir a conferência Rio+20, em junho de 2012. Foi uma espécie de teste. A série de eventos especiais segue este ano com a Copa das Confederações, o teste para a Copa do Mundo de 2014, passa pela visita do próximo papa – cinco dias em julho – durante o Encontro da Juventude, e só termina no dia 21 de agosto de 2016, data do encerramento dos Jogos Olímpicos.
Só as providências da preparação da Defesa para as competições de futebol vão exigir recursos estimados em R$ 699 milhões. O custo final já foi avaliado em R$ 5,2 bilhões, em 2010. O então presidente Luis Inácio Lula da Silva não gostou do número e mandou parar o processo.
Pelos cálculos atuais, mais realistas, a faixa limite deve ficar em R$ 1,5 bilhão. O ministro da Defesa, Celso Amorim, tem dito que não vai faltar dinheiro para o programa.
O projeto prevê a recuperação e compra de equipamentos, criação de centros integrados de comando, comunicações, controle e inteligência e qualificação de pessoal, entre os quais times preparados para ações antiterror.
Essa semana a presidente Dilma Rousseff fechou, com o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, a compra de cinco baterias de artilharia antiaérea – o preço cheio pode chegar a US$ 1 bilhão. Feitos os acertos, deve sair por bem menos, talvez por US$ 600 milhões. Mas o equipamento só chega a tempo para a Olimpíada.
Sonho tecnológico de alto custo, uma plataforma Istar (Inteligência, Designação de Alvos, Vigilância e Reconhecimento) pode vir a ser montada no jato R-99 do Esquadrão Guardião, de Anápolis (GO), que emprega a versão militar do birreator ERJ-145, da Embraer. Até agora, só a modernização das cinco aeronaves de alerta avançado e três de sensoriamento remoto foi decidida.
Segundo um oficial do Exército, o planejamento é equivalente ao de uma campanha militar de combate, focada nas 12 cidades-sede dos jogos.
A Força Aérea Brasileira (FAB) vai cuidar da defesa do espaço. Terá de recorrer ao seu melhor material, o supersônico F-5M, modernizado na Embraer Defesa e Segurança.
Os quatro Centros Integrados de Defesa e Controle (Cindacta) do País receberão o sistema Sagitário, um software nacional criado pela empresa Atech, capaz de processar dados de diversas fontes de captação – radares, satélites, sensores de relevo – e consolidá-los em uma só apresentação visual, na tela digital. A Aeronáutica está formando 300 controladores de voo a cada ano.
Navios da Força Naval e os mergulhadores de combate Grumec (time de elite inspirado pelos Seal dos Estados Unidos, os mesmos que conduziram o ataque ao esconderijo de Bin Laden no Paquistão) vão atuar no litoral.
O Exército vai deslocar blindados, tropas e equipes da Brigada de Forças Especiais de Goiânia – os melhores guerreiros, cujo trabalho é mantido sob rigoroso sigilo. A coordenação do contingente será feita por meio de cinco diferentes centros de comando.