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ARMAS – Debate muda de estratégia

RAUL JUSTE LORES
Nova York

 
Quase dois meses após a chacina na escola de Sandy Hook, Newtown, que matou 20 crianças de 6 e 7 anos, o debate para restringir a venda de armas nos EUA não desapareceu do noticiário, como costumava acontecer apenas duas semanas após outras tragédias parecidas.

Para ativistas, a mudança na estratégia dos defensores de maior controle de armas está surtindo efeito e pode obter resultados históricos.

Onde antes se dizia "controle de armas", hoje o termo da vez é "combate à violência com armas". Políticos democratas se esforçam em dizer que entendem as pessoas que possuem armas, com apelo a eleitores moderados.

Até o presidente Barack Obama entrou na nova ofensiva de aproximação, deixando-se fotografar com uma espingarda dando tiros ao prato, popular esporte americano. E afirmou que tem "um profundo respeito por tradições de caça que existem há gerações e gerações".

O ativista Jon Cowan, que criou nos anos 90 uma ONG já extinta chamada Americanos pela Segurança com Armas, diz que, no passado, campanhas visavam retirar armas ou proibir a sua circulação, afastando moderados.

"A maior parte dos americanos está no meio, nem do lado da Associação Nacional do Rifle [NRA, da sigla em inglês], nem a favor da proibição total. 65% dos portadores de armas acham que o direito ao porte e as restrições podem coexistir, mas não estávamos falando para a maioria."

Para ganhar adeptos, campanhas no último mês usam frases como "ninguém virá tirar a arma de sua mão".

Na semana passada, durante o intervalo do Super Bowl, a grande final do futebol americano, um anúncio da campanha Prefeitos contra a Violência com Armas falava sobre a necessidade de mais controles e vistorias.

Em 11 de janeiro, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, disse ao jornal "The Washington Post" que seria um "contrapeso" à NRA. "Eles podem fazer barulho; eu sei como assinar cheques e patrocinar campanhas a favor do controle de armas."

A NRA, depois de colocar as filhas de Obama em um anúncio a favor do porte de armas, recuou e faz seu lobby mais nos bastidores.

Até um governador republicano, Chris Christie, de Nova Jersey, chamou a propaganda de "repreensível" e disse estudar dificultar o porte.

Em janeiro, o prefeito de uma cidade vizinha a Newtown declarou moratória para feiras de armas no local.

"Até o massacre no cinema em Aurora, depois de duas semanas o assunto desaparecia da mídia", afirmou a apresentadora Rachel Maddow, da rede MSNBC, na última quarta-feira. "Hoje, as redes sociais não deixam cair no esquecimento."

Mais de seis semanas após Newtown, o assunto não sai da mídia. Programas de televisão falam de controle de armas quase diariamente.

A primeira-dama Michelle Obama esteve ontem no velório de uma adolescente morta durante um tiroteio entre gangues em Chicago. Michelle não fez declarações, mas a imprensa americana interpretou como um gesto de atenção à violência com armas de fogo no país.

Na última quarta, em reunião do Partido Democrata, o vice-presidente, Joe Biden, disse que era "hora de dar um basta e tomar atitudes para reduzir a violência". Ele usa o termo "prevenção de violência", em sintonia com a nova estratégia dos ativistas.

A última onda contra armas no país aconteceu no início dos anos 90, auge da violência urbana -só em Nova York, houve 2.500 assassinatos em 1990. No ano passado, esse número caiu para 414.

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