Montevidéu, Uruguai, 16/01/2013 – O ministro da Defesa, Celso Amorim, propôs aos países integrantes da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas) a realização de uma série de iniciativas que permitirão tornar mais concreta a parceria em matéria de defesa e segurança entre as nações que compõem o foro multilateral. A proposta foi realizada durante a VII Reunião Ministerial da Zopacas, realizada ontem (15) e hoje na capital uruguaia.
Dentre as iniciativas sugeridas por Amorim está o compartilhamento da experiência brasileira em áreas como levantamento de plataformas continentais, capacitação em salvamento e resgate no mar (SAR), operações de paz e vigilância marítima por meio de centros que utilizam a tecnologia denominada long range identification and tracking.
O ministro brasileiro sugeriu a inclusão, no plano de ação da Zopacas para 2013, de seminários sobre esses e outros assuntos na área de defesa. Amorim manifestou a disposição do Brasil de sediar, no segundo semestre deste ano, um desses seminários, com tema a ser definido, e também de auxiliar os outros países do foro na realização de iniciativas semelhantes.
A oferta brasileira foi realizada num contexto de aumento da preocupação dos países-membros da Zopacas com questões de segurança de defesa. Durante o encontro, representantes de nações africanas lembraram alguns dos sérios problemas que vêm enfrentando na atualidade. Foram mencionadas, entre outras, ações de pirataria, tráfico de drogas e de pessoas, além do terrorismo internacional.
As situações da Guiné-Bissau e da República Democrática do Congo, países que passam por graves situações de instabilidade política – com consequências danosas para a população civil, que sofre com as violações de direitos humanos decorrentes dos conflitos –, também foram tratadas no encontro. A situação dos dois países foi objeto de duas declarações específicas, veiculadas com a aprovação dos países presentes à reunião (Veja aqui a íntegra da declaração sobre a situação na República Democrática do Congo e sobre a situação na Guiné-Bissau).
Zopacas e as ameaças modernas
A maior atenção dada aos temas de defesa e segurança também ficou evidenciada pela própria presença dos ministros da defesa dos países-membros no encontro realizado no Uruguai. Esta foi a primeira vez que eles foram chamados à reunião da Zopacas desde que o foro foi criado, em 1986.
Em intervenção realizada durante a reunião plenária do encontro, Celso Amorim destacou a importância de se ampliar a cooperação em defesa entre os países do foro. “Hoje vivemos uma realidade em que é muito difícil dizer exatamente onde, como e quais serão as intervenções externas dos conflitos que poderão surgir”, disse. “Esses fatos tornam ainda mais importante e vital a manutenção da nossa zona de paz e cooperação.”
Segundo o ministro brasileiro, a relevância das iniciativas bilaterais e multilaterais na área de defesa no contexto da Zopacas não restringe o combate direto aos crimes que assolam o Atlântico Sul. “Essas mesmas atividades ilícitas podem atrair, de maneira negativa para nossa área, a presença de intervenções externas”, alertou. “Se nós não nos ocuparmos da paz e segurança no Atlântico Sul, outros vão se ocupar. E não da maneira que nós desejamos: com a visão de países em desenvolvimento que repudiam qualquer atitude colonial e neocolonial.”
Presente à reunião, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antônio Patriota, cobrou de todos os representantes a intensificação dos contatos e das ações bilaterais e multilaterais com o objetivo de fortalecer a cooperação no âmbito da Zopacas. Patriota lembrou os laços culturais que unem os países-membros do foro, e também os avanços obtidos por eles no campo socioeconômico nos últimos anos. Ele destacou a importância do Atlântico Sul para as economias das nações que compartilham a região, por onde passa cerca de 95% do comércio externo brasileiro.
Sobre a Zopacas
A Zopacas é um foro de diálogo e cooperação entre nações sul-americanas e africanas banhadas pela parte sul do Oceano Atlântico. Foi criada em 27 de outubro de 1986, a partir de uma iniciativa do Brasil, com o intuito de promover a cooperação regional, manutenção da paz e da segurança no entorno dos 24 países que aderiram ao projeto. O ato formal da constituição do bloco foi a Resolução 41/11 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Além das iniciativas de cooperação, destacam-se as de caráter político-diplomático em áreas como meio-ambiente e defesa. Integram a Zopacas os seguintes países: Argentina, Brasil e Uruguai (América do Sul); África do Sul, Angola, Benim, Cabo Verde, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Namíbia, Nigéria, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa e Togo (África).
O Brasil valoriza o espaço comum propiciado pelo Atlântico Sul pelo seu grande potencial para o desenvolvimento socioeconômico dos países costeiros, a ser alcançado por meio da cooperação entre os estados-membros. Busca, igualmente, sua consolidação como zona de paz e cooperação, livre de armas nucleares ou outras armas de destruição em massa.