Roberto Godoy
A encomenda do Exército tem dimensões épicas: blindar os 17 mil quilômetros que definem a fronteira do Brasil. Olhos e ouvidos eletrônicos – mas não apenas: tropa em terra, avião no ar e barcos rápidos nos rios, tudo isso apoiado por uma rede de armas como baterias de mísseis e aeronaves sem piloto.
O programa Sisfron começa sólido. A etapa piloto da primeira fase vai ser feita depressa, fica pronta já em 2015 e cobre 650 quilômetros nas divisas do Brasil com o Paraguai e a Bolívia, no Mato Grosso do Sul. Vai custar R$ 839 milhões e isso significa apenas 6,99% do total do plano. "É muito", acredita Luiz Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança (EDS), para quem, "a meta é atender ao compromisso com a Defesa e, posteriormente, exportar o mesmo modelo."
Se tudo der certo, a EDS estará na rota da execução das demais fases do Sisfron, que serão negociadas ao longo do tempo, até 2022. A faixa total controlada pelo projeto mede 150,5 km de largura e se estende como um corredor por 16.886 km. "É o maior empreendimento do gênero em execução no planeta", diz o ministro da Defesa, Celso Amorim.
De fato. Visto em conjunto com o Sipam, escudo de vigilância da Amazônia, inaugurado em 2002, o Sisfron abrange o equivalente à porção ocidental da Europa – e mais um pouco. O pacote pretende controlar 30% do território nacional, no espaço que separa o Brasil de 11 de seus vizinhos.
O módulo piloto do Sisfron está concentrado na região de Mato Grosso do Sul. De acordo com Marcus Tollendal, presidente da Savis (empresa da Embraer responsável pelo projeto), em dez anos, o projeto vai se expandir e atingir a Amazônia e o cone Sul. Segundo ele há, nessas áreas, uma "mancha criminal" associada a um "vazio populacional" e à menor presença do Estado.
O governo federal tem uma visão idêntica e está criando um polo militar em Campo Grande reunindo grupos operacionais e bases das três Forças – Marinha, Exército e Aeronáutica. Um dos times, o Esquadrão Flecha, da FAB, equipado com os turboélices Super Tucano, atua regularmente em parceria com a Polícia Federal na repressão a voos ilícitos do tráfico de drogas e contrabando.
No ar e no mar. Economista e administrador em território de engenheiro, Luiz Aguiar, o presidente da EDS, assumiu a empresa em 2011 com a noção clara de que "trata-se de uma corporação de defesa no sentido mais amplo". Vem daí o interesse, cada vez mais forte, nos navios. Sua aposta inicial será na área das embarcações leves, como os patrulheiros de 500 toneladas da classe Macaé, com 55 metros de extensão, 34 militares de tripulação, um canhão rápido de 40 mm, duas metralhadoras 20 mm e velocidade de 21 nós (40 km/hora).
A frota em formação – sete navios já foram comprados – vai patrulhar o mar que interessa ao Brasil. A província petrolífera do pré-sal, todas as plataformas em atividade além, claro, de aumentar a segurança da navegação – 85% das mercadorias que entram e saem do País circulam pelo Atlântico Sul.
No ar, duas expectativas importantes: o enorme cargueiro e avião-tanque KC-390, que acumula 60 pedidos – 28 só da FAB – e vai disputar um mercado mundial de 700 aeronaves com capacidade de 23 toneladas. Ao lado do gigante, o guerreiro Super Tucano, na bica de ser selecionado pelo Pentágono para atender à necessidade de um avião de combate para a nova Força Aérea do Afeganistão. A decisão é esperada para dezembro e abre a possibilidade de fornecer diretamente para a aviação americana – em outro negócio, o governo tem interesse em adquirir 100 unidades desse tipo de aviões a um valor de US$ 900 milhões.