DefesaNet Série de três artigos publicados pelo jornal Valor, 22 Novembro 2012. Fornecedor da cadeia aeronáutica enfrenta retração de encomendas Link |
Virginia Silveira
A indústria Aeroespacial mexicana se tornou uma das maiores fornecedoras de material aeronáutico para o mundo. Emprega hoje 33 mil funcionários e possui um total de 260 empresas, que exportam US$ 3,8 bilhões. O curioso é que, ao contrário do Brasil, o México não tem uma indústria fabricante de aviões.
Questionado sobre a possibilidade de replicar o modelo mexicano no Brasil, o Ministério da Defesa informou que cada país adota o modelo que lhe parece mais adequado e que o Brasil optou pelo trinômio ensino, pesquisa e desenvolvimento, iniciado na década de 50 com a criação do CTA e do ITA pela FAB e, posteriormente, da Embraer.
"Hoje, o Brasil tem a terceira maior indústria Aeronáutica do mundo, com aeronaves comerciais e militares brasileiras operando em inúmeros países dos cinco continentes", ressaltou o Ministério da Defesa. Para os especialistas do setor aeronáutico ouvidos pelo Valor, o grande problema deste modelo é que ele está concentrado em apenas uma indústria.
Levantamento anual feito pela AIAB (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil) mostra que existe uma grande concentração de resultados do setor na Embraer. Da receita de US$ 6,8 bilhões registrada pelas empresas em 2011, US$ 5,8 bilhões veio da fabricante brasileira.
A indústria Aeronáutica, de acordo com os dados da AIAB, responde por 86,79% destes números, o restante está com os segmentos de defesa e espaço. Em termos de geração de empregos, em 2011 o setor aeroespacial empregava um total de 22.900 pessoas. Na Embraer trabalham hoje cerca de 18 mil pessoas. A estimativa é que a indústria de base do setor aeronáutico empregue atualmente 5 mil pessoas, mas esses números vêm caindo.
A cadeia produtiva da Embraer está dividida em dois grupos: os parceiros de risco (que participam do desenvolvimento) e as empresas subcontratadas. A lista de parceiros de risco, que atuam na fabricação de estruturas, interiores, motores aeronáuticos, aviônicos, sistemas hidráulicos e elétricos, inclui empresas como a Aernnova (Espanha), Sobraer (Bélgica), Zodiac (França), Parker Hannifin (EUA) e Pilkington (Inglaterra).
Essas empresas, segundo apurou o Valor, não transferiram para o Brasil todas as etapas produtivas, mas apenas a montagem final de componentes semiacabados. "As empresas estrangeiras instaladas aqui estão focadas apenas no atendimento ao seu cliente principal, que é a Embraer. Não existe interesse em transformar suas unidades em empresas com foco mais global", afirmou a fonte.
No caso dos helicópteros EC-725, a Helibras já conta com o envolvimento de 16 empresas brasileiras em seu programa de nacionalização. O presidente da Helibras, Eduardo Marson, comenta que no início do projeto teve muita dificuldade para enquadrar os fornecedores brasileiros ao padrão de exigência da fabricante europeia Eurocopter, porque existia um gap entre o nível de qualidade praticado no mercado internacional e a capacitação tecnológica existente.
O executivo cita o caso da Inbra Aerospace como exemplo bem sucedido de parceria no projeto HX-BR. "A Inbra desenvolvia peças relativamente simples, em material composto, para a Embraer, mas hoje está adquirindo tecnologia sensível na área de peças estruturais em carbono", comenta.