André Luís Woloszyn
Analista de Inteligência Estratégicas e Especialista em Terrorismo
pelo Colégio Interamericano de Defesa/EUA.
O Relatório Anual sobre Terrorismo Global, elaborado pelo Departamento de Estado norte-americano e divulgado recentemente, não trouxe novidades sobre o cenário em questão. Apenas atualizou dados e confirmou a estimativa de especialistas que apontam para o recrudescimento nas ações e atentados terroristas no mundo.
Segundo o relatório, em 2006 ocorreram 14 mil atentados, 25% a mais que no ano anterior, 20 mil pessoas morreram em consequência destas ações, além do aumento de 58% no número de feridos em relação ao ano de 2005. Mantiveram-se na relação de “patrocinadores estatais” o Irã, a Síria, a Líbia, Cuba, a Coréia do Norte e o Sudão, países que financiam e apoiam politicamente grupos terroristas para que defendam e difundam suas ideologias, notadamente de cunho político e religioso.
Com relação ao aumento de vítimas de atentados pela utilização de “homens bomba” ou “crianças-bomba”, é exatamente este o objetivo do terrorismo, causar o terror e o pânico também pela imolação. Esta atitude fere o mais importante princípio humano que é o da auto-preservação da espécie e desencadeia nas autoridades governamentais um sentimento de incapacidade reativa.
A pergunta de muitos é de o porquê o quadro apresenta tendência de crescimento, embora os esforços da comunidade internacional em mediar os conflitos, além do papel do Conselho de Segurança das Nações Unidas em aplicar sanções aos países que estão ligados direta ou indiretamente ao terrorismo.
Obviamente pelas múltiplas causas. Somam-se as que foram elencadas pela Conferência de Oslo em 2003 – estados débeis ou falidos, ideologias extremistas de caráter político-religioso, injustiça social, modernização acelerada, governos corruptos e ilegítimos, repressão por forças de ocupação estrangeiras ou de potências coloniais – e que ainda continuam inalteradas, o conflito israelo-palestino, sem perspectivas de solução a curto-médio prazo, o apoio dos EUA à Israel com relação a política adotada nos territórios ocupados e que desagrada a comunidade árabe da região, e a presença norte-americana no Iraque e no Afeganistão, considerada uma dominação não apenas militar e econômica, mas principalmente cultural.
Na América Latina o relatório se refere a problemas na fronteira da Colômbia com o narcoterrorismo perpetrado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARCS e na tríplice fronteira Argentina, Uruguai e Paraguai, com a presença de grupos considerados terroristas pelo Departamento de Estado dos EUA. Estes grupos, o Hamas (Palestino) e o Hezbollah (Libanês), os quais o Brasil considera partidos políticos, pela flexibilidade das leis brasileiras, estariam atuando na arrecadação de fundos e lavagem de dinheiro para financiar atentados e ações internacionais.
Para alguns especialistas, o terrorismo nada mais é do que o único método de reação desesperada de uma minoria sem infra-estrutura contra a dominação econômica, social, cultural, política e militar de potências com hegemonia mundial. Na visão de outros, é um crime hediondo contra a humanidade e que pode, a qualquer momento, vitimar qualquer pessoa, em qualquer lugar.
Penso que o terrorismo, enquanto fenômeno criminal nunca será extirpado da comunidade internacional. Mas acredito que se pode reduzir a estatística dos atentados e o número de mortos e feridos com a solução de alguns dos problemas sociais que há séculos atormentam as sociedades notadamente do Oriente Médio e da África, além de muita diplomacia.
Caso persistam as causas, o Relatório Anual sobre o Terrorismo Global continuará a nos assombrar com suas estatísticas, chegando cada vez mais próximo de nós brasileiros.