Tradução:
Alexandre Hubner
Faltando um mês para a visita da presidente Dilma Rousseff à França, os ministros da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, e seu colega brasileiro, Celso Amorim, analisaram ontem a associação estratégica bilateral entre os dois países, mas sem definir a questão da concorrência milionária para a compra de caças que interessa a Paris.
Ao fim da reunião, os dois ministros informaram que o encontro serviu para reforçar a importância da relação estratégica firmada durante o mandato dos ex-presidentes Nicolas Sarkozy e Luiz Inácio Lula da Silva, e também para revisar a execução dos contratos de compra de cinco submarinos Scorpène e de 50 helicópteros Eurocopter, avaliados em mais de 8,5 milhões.
Le Drian destacou as "relações estreitas" entre os dois países ao salientar que sua visita ao Brasil ocorre antes da "visita oficial que a presidente Dilma fará a Paris no início de dezembro" e após o encontro entre Dilma e o presidente francês, François Hollande, ocorrido em junho.
"Temos uma relação importante com a França, uma relação que se estende por várias áreas e que é particularmente forte na área de defesa (…), e essa relação se intensificou nos últimos anos com a compra milionária de equipamentos franceses", recordou Amorim.
Os dois ministros afirmaram ter conversado sem restrições sobre a concorrência que o Brasil promove para a compra dos 36 caças pelo valor aproximado de US$ 5 bilhões, embora Amorim tenha insistido em dizer que o Brasil ainda não tomou uma decisão.
Os finalistas são a francesa Dassault, com o avião Rafale, a norte-americana Boeing, com o F/A-18 Super Hornet, e a sueca Saab, com o Gripen NG. "Não há assuntos que sejam tabu. Mas o nosso entendimento é que essa é uma conversa em que os dados estão sobre a mesa, que envolve uma decisão pelo lado brasileiro, e que em algum momento essa decisão terá de ser tomada", disse Amorim. O governo brasileiro adiou a decisão para 2013, informou recentemente uma fonte governamental.
Num primeiro momento, o favorito era o avião francês, que chegou a ser proclamado vencedor pelo ex-presidente Lula. Mas a decisão acabou sendo deixada para o governo Dilma, e foi postergada por motivos orçamentários.
O ministro francês também apontou a necessidade de reforçar a cooperação bilateral "na luta contra os narcotraficantes e as rotas do narcotráfico", em especial na fronteira do Brasil com a Guiana e por todo o Caribe.
Visita. Le Drian, que faz sua primeira visita ao Brasil na condição de ministro da Defesa francês, teve no domingo uma reunião a portas fechadas com industriais do setor de defesa, no Rio de Janeiro.
Depois de se reunir com Amorim em Brasília, o ministro francês pretendia ir a Itaguaí, no Rio, onde estão sendo construídos a base naval e o estaleiro em que será montado o primeiro submarino Scorpène francês, dos cinco comprados pelo Brasil num contrato assinado em 2008.
Os outros quatro submarinos serão construídos no Brasil. O último será um submarino com propulsão nuclear, que o Brasil adaptará com tecnologia própria e que o governo brasileiro pretende ter pronto em 2021.
O Brasil, que se impôs como meta relançar uma indústria bélica forte, estabelece em todos os contratos do setor as exigências da transferência de tecnologia e da fabricação nacional dos aparelhos, inclusive com vistas à exportação. E o contrato que desperta o maior interesse, tanto da França, como dos Estados Unidos, é o dos caças.