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Já fomos bastante parecidos

OZIRES SILVA
é engenheiro aeronáutico
e fundador da Embraer

 

Em 1960, os dois países eram típicas nações do mundo subdesenvolvido, atoladas em índices sócio-econômicos bem mais baixos daqueles vistos em países que se distanciavam em progresso e com taxas de analfabetismo bastante altas. Suas economias produziam produtos baratos e primariamente fabricados. Importavam a imensa maioria dos produtos mais sofisticados, dos quais precisavam. Não fabricavam a maioria das máquinas que utilizavam para a produção dos bens essenciais para a sobrevivência do setor produtivo e da própria população.

Na época, a renda per capita coreana era a metade da do Brasil. A Coreia do Sul amargava ainda o trauma de uma guerra civil que deixou mais de 1 milhão de mortos e sua economia estava em ruínas. Hoje, passados 52 anos, um abismo separa o Brasil da Coreia. O país da Ásia exibe uma economia ativa e capaz de triplicar de tamanho a cada década. Sua renda per capita cresceu 19 vezes desde os anos 60, e a sociedade atingiu um patamar de bem-estar invejável. Os coreanos praticamente erradicaram o analfabetismo e colocaram 82% dos jovens na universidade. Já o Brasil mantém 13% de sua população na escuridão do analfabetismo e tem apenas 18% dos estudantes no ensino superior. Sua renda per capita é hoje menos da metade da coreana. Em suma, o Brasil ficou para trás.

Por que isso aconteceu? Todos os analistas são unânimes. A diferença veio do investimento ininterrupto, eficiente, objetivo e maciço na educação da população. Enquanto os asiáticos despejavam dinheiro nas escolas públicas de ensino fundamental e médio, sistemática e obstinadamente, o Brasil, sem projetos de longo prazo, aplicava os recursos para a área educacional de acordo com a preferência dos governos politicamente orientados para outros projetos, muitos deles mirabolantes, que viraram fumaça. Ou seja, gastava-se preciosa munição atirando para todos os lados sem acertar alvo nenhum.

Seria um equívoco imaginar que a experiência da Coreia possa ser integralmente transplantada para o Brasil. Como a maior parte das sociedades orientais, a coreana exibe um sentido de hierarquia e obsessão pela prioridade que não encontra paralelo entre nós, brasileiros. Ela também é muito mais homogênea cultural e etnicamente, não só em razão de a Coreia ser uma nação pequena, como também pelo fato de o país não ter recebido milhões de imigrantes das mais diversas partes do mundo -ao contrário do nosso país, que exibe um território vasto e é um cadinho de culturas e etnias. Mas, mesmo com nossas diferenças, é possível extrair lições.

Entre todas as políticas adotadas pela Coreia nos anos 60 para aumentar seus índices educacionais, uma, de natureza simples, colheu efeito excepcional: o investimento público concentrou-se no ensino fundamental, e ficou a cargo da iniciativa privada cuidar da proliferação do ensino superior. Isto, sob certos aspectos, ocorre conosco, pois 75% dos nossos jovens universitários estão matriculados em instituições privadas. Mas há uma diferença importante: nossos alunos das escolas oficiais nada pagam e os das escolas privadas cobrem todos os custos, inclusive tributários, como se escola fosse uma típica empresa produtiva.

Segundo um exame internacional feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, para avaliar o rendimento escolar em 40 países, a Coreia revelou ter o sistema mais igualitário de todos, com pouquíssima diferença no resultado dos alunos. O detalhe positivo: a esmagadora maioria vai bem. No ranking, o país alcançou o terceiro lugar em matemática e o quarto em ciências, enquanto o Brasil ficou, respectivamente, com a última e a penúltima colocações nas duas matérias.

Por trás das notas, há um aspecto fundamental. A Coreia não apenas investe mais em educação que o Brasil (6,8%, contra 5,2% em relação ao PIB), como também continua a fazer uso mais eficiente do dinheiro. Os coreanos gastam duas vezes mais na formação de um universitário que na de um aluno de ensino fundamental, o que é uma proporção equilibrada para padrões internacionais. No Brasil, um universitário custa dezessete vezes mais.

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