Alan Rodrigues
Na última semana, um suposto esquema bilionário de corrupção envolvendo o nome do ex-ministro da Defesa brasileira Nelson Jobim e políticos italianos ganhou destaque na imprensa europeia. De acordo com a denúncia, Jobim seria o elo entre o ex-ministro de Desenvolvimento Econômico da Itália, no governo de Silvio Berlusconi, Claudio Scajola, e o governo brasileiro na compra de 11 embarcações para a Marinha do Brasil – cinco fragatas, cinco escoltas e um supernavio de apoio. Ainda segundo a acusação, as cifras do negócio poderiam chegar a 5 bilhões de euros. Aproximadamente 11% desse valor seria destinado a Scajola, Massimo Nicolucci (porta-voz do ministro) e Jobim, conforme publicaram na quinta-feira 25 os jornais “Corriere della Sera” e “La Repubblica”. Scajola não nega que trabalhou para viabilizar o negócio e tampouco que conhecia o ministro Jobim. “É verdade que encontrei três vezes o ministro da Defesa Jobim. Na Itália, havia crise e tentei vender as embarcações. Era meu dever ajudar o estaleiro Fincantieri”, afirmou Scajola.
A investigação, que está a cargo do Ministério Público da cidade de Nápoles, chegou ao nome de Nelson Jobim depois do interrogatório de Lorenzo Borgoni, o antigo responsável pelas relações institucionais da empresa Finmeccanica. No depoimento, Borgoni falou sobre uma possível amizade entre Jobim e Scajola. “O canal entre a Itália e o Brasil era o ministro Scajola, que tinha uma boa relação com o então ministro da Defesa Nelson Jobim”, disse Borgoni. Documentos em poder dos promotores italianos, segundo a imprensa daquele país, afirmam que a propina seria paga por meio de um contrato estipulado com uma agência no Brasil e entregue a um empregado que fosse indicado pelo ministro Jobim. No entanto, o negócio não prosperou. Nos bastidores da política italiana, comenta-se que as tratativas entre os dois governos não foram para a frente depois do rumoroso caso envolvendo Cesare Battisti, o ex-guerrilheiro italiano exilado no Brasil.
Político com trânsito fácil pela Esplanada dos Ministérios, Nelson Jobim já ocupou os cargos de ministro da Justiça, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, chefe da pasta da Defesa nas administrações de Lula e Dilma e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal. Ele nega as acusações. “Nunca chegamos a falar de um tema como esse que na Itália definiram de ‘comissão’. O projeto ProSuper, que previa a aquisição por parte da Marinha brasileira de uma fragata com a transferência de tecnologia, além de navios de logística e transporte de combustível, foi cancelado”, explicou o ex-ministro. Jobim, no entanto, não nega ter estado em pelo menos duas oportunidades com Scajola.