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Guerra civil na Síria chega ao Líbano e confrontos sectários deixam 10 mortos

Jamil Chade


A guerra na Síria chegou ao Líbano e a ONU alerta que mais de 100 mil sírios aguardam registro de refugiados nas cidades libanesas, aumentando a tensão e desmontando a frágil estabilidade do país, que ontem viveu mais um dia de confrontos. Em Trípoli, 10 pessoas morreram e 65 ficaram feridas em choques entre sunitas e alauitas. O Exército foi chamado para garantir um cessar-fogo após 48 horas de intensa troca de disparos.

Em Beirute, tropas passaram a controlar as ruas da cidade depois que grupos armados se enfrentaram no domingo. Atensão agravou-se após a explosão de uma bomba, na sexta-feira, que matou Wissam al-Hassan, chefe do serviço de inteligência do Líbano, que se opunha à influência síria no país. Grupos políticos acusaram Damasco pelo ataque.

A violência causou a renúncia do gabinete do primeiro-ministro Najib Mikati, formado em sua maioria por simpatizantes de Bashar Assad. Em meio à tensão, a ONU admitiu ontem que está preocupada com o impacto que um grande contingente de sírios teria dentro do Líbano.

Cenários traçados pela ONU apontam que a tensão deve se aprofundar em razão do aumento no preço dos alimentos, de combustível e da disputa por vagas em escolas e hospitais. Outro temor é o de que ocorra uma caça a opositores que tenham fugido da Síria para o Líbano.

Nos últimos dias, o órgão vem registrando uma violência cada vez maior na fronteira entre os dois países. Oficialmente, 100 mil pessoas aguardam para ser registradas e atendidas pela ONU, que acredita que o número de sírios vivendo no Líbano cresça nos próximos dias.

“A situação na Síria é crítica e estamos vendo países vizinhos, como o Líbano, sendo afetados diretamente”, disse Melissa Fleming, porta-voz do Alto-Comissariado da ONU para Refugiados. Segundo ela, o organismo suspendeu as operações de ajuda aos sírios no Líbano em razão da violência.

Duas opções de rota de fuga – para o norte, na direção da Turquia, e para o sul, na direção da Jordânia –j á não são mais viáveis e a saída mais fácil de Damasco é
o Líbano, cuja fronteira fica a poucos quilômetros.

Assim, em poucas semanas, o fluxo de refugiados para o Líbano já se equiparou ao contingente de refugiados que chegou à Turquia, até agora o principal destino dos sírios.

O serviço de atendimento humanitário da ONU já se prepara para uma operação de longa duração no Líbano, temendo que a crise síria faça implodir a frágil estabilidade libanesa.

“O governo libanês nos garantiu que adotará uma posição de neutralidade no que se refere ao conflito na Síria e fará de tudo para evitar ser contaminado pela crise”, explicou ao Estado o diretor de operações do Fundo de Alimentos da ONU no Oriente Médio, Daly Belgasmi. “No entanto, sabemos que a complexidade da sociedade será um fator nesse novo cenário.”

No total, a ONU estima que 358 mil pessoas deixaram a Síria em 18 meses. Até o início de 2013, esse número chegaria a 700 mil. Dentro da Síria, a ONU admite que terá de alimentar 1,5 milhão de pessoas pelo menos até junho do ano que vem.

Num sinal de total desespero, quase 50 mil iraquianos que fugiram da guerra nos últimos anos, e viviam em Damasco, já abandonaram a Síria e estão de volta ao Iraque.

Alternativas. A ONU também fez um apelo para que os governos europeus abram suas fronteiras para refugiados sírios, já que países como Líbano, Turquia e Jordânia enfrentam situações críticas para atender a população que tenta escapar da guerra. Até agosto, 16 mil sírios tinham solicitado a entrada em países da Europa.

De acordo com a ONU, 90 sírios já pediram oficialmente asilo ao Brasil. Por enquanto, o governo brasileiro concedeu status de refugiado a apenas 34 pessoas.

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