Enrique Marcarian
Os protestos de oficiais das guardas Nacional e Costeira da Argentina ocorridos em todo o país levaram à troca da cúpula dos dois órgãos, cuja aposentadoria foi determinada pelo governo federal. Os manifestantes saíram às ruas após a entrada em vigor de um decreto assinado pela presidente Cristina Kirchner, extinguindo benefícios que permitiam a integrantes das duas corporações receber valores acima do teto, mas que, segundo os oficiais, levou a cortes nos salários. O governo acabou por suspender a legislação.
Os manifestantes da Guarda Costeira iniciaram os protestos na terça-feira, quando receberam os salários de setembro e constataram, segundo eles, perdas entre 40% e 70%. Em seguida, ganharam o apoio de integrantes da Guarda Nacional. Na capital, Buenos Aires, os atos contaram com a adesão de oficiais da Marinha e de policiais da província.
Diante do panorama, os chefes da Guarda Nacional, Héctor Bernabé Schone, e da Guarda Costeira, Oscar Adolfo Arce, colocaram seus cargos à disposição do governo. A Casa Rosada respondeu com a troca de todo o comando dos órgãos, com Enrique Sach assumindo o posto de Schone, e Luis Alberto Heiler, o de Arce.
– Com isso, está normalizada a situação nas duas forças – limitou-se a dizer a ministra de Segurança argentina, Nilda Garré, depois de comunicar os novos nomes.
Mais cedo, Nilda acompanhou o chefe de gabinete do governo Kirchner, Juan Manuel Abal Medina, no anúncio de que os oficiais cujos salários chegam a 12.500 pesos (cerca de R$ 5 mil) receberão o mesmo que em agosto. Abal Medina culpou as chefias das guardas Nacional e Costeira pelos transtornos:
– A aplicação do decreto foi desastrosa. Não sabemos se foi um problema administrativo. Temos suspeitas de que os de baixo estão sendo usados como massa de manobra para quem quer manter seus privilégios.
Os oficiais cujos salários vão até 12.500 pesos representam 90% da Guarda Costeira. O Ministério de Segurança informou que passará a fazer os pagamentos desta força e da Guarda Nacional, procedimento até então nas mãos das próprias corporações.
À noite, manifestantes reunidos em frente ao edifício Centinela, em Buenos Aires, sede da Guarda Nacional, expressavam opiniões diferentes sobre o movimento. Para uns, as mudanças no comando das corporações "melhorariam a situação". Outros, no entanto, afirmaram que os protestos continuariam até a publicação de um novo decreto.