O virtual futuro líder chinês, Xi Jinping, chamou na quarta-feira de "farsa" a compra pelo governo japonês de ilhas disputadas entre os dois países, motivo de protestos antinipônicos nos últimos dias.
"O Japão deveria moderar seu comportamento e interromper quaisquer palavras e atos que abalem a soberania e a integridade territorial da China", disse Xi em reunião com o secretário americano de Defesa, Leon Panetta, segundo relato da agência de notícias estatal chinesa Xinhua.
As relações entre as duas maiores economias da Ásia atravessam sua pior fase nas últimas décadas. Grandes manifestações têm ocorrido nesta semana na China – aniversário da ocupação japonesa de 1931 -, e os dois países mobilizaram forças navais no mar do Leste da China, em torno de um grupo de ilhas que o Japão chama de Senkaku, e a China, de Diaoyu. Xi é amplamente apontado para suceder Hu Jintao no comando do Partido Comunista a partir de outubro.
O governo do Japão decidiu nacionalizar as ilhas desabitadas, que estavam em mãos de um proprietário japonês, depois que o governador nacionalista de Tóquio, Shintaro Ishihara, ameaçou adquiri-las, o que poderia motivar uma crise ainda maior. "Se o Japão ceder à China nesse problema (…), a hegemonia da China nas águas asiáticas ficaria facilmente estabelecida", disse Ishihara à Assembleia Metropolitana de Tóquio.
Por causa dos protestos, empresas japonesas fecharam centenas de lojas e fábricas na China, e algumas retiraram funcionários japoneses. A embaixada do Japão em Pequim chegou a ficar sob cerco dos manifestantes, mas na quarta-feira o protesto já havia terminado – um manifestante solitário, que gritava "derrotem o Japãozinho", foi retirado de manhã pela polícia.
Para evitar novas manifestações, um grande contingente da tropa de choque da polícia chinesa está em torno da embaixada, e o metrô fechou a estação mais próxima.
Na terça-feira, cerca de 50 manifestantes chineses cercaram e danificaram um carro onde estava o embaixador dos EUA, Gary Locke, segundo um porta-voz dele. O incidente aconteceu em frente à embaixada norte-americana, que é próxima da japonesa. O porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei, disse que se tratou de "um caso individual", que será investigado.
Também na terça-feira, houve protestos inflamados em outras grandes cidades chinesas, inclusive Xangai. Os protestos têm apoio tácito do governo, mas Pequim teme que eles escapem ao controle. Um jornal de Hong Kong disse que alguns manifestantes em Shenzhen (sul) foram detidos ao gritarem palavras de ordem por democracia e direitos humanos.
A terça-feira foi especialmente significativa por marcar os 81 anos do início da ocupação japonesa em partes da China continental. As relações sino-japonesas há décadas estão assombradas pela agressão militar das décadas de 1930 e 40, e por rivalidades contemporâneas na disputa por recursos. Acredita-se que haja grandes reservas de gás em torno das ilhas disputadas.