Abdré Luís Woloszyn
Analista de Assuntos estratégicos
O filme “Innocense of Musilims”, sobre a vida do profeta Maomé, criação do norte americano Sam Bacile, pode ser considerado como um verdadeiro presente para grupos extremistas, especialmente para a Al Qaeda, que passa por uma crise de identidade, com a diminuição de efetivos, perda de influência e redução no apoio e financiamento para suas ações. Era o ingrediente que faltava após diversos episódios de certa forma provocativos como a queima de exemplares do Alcorão em uma base dos EUA no Afeganistão em fevereiro deste ano, o que o resultou em violentas manifestações anti-americanas envolvendo milhares de pessoas com dezenas de mortos e feridos em diversas regiões do planeta.
E não foram os únicos. Em 2005, situação semelhante havia ocorrido quando da publicação de uma caricatura em um jornal dinamarquês a qual que satirizava o profeta. Foi considerada blasfêmia, e causou violentos protestos com incidentes diplomáticos, culminando na destruição por incêndio das embaixadas da Dinamarca e da Noruega na Síria e em Beirute. O mesmo aconteceu com a publicação do romance Versos Satânicos, do escritor indiano Salman Rushdie em 1989, condenado a morte no Irã pelo aiatolá Khomeini pelas ofensas a religião muçulmana.
Agora, um novo ingrediente vem desestabilizar mais uma vez as já conflituosas relações. O filme, acabou colocando os EUA em uma situação extremamente delicada por conta de seus envolvimentos políticos e belicistas no Oriente Médio. A soma destes dois episódios, protagonizados por norte americanos, embora isolados e sem uma conexão governamental, vem ao encontro da filosofia que vem sendo apregoada por grupos radicais a décadas sobre o desejo dos EUA em erradicar a religião e a cultura islâmica por meio da dominação militar e apoio a governos alinhados ao Ocidente. Aproveitando-se e ao mesmo tempo fomentando sentimentos de indignação e menosprezo, a Al Qaeda estrategicamente chama a atenção para si na tentativa de se legitimar na defesa do mundo islâmico contra o que chegou a caracterizar como uma declaração de guerra.
O resultado, lamentavelmente, é a onda de violência contra representações diplomáticas e ataques especialmente a cidadãos norte americanos, situação que tende a recrudescer além de fomentar o antigo sentimento anti-americano na maioria dos países islâmicos. E o pior dos cenários é o de que a situação acabe justificando futuros ataques terroristas, a pretexto de retaliação ou vingança, desta vez, contando com o apoio de milhares de pessoas em todo o mundo, mesmo que de forma velada.
“Innocense of Musilims”, um filme aparentemente grotesco que beira a comédia funcionou como um explosivo TNT, desencadeando uma gama de sentimentos reprimidos de fúria e ódio difíceis de se controlar e com resultados imprevisíveis. Ao que parece, por sorte ou golpe do destino, a Al Qaeda acabou se beneficiando e entra novamente no cenário internacional após um período de ostracismo, de forma revigorada, com diferentes perspectivas. E para os EUA, como na obra do Seal, Mark Owen, que descreve a operação militar que matou Osama Bin Laden, “Não Haverá Dia Fácil” até que os ânimos sejam pacificados novamente