O presidente colombiano Juan Manuel Santos insistiu em que as negociações de paz que terão início em outubro com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) devem basear-se em fatos realistas e descartou um cessar-fogo até que seja concluído o processo.
O presidente rechaçou a reivindicação das FARC, que pediram um cessar-fogo no início das conversações no próximo dia 8 de outubro, em Oslo, argumentando “que se eles o fizerem, depois exigirão que nós o façamos”.
“É normal, mas não é viável, não é a realidade. Eles podem solicitar o que quiserem, mas daí a aceitarmos há um longo caminho”, acrescentou.
O governante deu essas declarações em várias entrevistas e as reiterou depois de uma reunião com pelo menos 50 generais do Exército, Força Aérea e almirantes da Marinha, no forte de Tolemaida (sudoeste de Bogotá), onde treinam as forças especiais.
“Deve ser uma mesa séria, realista e eficaz. Se ouvirmos propostas que não forem realistas, o processo então não será eficaz”, disse Santos após o encontro com os altos comandos.
Ele acrescentou que pediu aos militares “para intensificarem suas ações. Não haverá qualquer tipo de cessar-fogo, aqui não acontecerá nada até que cheguemos ao acordo final, que isso fique muito claro”, advertiu.
“Como uma conversa requer dois, se não houver avanços nós simplesmente nos levantaremos e tudo continuará igual. Não cairemos na armadilha de prorrogar indefinidamente as negociações. Se houver vontade, realmente acredito que poderemos chegar a acordos em meses”, acrescentou.
Santos também advertiu que na mesa de negociação estarão apenas as FARC e o governo como representante do Estado, porque “essa é uma negociação direta, sem intermediários, sem mediadores”.
Em contrapartida, Santos reconheceu a afirmação dos porta-vozes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em Havana, de que o grupo encerrou os sequestros.
“Eles disseram que não voltaram a sequestrar e isso foi repetido em numerosas ocasiões e a verdade é que não tive informações da inteligência militar no passado recente sobre sequestros por parte das FARC”, lembrou.
A declaração das FARC no dia 6 de setembro causou a indignação dos familiares dos sequestrados que dizem estar em poder dessa organização insurgente e que, por sua vez, pediram um lugar na mesa de negociação.
Clara Rojas, diretora da ONG País Libre, que presta assistência aos familiares dos sequestrados, expressou seu “desconcerto” com a declaração.
“Quase me deixou sem palavras. Essa não é uma resposta para todos esses familiares. Confio em uma reconsideração. Pode ser que seus comandantes não estejam dizendo toda a verdade”, disse Rojas, ela mesma sequestrada em 2002 junto com a ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt e libertada em 2008.