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Para analista, republicanos querem Brasil mais “firme” contra Chávez

Pablo Uchoa


Altamente focada em temas de segurança, a plataforma de política externa do Partido Republicano para a América Latina deixa de mencionar o Brasil – o que para analistas ouvidos pela BBC Brasil é um bom sinal, indicando que o relacionamento entre os dois países passa por temas menos ideológicos e mais pragmáticos.

Desde a passagem da presidente Dilma Rousseff pelos EUA, em abril, retribuindo uma visita feita um ano antes pelo seu colega americano, Barack Obama, as relações bilaterais entraram em uma fase dourada e cheia de notícias positivas.

Se antes o que marcava o noticiário sobre a relação Brasil-EUA eram as divergências sobre o Irã, o trato com a China e as rodadas de liberalização do comércio mundial, hoje a ênfase é nas cooperações na área comercial, educacional, tecnológica, de inovação e transparência governamental, entre outras.

Entretanto, em um eventual governo republicano, um "ruído" nessa relação poderia vir em relação ao papel de "moderador" assumido pelo Brasil na região.

Ao dizer que a Venezuela do presidente Hugo Chávez "representa uma ameaça crescente" para os EUA, o programa dá a entender que os republicanos não estão satisfeitos com a "contenção" de atores mais radicais do continente – um papel que o Brasil tem se atribuído na última década e meia.

"A Venezuela representa uma ameaça que piorou sob os olhos do atual presidente", acusa, em palavras duras, o relatório elaborado por um grupo de trabalho divulgado erroneamente pelo partido mas preservado pelo site americano Politico.com.

"Vamos apoiar as verdadeiras democracias da região tanto contra a subversão marxista quanto os chefes do tráfico, ajudando-as a se tornar alternativas prósperas ao modelo em colapso da Venezuela e de Cuba."

Contraponto

A crítica mais clara é contra Obama, mas analistas apontam que o tema diz respeito ao Brasil, cujo governo moderado de esquerda é comumente apontado como contraponto ao modelo mais radical chavista.

"Vejo o Brasil cumprindo um papel muito efetivo em relação ao Chávez. Chávez poderia ter sido muito mais selvagem do que foi, mas houve vozes na região que o acalmaram. Uma delas foi a do ex-presidente Lula", disse a especialista da Iniciativa para a América Latina, do Instituto Brookings, Diana Negroponte.

Com opinião divergente, o consultor e ex-assessor do governo de George W. Bush José Cárdenas acredita que o Brasil "tem deixado Chávez roubar a cena".

"Quando converso com autoridades em Washington, minha avaliação é de que há um desejo de que o Brasil seja mais firme ao se apresentar como um equilíbrio a Chávez", disse o especialista. "Hoje sabemos que Chávez está doente. Não sabemos o que o futuro nos reserva."

Em determinado trecho de seu programa para a América Latina, os republicanos dizem que pretendem corrigir uma suposta "negligência" do governo Obama com a América Latina com ações para "criar um clima favorável à democracia e à autodeterminação nas Américas".

Cárdenas defende que os governos de EUA, Brasil, México e Colômbia criem um fórum para discutir, em nível oficial "as questões de segurança" que afligem o hemisfério de norte a sul.

Mas ele admite que, apesar da ressalva feita à "autodeterminação" dos países, a simples menção a uma maior intervenção americana no continente soa os alarmes de muitos líderes ainda desconfiados de Washington e seu passado de intervenções no continente.

"Os Estados Unidos têm o grande desafio de convencer as autoridades brasileiras de que isto não seria uma ameaça à soberania e à liderança brasileira na região", ele diz.

"Será preciso uma mudança de cultura e a superação de uma desconfiança histórica de muitos setores no Brasil, mas isto vem com uma liderança forte. Depende se os líderes serão capazes de passar esta mensagem por meio das burocracias dos seus governos."

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