O anúncio de que o governo da Colômbia e as Farc caminham para iniciar negociações é fato auspicioso, mas que exige cautela. Não só porque duas tentativas anteriores fracassaram – em 1984 e em 1998 – como, alerte-se, a narcoguerrilha costuma intensificar as ações terroristas para pressionar as conversações. Mas, agora, os fatos parecem conspirar a favor. O atual presidente, Juan Manuel Santos, quando ocupou a pasta da Defesa no governo do antecessor, Alvaro Uribe, foi o executor da política de linha dura do Estado colombiano contra as Farc, bem-sucedida na tarefa de empurrar a guerrilha para redutos afastados e combater os sequestros utilizados como fonte de financiamento.
A pressão militar conduzida por Uribe e Santos, com total apoio dos EUA, foi responsável pelo encolhimento da guerrilha dos 17 mil homens que chegou a ter nos anos 90 para 8 mil hoje. Ações audaciosas mataram os principais líderes, como Raúl Reyes, num esconderijo no Equador, Alfonso Cano e Mono Jojoy, este a principal ligação do grupo com narcotraficantes. O líder histórico, Manuel Marulanda, morreu de causas naturais em 2008.
As ações desta e de outras guerrilhas esquerdistas, somadas à atuação do grupo paramilitar direitista Autodefesa Unidas da Colômbia (AUC), levaram a Colômbia ao caos nas décadas de 80 e 90. As Farc chegaram a ocupar uma área de 42 mil quilômetros quadrados, cedida pelo presidente Pastrana em 1998 para possibilitar negociações de paz, e posteriormente retomada. Em fevereiro de 2002, as Farc fizeram o sequestro mais audacioso, o da candidata presidencial Ingrid Betancourt, que passou seis anos no cativeiro.
Desde que assumiu, há dois anos, Santos manifestou interesse em iniciar negociações. Em março, o atual líder, Timoleón Jiménez, o "Timochenko", disse que era "preciso quebrar o círculo vicioso e apostar na paz". Recentemente, as Farc abandonaram a prática de sequestros.
Uribe, hoje em posição política diferente da de Santos, criticou o ex-aliado por supostamente desejar a "paz a qualquer custo". Mas é certo que as negociações, se vierem mesmo a ser retomadas, só se tornaram possíveis pela ação firme de Uribe. Santos, cuja reeleição ganhará enorme impulso caso a paz seja alcançada, fixou premissas para as conversações: aprender com os erros do passado (os fracassos em 1984 e 1998); manter a pressão militar enquanto se negocia (não ceder território à guerrilha); e levar ao fim definitivo do conflito. Há que se definir ainda a libertação dos sequestrados remanescentes, o desarmamento dos guerrilheiros e sua reabsorção pela sociedade colombiana.
Não fosse qualquer acordo de paz desejável em si mesmo, a pacificação permitirá um combate mais efetivo ao tráfico de drogas. Ficará mais difícil a Venezuela fazer vista grossa à atuação de narcoguerrilheiros no seu território.