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A mensagem do Irã ao mundo

Thomas Erdbrink
NYT


À entrada do salão de convenções onde o Irã está patrocinando uma reunião de cúpula internacional estão os destroços de três carros guiados por cientistas nucleares iranianos mortos ou feridos em atentados a bomba. Cartazes com as fotos dos cientistas e seus filhos estão expostos ao lado.

A mensagem é clara. No momento em que o Irã recebe a maior conferência internacional que a república islâmica organiza em seus 33 anos de história, quer contar seu lado do longo impasse com as potências ocidentais, cada vez mais convencidas de que Teerã quer produzir armas de destruição em massa.

Teerã, que nega buscar a bomba, acredita que os cientistas foram mortos por agentes israelenses, uma afirmação que Israel não admitiu, mas nunca refutou completamente. Por enquanto, a reunião do chamado Movimento dos Países Não Alinhados, grupo constituído durante a Guerra Fria que se considera independente das grandes potências, tem se mostrado uma espécie de sucesso de relações públicas para o Irã.

Na semana passada, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, decidiu participar do encontro a despeito das pressões contrárias de Israel e EUA. O novo presidente do Egito também disse que iria à conferência, apesar da antiga hostilidade entre os dois países, e o primeiro-ministro da Índia pretende levar uma delegação de 250 pessoas na tentativa de promover um aumento do comércio com Teerã.

Os anúncios foram considerados revezes para os esforços dos EUA para isolar o Irã e submetê-lo mediante sanções. "Dois terços dos países do mundo estão aqui em Teerã", disse Mohammad Khazaee, embaixador do Irã na ONU a jornalistas no domingo. "Essa conferência será produtiva para nós." O premiê iraniano Ali Akbar Salehi abriu as sessões iniciais da cúpula no domingo com um pedido aos 120 países do movimento se oporem às sanções impostas a seu país e pediu-lhes para se posicionarem contra o terrorismo, dizendo que o Irã é a maior vítima de ataques terroristas do mundo.

Uma exposição no hall da convenção fazia eco a suas declarações, incluindo fotos de vítimas do que o Irã qualificou de atentados a bomba da oposição nos anos 1980, pouco depois da Revolução Islâmica, e a derrubada de um jato de passageiros iraniano por um míssil disparado de um navio da Marinha dos EUA, em 1988, no que autoridades americanas dizem que foi um acidente. Ele disse também que os EUA haviam "explorado" os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 para promover seus "objetivos hegemônicos".

Tendo em vista esse histórico, o Irã diz que decidiu não correr riscos e lançou uma ampla operação de segurança. Mais de 110 mil agentes de segurança estão controlando as ruas, segundo relatou o vice-comandante nacional de polícia, Ahmad Radam, à agência de notícias Fars durante o fim de semana. Eles são apoiados por 30 helicópteros e quase 3 mil carros patrulha. Há bloqueios em todas as estradas que levam a Teerã, e, de noite, postos de inspeção por toda a cidade.

"Apesar das intenções malévolas de nossos inimigos, nosso serviço secreto tomou todas as precauções necessárias para tornar a reunião de não alinhados um ambiente absolutamente seguro", disse o ministro da inteligência do Irã, Haydare Mosheli, à agência de notícias estatal Irna. Mas a rígida segurança pode ter outro objetivo: garantir que a narrativa do Irã não seja prejudicada por suas dificuldades políticas internas três anos depois de o país ser convulsionado por manifestações antigoverno instigadas por uma eleição contestada, manifestações que foram reprimidas com extrema violência. Sites de oposição com base no exterior pediram novas manifestações contra o governo durante a cúpula.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, deve fazer um pronunciamento na conferência esta semana. E num esforço para provar que seu programa nuclear é pacífico, o Irã está oferecendo tours especiais a alguns de seus sítios nucleares. Como a maioria dos países que têm uma chance de exposição mundial – vide a Olimpíada de Londres – o Irã está se esforçando para mostrar sua melhor face.

Um exército de jardineiros e limpadores de rua esteve embelezando as principais vias públicas. Um cartaz diz: "O Movimento Não Alinhado representa a luta contra racismo, colonialismo hegemonia e opressão estrangeira". Flutuando acima da principal praça da cidade, a Haft-e-Tir, um balão exibia a mensagem "Irã, uma nação pacífica e cordial". O governo chegou a tomar uma medida incomum de subsidiar viagens de moradores de Teerã para fora da cidade, para desobstruir as sempre congestionadas ruas da capital.

Apesar das mazelas econômicas causadas pelas sanções recentes, o governo ofereceu aos possuidores de cartões de subsídio de combustível 30 litros extra de gasolina a preços reduzidos para eles poderem sair da cidade. Os 12 milhões de habitantes de Teerã também desfrutarão de um feriado oficial durante os cinco dias de conferência.

A televisão estatal apresentou o encontro como um "ponto de virada" após o qual a importância do Irã aumentará. O vice-presidente para assuntos internacionais, Ali Sa'idloo, disse à televisão estatal que a mídia "sionista" estava censurando notícias sobre o evento por ele ser muito positivo. Muitos iranianos se disseram impressionados com as pinturas frescas em alguns prédios. Mas numa indicação dos contratempos econômicos do país, alguns se mostraram contrários ao feriado de cinco dias. "Eu preciso de dinheiro, por isso preciso trabalhar, mas agora vamos ter de ficar em casa", disse Ali Kamali, um encadernador.

Para a maioria das autoridades linha-dura do Irã, essas sugestões foram irreais. Elas saudaram a cúpula como um sinal de que o fim da dominação ocidental está próximo. "Eleger o Irã como líder do Movimento de Países Não Alinhados mostra que uma resistência global contra os EUA e os sionistas tomou forma", disse Mohammad Reza Naghdi, comandante de um grupo paramilitar, à agência oficial Fars. "É melhor os EUA desistirem, já que isso é mais um sinal de seu colapso." Está claro que a conferência está ajudando o Irã a enviar a sua mensagem. /TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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