FERNANDO DANTAS / RIO
Não é só no futebol que o México vem superando o Brasil. O país passa por um bom momento econômico, e diversos analistas consideram que a economia mexicana tornou-se a principal estrela da América Latina, suplantando o Brasil. No mercado de ações, enquanto o IPC mexicano valorizou-se 9,36% em 2012 e 19,08% nos últimos 12 meses, o Ibovespa ficou para trás, com 4,1% e 11,2%, respectivamente.
O PIB mexicano cresceu 3,9% em 2011, comparado aos 2,7% do Brasil. Mas foram nos últimos trimestres que o contraste entre as duas economias ficou mais evidente. O México vem crescendo a um ritmo trimestral de 4% ou mais desde o segundo semestre do ano passado, enquanto o Brasil desacelerou a partir de um nível bem inferior: a expansão caiu de 2,1% no terceiro trimestre de 2011 para 0,8% no primeiro trimestre deste ano.
A diferença é particularmente forte no setor industrial, a área mais vulnerável da economia brasileira recentemente. O Brasil teve taxas negativas para a produção industrial nos últimos três trimestres, enquanto no México o segmento cresceu a um ritmo próximo de 5%.
Jim O"Neill, presidente do Goldman Sachs Asset Management e criador do termo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), diz que, no início deste ano, ele considerava que a tese de que o México tinha superado o Brasil na preferência do investidor era "muito lógica" por duas razões.
A primeira é que a economia brasileira ficou tão na moda que qualquer notícia de desaceleração deixaria os investidores desapontados. A segunda razão é que a China desacelerou ao mesmo tempo em que os salários chineses subiram. Essa combinação é boa para economias que competem com a China em manufaturados – como o México -, mas ruim para as que vendem commodities ao país, como o Brasil.
"Não é tão bom para países que se beneficiaram tanto da "velha China", incluindo o Brasil", diz O"Neill. A referência à "velha China" está ligada à convicção de que o país asiático está fazendo o ajuste na direção de uma economia mais voltada ao consumo interno, e menos dependente do modelo exportador e de investimentos maciços (que puxam a demanda por matérias-primas minerais, como o minério de ferro exportado pelo Brasil).
Refletindo a maré de otimismo com o México, o grupo financeiro Nomura previu em julho que a economia mexicana, crescendo a uma média de 3,5% a 4,5%, iria ultrapassar a brasileira num prazo de dez anos.
Diversos fatores contribuem para estimular as apostas no México, como observa o economista João Pedro Buchamar Resende, do Itaú-BBA. Ele nota que, a partir de 2008, a imagem do México foi muito prejudicada, especialmente pelo fato de o país ter sido duramente atingido pela grande crise global, com uma queda de 6,3% do PIB em 2009 (comparada a um recuo bem menor, de 0,3%, do Brasil).
A visão era de que o México era muito dependente das exportações para os EUA, que estavam no epicentro da crise. Além disso, a violência crescente dos cartéis das drogas dava a impressão de que havia um descontrole sociopolítico no México.
"O fato é que a violência não teve um impacto na economia forte o suficiente para afetar o investimento ou o consumo", diz Resende. Além disso, com a recuperação, ainda que tímida, dos Estados Unidos, as exportações mexicanas para o vizinho do Norte se recuperaram, e inclusive ganharam market share.
Um fator decisivo para a melhora mexicana foi o ganho de competitividade na indústria em relação aos rivais asiáticos. No pós-crise, com a desvalorização do peso e a própria contenção salarial em decorrência do mau desempenho da economia, o custo do trabalho mexicano ficou contido.
Segundo relatório de julho do banco suíço UBS, "em 2006, o trabalhador médio brasileiro ganhava mais ou menos o mesmo que o seu equivalente mexicano; hoje, ele ou ela (do Brasil) é 80% mais caro". O custo foi calculado em dólares.
Também contribuiu para aumentar a atratividade do México para os investidores internacionais a vitória de Enrique Peña Nieto nas eleições presidenciais de julho. Como explica Resende, do Itaú-BBA, o novo presidente, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), comprometeu-se com reformas nos setores energético, tributário e trabalhista. O PRI, que governou o México por 71 anos, era na verdade um dos obstáculos às reformas desde que saiu do poder, em 2000.
Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da gestora de recursos Mauá Sekular Investimentos, alerta que os modismos de países são muito cíclicos. Ele lembra que o México já foi a estrela da América Latina para o mercado financeiro, status perdido por causa da violência e da dependência da combalida economia americana. "São ondas que afetam mais o investidor de curto prazo. E a gente não pode esquecer que o Brasil ainda está com investimento estrangeiro direto na casa de US$ 60 bilhões a US$ 70 bilhões por ano, enquanto o México está em torno de US$ 20 bilhões."