Israel Blajberg
Diante do Monumento aos Náufragos, no histórico Forte do Imbuhy e 21º Grupo de Artilharia de Campanha, Jurujuba, Niterói – RJ, velhos artilheiros, veteranos da FEB e familiares recordam os tripulantes e passageiros que em agosto de 1942 fizeram sua ultima viagem para jamais retornar, tendo como tumulo os mares verdes do Nordeste.
O drapejar da bandeira nacional tremulando sobre a tropa emite um ruído característico, lembrando um navio que corta as ondas. A mesma bandeira de um pais pacifico e ainda rural, que também pontificava sobre os mercantes Itagiba e Baependy. Ainda assim, foram atacados sem aviso, por uma das mais mortíferas e ultramodernas armas da época, o submarino.
Decorridos 70 anos, apenas um dos náufragos sobreviventes do glorioso 7º. Grupo de Artilharia de Dorso pôde comparecer. O jovem soldado Dalvaro viveu momentos de angustia e sacrifício junto com seus camaradas do 7º Grupo de Artilharia de Dorso (7º GADo), atual 7º Grupo de Artilharia de Campanha, em deslocamento do Rio para Olinda – PE. Filhos e parentes de desaparecidos e sobreviventes também comparecem, para prestar mais uma homenagem a memoria dos entes queridos, inocentes vitimas de uma ideologia equivocada, contra a qual o Brasil iria se levantar em armas, enviando 25 mil dos seus melhores filhos para o Teatro de Operações Europeu, uma façanha que ainda hoje seria admirável.
A cerimonia é singela mas significativa. O Comandante do 21 GAC, Ten Cel LIMA, historia aquela história fantástica, de bravura e desprendimento diante da tragédia. O Comandante da Artilharia Divisionária e Guarnição Federal de Niterói, Gen FAILLACE, presta uma emotiva homenagem, ele que no inicio da década comandou o próprio 7º GAC de Olinda.
As palavras de ordem são respondidas pela tropa em uníssono, trazendo de volta o eco refletido pelas montanhas que circundam o aquartelamento. Jovens soldados, entoam a Canção do Expedicionário, desfilam com garbo, mesmo os recém-incorporados há poucos dias. Jovens com a fibra do soldado brasileiro que doravante o serão, até o dia em que tiverem que deixar o quartel, do qual jamais se esquecerão.
O desfile é magnífico, os pavilhões nacional e os estandartes tremulando ao vento. As baterias com suas flâmulas vão se distanciando e passam ao lado do nicho onde Santa Bárbara inspira e protege os Artilheiros.
O Toque de Silencio corta os ares, enquanto ao longe se ouvem apenas as turbinas dos aviões distantes. Nestes momentos nos perguntamos porque tantos inocentes tiveram que pagar com a própria vida pelos desvarios de um déspota. Mas se nem ao próprio Patriarca Moises o Eterno se permitiu dizer porque seu Povo sofria, também nós, simples mortais, jamais teremos esta resposta.
Os velhos artilheiros recordam pensativos os irmãos de armas não mais aqui presentes e aqueles que não voltaram. Não existe consolo, mas suas almas se elevaram pela certeza de que um mundo melhor passaria a existir.
Seu sacrifício não foi em vão. Derrotadas as tiranias, uma nova era de democracia e liberdade despontou com a Vitória. Três anos depois, uma pesada barragem de fogo da Artilharia da FEB contra as tropas alemãs encerraria a resposta às agressões sofridas pelo Brasil, com a perda de mais de um milhar de preciosas vidas de inocentes, nos torpedeamentos.
A cerimonia vai terminando. Imersos em pensamentos, todos retornam ao mundo do dia-a-dia deixando as recordações do passado… Velhos Artilheiros, cumpriram seu dever, honrando a memória da nossa gente. Simplesmente foram Soldados – do Exercito de Caxias – da Artilharia de Mallet, a bradar o eterno e sagrado comando, que ecoou em Tuiuti, Fornovo di Taro, e agora em Niterói:
Peça, Fogo !!!
Peça Atirou !!!
“ Ma Force d’en Haut “
Minha Força vem do Alto
Brasão d’Armas do Marechal Mallet
Patrono da Artilharia Brasileira