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Caso Pussy Riot simboliza ‘perigoso rumo’ adotado pela Rússia

Daniel Sandford

Foi um protesto que durou menos de um minuto, um julgamento que durou apenas uma quinzena e uma sentença lida em três horas.

Mas o caso da banda de punk russa Pussy Riot está sendo visto por diplomatas ocidentais e grupos de direitos humanos como o símbolo de muitas coisas equivocadas na Rússia, bem como do perigoso rumo autoritário que o país está tomando desde a volta de Vladimir Putin à Presidência, em maio.

O grupo de três jovens artistas ousou fazer o impensável: em fevereiro, elas fizeram uma performance de protesto contra Putin dentro de um dos locais mais sagrados da principal igreja de Moscou, a Catedral de Cristo Salvador.

As três integrantes da banda foram condenadas, na última sexta-feira, a dois anos de prisão, por vandalismo, em sentença que despertou fortes críticas internacionais por sua dureza.

As artistas – Maria Alyokhina, 24, Nadezhda Tolokonnikova, 22, e Yekaterina Samutsevich, 29 – podem ser jovens, tolas e insensíveis aos sentimentos religiosos dos demais, mas grupos como a Anistia Internacional afirmam que de forma alguma isso justifica que todo o poder do aparato oficial russo seja usado contra elas.

Em vez de receber uma multa por ofender a ordem pública, elas foram detidas ao longo de cinco meses antes do julgamento, no qual foram condenadas por ofensa criminal motivada por ódio religioso. Passarão dois anos detida em uma rígida colônia penal russa.

Estado secular
A banda Pussy Riot vinha protestando conta supostos laços entre Putin e a liderança da Igreja Ortodoxa Russa, considerando essa relação constitucionalmente questionável (a Constituição russa diz que o país é secular e que nenhuma religião pode ser abraçada pelo Estado).

Agora, com a condenação das três, grupos de direitos humanos afirmam que a reação estatal ao protesto das três mostra que elas tinham razão em se queixar.

As autoridades da igreja foram alguns dos maiores entusiastas do julgamento da Pussy Riot. Por alguns momentos, as sessões judiciais pareceram quase uma corte religiosa, com as testemunhas sendo questionadas se eram reais praticantes da fé ortodoxa.

Também foram levantadas questões quanto a se o julgamento foi justo. Os advogados de defesa às vezes pareciam desesperados diante do que chamavam de mostras de parcialidade da juíza Marina Syrova. Os advogados poucas vezes puderam questionar testemunhas da acusação, e muitas de suas próprias testemunhas foram vetadas.

Como Putin será afetado?
Por tudo isso, diplomatas ocidentais em Moscou afirmam que o caso Pussy Riot resume o atual estado das coisas na Rússia atual. O Estado russo é visto por críticos como um sistema político em que o Kremlin microgerencia muito além do esperado.

A linha entre o Estado e a Igreja é tênue, e, no sistema legal, promotores e juízes parecem não ter qualquer independência. O governo russo tem sido alvo de fortes críticas internacionais, mas a questão é: o quanto isso afetará Putin?

Em primeiro lugar, muitos russos ficaram realmente chocados com o protesto da Pussy Riot na catedral, e Putin espera conquistar o apoio desse grupo mais conservador.

Segundo, o presidente parece acreditar que a maneira de lidar com a dissidência russa é pressionar os novos opositores, em vez de tratar com eles. Em terceiro lugar, a condenação internacional pode ajudá-lo a ganhar a confiança de partes da sociedade russa que ainda são profundamente desconfiadas do Ocidente.

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