Gustavo Nardon
Agência Defesanet
A Rússia se opôs nesta quarta-feira à saída dos observadores da ONU na Síria após uma bomba ter explodido ontem perto do hotel em Damasco onde os integrantes da missão estão hospedados.
"Apoiamos a continuação do trabalho da missão da ONU na Síria. Não se pode pôr fim à presença da ONU, que é uma importante fonte de informação objetiva no terreno", informou um porta-voz da chancelaria russa à agência Interfax.
A Rússia insiste que a missão das Nações Unidas no país árabe, cujo mandato expira em 19 de agosto, é uma arma contra o conflito entre o exército do regime de Bashar Al-Assad e os rebeldes.
"Nas atuais circunstâncias, a saída da ONU da Síria teria consequências muito negativas, não só para o país, mas para toda a região", disse.
O porta-voz, no entanto, não descartou uma modificação do formato da missão com o aumento das prerrogativas dos observadores para mediar o conflito.
O Conselho de Segurança da ONU realizará hoje consultas sobre uma possível ampliação do mandato da missão. Muitos países são contra um prolongamento da presença dos observadores na Síria.
"É preciso reconhecer que no Conselho de Segurança não existe por enquanto uma postura comum. A adoção da correspondente decisão dependerá dos membros do Conselho chegarem a um consenso", afirmou.
A Rússia também afirmou que não permitirá que as potências ocidentais sabotem o acordo de transição política na Síria estabelecido em Genebra no fim de junho. "Estamos convencidos de que o acordo de Genebra não deve ser sabotado", disse o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, durante uma visita à Bielorrússia.
Lavrov acusou os países ocidentais de fomentar a violência com um apoio aberto à oposição armada e disse que Moscou aguarda uma resposta formal em poucos dias para saber se estas nações apóiam o acordo de transição na Síria. "Tentaremos obter uma resposta deles (os países ocidentais), porque não estão cumprindo", completou.
No dia de junho, as potências ocidentais acordaram um plano de transição na Síria, apoiado pela Rússia. Este prevê um governo de transição integrado por membros do governo e da oposição, mas não pede explicitamente a saída do presidente sírio Bashar al-Assad. Mas para as potências do Ocidente, Assad não tem espaço em um governo de unidade nacional.
Os membros do Grupo de Ação para a Síria (China, Rússia, EUA, França, Reino Unido, Turquia, a Liga Árabe, a ONU e a União Europeia) chegaram a um acordo para a criação de um órgão de transição que integre governo e rebeldes.
Além disso, o chefe da diplomacia russa disse que as potências ocidentais deveriam deixar de incentivar a oposição síria a lutar contra o regime de Assad.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse no sábado que os Estados Unidos e a Turquia estavam analisando todas as medidas para ajudar as forças rebeldes da Síria que estão lutando para derrubar o presidente Bashar al-Assad, incluindo uma zona de exclusão aérea.
Uma zona de exclusão aérea e campanha de bombardeio da Otan ajudaram os rebeldes da Líbia a derrubar Muammar Kadafi no ano passado. Mas os Estados Unidos e seus aliados europeus têm resistido a assumir um papel militar explícito no conflito da Síria, que já dura 17 meses.
O embaixador americano, Francis Ricciardone, disse a jornais locais que questões como a criação de uma zona de exclusão aérea ou uma zona-tampão na Síria eram fáceis de discutir, mas difíceis de concretizar. "Claro que devemos avaliar estas questões. No entanto, as nossas discussões sobre elas com a Turquia não devem sugerir que estamos fazendo compromissos para configurar essas zonas", afirmou Ricciardone, segundo o diário Taraf.
"Há sérios obstáculos jurídicos e práticos sobre isso", afirmou ao jornal. Uma transcrição oficial de seus comentários, que foram publicados por diversas jornais em turco, não estava imediatamente disponível. "Vamos trabalhar sobre os temas de uma fase de transição e de uma zona neutra dentro do Conselho de Segurança da ONU, em conformidade com o direito internacional", disse.
Acredita-se que os rebeldes estejam recebendo armas da Arábia Saudita e Catar, mas apenas ajuda não-letal dos Estados Unidos. /EFE, AFP e Reuters