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SOUTHDEC – Tenente-Brigadeiro-do-Ar Douglas Fraser: “Os desafios que enfrentamos são hemisféricos e globais”

À luz da edição 2012 da Conferência de Defesa da América do Sul (SOUTHDEC), realizada em Bogotá, Colômbia, de 24 a 26 de julho, o Tenente-Brigadeiro-do-Ar Douglas Fraser, comandante do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), respondeu a perguntas de jornalistas colombianos e internacionais que cobriam o evento.

Com sua iminente aposentadoria no final do ano, o Tenente-Brigadeiro-do-Ar Fraser participou da SOUTHDEC 2012 pela última vez como comandante do SOUTHCOM. Diálogo reproduz as considerações por ele feitas durante a entrevista coletiva concedida junto com o General Alejandro Navas, comandante do Exército colombiano.

Em um segundo artigo, a ser divulgado em breve, Diálogo reproduzirá as respostas do General Nava a perguntas tais como o papel da Colômbia na busca pela segurança regional, os desafios que o país enfrenta e seus planos para o futuro.

Qual foi o principal tópico e objetivo da SOUTHDEC 2012? O que o senhor aprendeu com esta interação para uma futura implementação?

Ten Brig Douglas Fraser: Nós nos reunimos para criar um fórum onde discutir a transformação militar, um tópico muito importante, fundamental para o futuro sucesso da cooperação hemisférica e da segurança conjunta. O acelerado progresso da tecnologia, o crescimento exponencial das comunicações através das redes de computadores e sua disponibilização para todo tipo de agentes criaram novas plataformas que precisamos considerar em nossos esforços conjuntos. Essas mesmas plataformas também nos permitem novas oportunidades para melhorar e expandir nossa colaboração e nossa missão, ambos fatores que preocupam toda a região, tais como as operações para compartilhar a responsabilidade do combate ao crime organizado transnacional e apoiar as pessoas afetadas por desastres naturais. Essa conferência permitiu-nos revisitar o conceito da transformação militar em áreas como a segurança cibernética, energia e proteção ambiental. Pudemos discutir os esforços de mudanças com objetivos comuns em áreas de interesse mútuo. Como país anfitrião e participante, a Colômbia está, mais uma vez, dando uma significativa contribuição para a segurança, a cooperação e as parcerias regionais.

Qual a sua opinião sobre a criação de uma nova organização de defesa liderada pela União das Nações Sul-Americanas (UNASUL)?

Ten Brig Douglas Fraser: Acho que o Conselho de Defesa Sul-Americano, como parte da UNASUL, é uma organização muito importante. Ele dá oportunidade a todos os exércitos e ministérios da Defesa da América do Sul de se reunirem e trabalharem em conjunto com um objetivo comum para a segurança e a estabilidade de toda a América do Sul.

Mas acho que é também importante ver isto em um contexto mais amplo. Do ponto de vista do SOUTHCOM e do ponto de vista dos EUA, vemos essa questão como um progresso muito favorável, e vemos que instituições positivas como a UNASUL e o Conselho de Defesa Sul-Americano continuam a aumentar sua capacidade. Mas os desafios que enfrentamos são hemisféricos e globais. Existe uma solução que age na América do Sul, mas também há conexões com a América Central, com o Caribe, América do Norte, África e com o Pacífico. Todas são importantes porque organizações globalizadas transnacionais nos impactam a todos, e não podemos ter apenas uma solução. E eu acho que já passamos por isto de várias maneiras, visto que tentamos abordar esse problema do crime transnacional anteriormente. Quando nos concentramos em um determinado lugar e fomos bem-sucedidos, eles se mudaram para outro. Se abordarmos a questão como um empreendimento e um problema global, obteremos melhores resultados. Eu vejo a UNASUL e o Conselho de Defesa Sul-Americano como parte dessa solução mais ampla.

Quais são os maiores desafios na luta contra o narcotráfico e na busca da segurança intercontinental? O que o senhor quer dizer quando menciona a transformação militar?

Ten Brig Douglas Fraser: Eu ainda vejo o crime organizado transnacional como o maior problema de segurança que enfrenta todo o Hemisfério Ocidental. Grande parte da produção de cocaína vem da região norte da América do Sul; no momento, ela passa pela América Central, principalmente pelo México, pela fronteira sudoeste e até os Estados Unidos.

Cada parte dessa área geográfica faz parte da solução. Nenhuma área por si só será capaz de interromper esse fluxo. Quando falamos de transformação, penso em alguns itens importantes que mostram como nós continuamos a enfrentar esse problema. Primeiramente, o fato de a Colômbia ter adaptado sua estratégia e sua estrutura à atual estratégia e implementação nos últimos anos, é um importante reconhecimento das transformações ocorridas no crime transnacional e nas operações das FARC, e de como o país deve ajustar-se a elas. Na América Central, de modo geral nós, dos Estados Unidos, adaptamos nossa estratégia para abordar também o tráfico criminoso transnacional através do Caribe e do Pacífico Leste. Iniciamos a Operação Martillo há cerca de seis meses e, como resultado desta operação, vimos uma redução do tráfico aéreo em direção à América Central de quase 50 por cento; vimos uma redução do tráfico marítimo de quase 40 por cento, e vimos que a quantidade de cocaína e outras atividades também tiveram redução. Todas essas são mudanças positivas, e mostram as transformações muito importantes quando olhamos e avaliamos as condições atuais e a importância de conferências como essa, onde temos a oportunidade de compartilhar nossos pontos de vista e tentar descobrir como podemos trabalhar melhor e mais de perto para enfrentarmos esse problema comum.

Uma das grandes preocupações continua a ser o México. Como vocês trabalharão com o recém-eleito governo mexicano para aumentar seus equipamentos, incluindo os veículos aéreos não tripulados, como estão fazendo com a Colômbia? Como esta aliança – não apenas bilateral, mas uma aliança multilateral com o México e outros países, inclusive a Colômbia – funcionará?

Ten Brig Douglas Fraser: Diretamente, minha responsabilidade realmente termina na fronteira entre México e Guatemala e Belize. Sob a perspectiva dos Estados Unidos, o Comando Norte dos EUA é responsável pelos relacionamentos exército-a-exército com as Forças Armadas mexicanas. Dito isto, há representantes militares do México nesta conferência, e temos laços muito cordiais e próximos entre o Comando Norte dos EUA e o Comando Sul dos EUA, as Forças Armadas do México e as Forças Armadas da América Central, bem como da América do Sul, como pôde comprovar sua representação aqui. Estamos trabalhando multilateralmente. Não posso responder especificamente às perguntas sobre qual é exatamente o apoio militar dos EUA ao México, porque esta não é uma responsabilidade minha. O que posso dizer é que há uma coordenação e cooperação muito próximas e, realmente, trabalhar com as Forças Armadas mexicanas no treinamento, na troca de informações, é como trabalha em conjunto para enfrentar os problemas comuns. A Colômbia também está apoiando o México agora e, mais ainda, outros países da região. Isto é importante para eles e importante para todos nós, porque aperfeiçoa a maneira como trabalhamos juntos, e será realmente assim que chegaremos aos melhores resultados.

Parte dos acordos do Plano Colômbia incluíam deixar a questão dos cultivos ilegais nas mãos daquele país. De acordo com a ONU, as áreas dedicadas a essas plantações cresceram nos últimos meses. O senhor acha que a ajuda dos EUA é necessária mais uma vez para combater esse flagelo?

Ten Brig Douglas Fraser: Falando muito especificamente sob a perspectiva do Comando Sul dos EUA, nós nos dedicamos muito a nossos parceiros aqui na Colômbia durante muitos anos, como o senhor mencionou. O Plano Colômbia existe há muito tempo e ele evoluiu. Na medida em que a estratégia da Colômbia evoluiu, o apoio do Comando Sul dos EUA evoluiu também. Na medida em que as Forças Armadas da Colômbia adaptavam sua estratégia, nós demos apoio com as lições que aprendemos com nossos combates no Iraque e no Afeganistão, aproveitando parte desse conhecimento para apoiar os esforços colombianos. Mantivemos intercâmbios do ponto de vista da manutenção a inteligência, à forma como trabalhamos melhor aquelas capacitações, e continuamos muito focados naquelas áreas. Estamos estudando e trabalhando com o Ministério da Defesa na compra de helicópteros, na melhoria da capacidade de resposta da Colômbia, e então eu vejo como temos sido muito, muito conscientemente dedicados às Forças Armadas colombianas todo esse tempo.

De modo geral, o governo dos Estados Unidos continua a apoiar o plano de consolidação do governo colombiano em diversos setores. O esforço é coordenado com várias agências do governo da Colômbia que trabalham em programas de apoio, em programas de risco, programas para ajudar a reduzir o crescimento da produção de cocaína, e programas para apoiar a infraestrutura. Em todos os setores, há um apoio muito consciente do governo dos Estados Unidos à estratégia colombiana.

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