Tenente-Coronel Samuel López Santana*, Exército dos EUA
Em meados de fevereiro passado, a Brigada 162 de Infantaria do Exército dos EUA em Fort Polk, Luisiana, realizou uma oficina de trabalho para discutir o papel das Forças Alinhadas por Região (RAF, em inglês) no Hemisfério Ocidental. O encontro teve lugar na Escola para a Educação Militar Profissional do Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança (WHINSEC).
A Brigada 162 tem a função de preparar oficiais e suboficiais e capacitá-los em disciplinas como idiomas, cultura, economia, negociações sociopolíticas, uso da diplomacia e outros temas que servem de base para a implementação das outrora denominadas Brigadas Alinhadas por Região, ou RAB.
O objetivo de tais esforços é a regionalização e a transformação das brigadas para enfrentar os desafios globais. A meta final das forças é deixá-las alinhadas geograficamente, com a finalidade de apoiar os comandos combatentes: Norte, Sul, Central, do Pacífico, Europeu e o recém-criado Comando do Continente Africano.
A oficina analisou problemas como a pobreza, a corrupção, a distribuição desequilibrada de riquezas, o desemprego, a exclusão de algumas classes sociais, a impunidade, problemas de governabilidade e a segurança das fronteiras. Estudou também os desafios do hemisfério como as organizações criminosas transnacionais, o narcotráfico, os desastres naturais, os grupos extremistas violentos, o narcoterrorismo, o crime, as quadrilhas urbanas e as migrações em massa.
O Coronel Glenn R. Huber Jr., comandante do WHINSEC, enfatizou que todos os países do hemisfério, incluindo os EUA, caracterizam-se por ter, de uma forma ou de outra, os mesmos desafios e problemas. Ele aproveitou a oportunidade para instar os participantes a proporem soluções regionais para esses desafios e problemas. Foi também enfático ao solicitar que as propostas apresentadas incluam tanto a construção de capacidades como a cooperação regional.
Entre as recomendações sugeridas, as mais significativas foram as atividades sobre questões de desenvolvimento de capacidades através do treinamento, equipamento, construção de infraestrutura e apoio às agências de lei e ordem. Houve propostas que enfatizaram o flagelo do narcoterrorismo e o crime transnacional através do intercâmbio de informações, ideias e treinamento. Além disto, em consequência do exercício, sugeriu-se a participação das RAF em exercícios multinacionais como o PANAMAX, Forças Unidas Humanitárias e Além do Horizonte. Os participantes basearam suas recomendações nas necessidades dos países do hemisfério representados, no Plano Estratégico 2020 do Comando Sul dos EUA e na visão e missão do Exército Sul.
No caso do Hemisfério Ocidental, atualmente ninguém sabe que tipos de estruturas terão as RAF, já que as áreas de operação são distintas. Os desafios e problemas do Hemisfério Ocidental são muito diferentes daqueles dos continentes africano, europeu e oriental. Para tanto, as RAF do Hemisfério Ocidental devem contar com recursos de engenharia para que possam participar de eventos de ajuda humanitária e exercícios de construção; aeronaves de asa giratória para apoiar operações em desastres naturais; exercícios médicos em locais de acesso restrito por estradas; recursos no campo da medicina, para apoiar exercícios médicos, odontológicos e oftalmológicos; e meios de inteligência para cooperar nas questões do narcotráfico, narcoterrorismo e outros crimes transnacionais. Foi feita também a recomendação para que as RAF tenham em suas fileiras especialistas em assuntos civis, logística, polícia militar e operações especiais, bem como unidades dedicadas ao desenvolvimento de liderança com o objetivo de alcançar efeitos multiplicadores, de continuidade e desenvolvimento em níveis locais, regionais e hemisféricos.
Foram feitas, posteriormente, importantes considerações sinérgicas mencionando a cooperação conjunta, entre agentes, intergovernamental e multinacional para encontrar soluções além das fronteiras.
A análise lançou a questão sobre a intensidade da presença das RAF nos países participantes. A resposta é que cada país é diferente; no entanto, podemos ressaltar que a maior parte do apoio será em forma de grupos móveis de treinamento através do intercâmbio de especialistas. As equipes de cada país nas embaixadas discutirão tanto os requisitos para as RAF como os ambientes diplomáticos com os ministérios de Relações Exteriores para respeitar a soberania e obter garantias e proteção para as forças norte-americanas em território estrangeiro.
Outra proposta para as RAF no hemisfério abordou assuntos fundamentais, como a coordenação com instituições acadêmicas em termos de segurança. Para tal, as propostas apontavam a coordenação com o WHINSEC, o Centro de Estudos Hemisféricos de Defesa, o Colégio Interamericano de Defesa e outras organizações homólogas no hemisfério. Outras solicitações sugerem que se observe muito de perto a coordenação com as organizações governamentais internacionais e não governamentais. Alguns exemplos incluem a Cruz Vermelha Internacional, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, a Integridade Financeira Internacional, a Organização dos Estados Americanos e as Nações Unidas e seus programas no hemisfério. Ao mesmo tempo, fizeram-se propostas para que as RAF realizem eventos com organizações militares, como a Conferência das Forças Armadas da América Central.
Esperamos que as RAF sejam as forças do futuro, porque têm um matiz proativo e de cooperação em igualdade de condições. Continuamos analisando os diferentes ambientes onde as RAF possam desempenhar eficientemente seu trabalho, uma vez que estejam devidamente consolidadas. A análise das expectativas das RAF é contínua, motivo pelo qual os leitores são convidados a enviar seus comentários ou pensamentos inovadores. A tarefa da Brigada 162 será estudá-los e apresentá-los a nossa grade de comando com a finalidade de considerar uma possível implementação.
A oficina contou com a participação de 48 oficiais de 12 países representados no Curso de Comando e Estado-Maior. Contou ainda com a presença de Robert Ward, representante do Departamento de Estado dos EUA no WHINSEC; John Van Doorn, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Troy, e professores do WHINSEC.
*O Tenente-Coronel Samuel López Santana é um oficial de relações exteriores lotado na Brigada 162 em Fort Polk, Luisiana, EUA. López é um dos três primeiros oficiais encarregados do desenvolvimento de programas e treinamento para as RAF.