Search
Close this search box.

Petrobras no vermelho

Bruno Rosa
Ramona Ordoñez

 

A defasagem dos preços dos combustíveis e a alta de 10,9% do dólar entre abril e junho deste ano fizeram a Petrobras, a maior empresa da América Latina, registrar seu primeiro prejuízo em 13 anos. No segundo trimestre, a estatal contabilizou prejuízo de R$ 1,346 bilhão, bem diferente do lucro líquido de R$ 10,943 bilhões no mesmo período do ano passado e do ganho de R$ 9,214 bilhões do primeiro trimestre de 2012. O resultado surpreendeu o mercado, que previa um lucro entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões. Especialistas do setor criticam o uso político da estatal, que não reajusta os preços da gasolina e do diesel, acompanhando o mercado internacional, para manter a inflação sob controle no país. A expectativa é que os resultados continuem ruins até o fim do ano, pois analistas consideram pouco provável que o governo autorize um aumento de preços antes das eleições municipais.

Mesmo com as perdas, a estatal acumula lucro líquido de R$ 7,868 bilhões no primeiro semestre, montante 64% menor que o do mesmo período de 2011. A própria empresa admite os efeitos da defasagem de preços no mercado interno, que, ao mesmo tempo, vive um momento de alta nas vendas de automóveis por conta da redução do IPI do setor, promovida pelo governo. No comunicado em que apresentou o balanço ontem, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, diz que está trabalhando para recuperar a rentabilidade da companhia. Ela ressalta que, desde que assumiu a empresa, há cinco meses, vem reiterando o "comprometimento com a paridade internacional de preços". Ela diz que os reajustes são necessários para financiar o plano de negócios e gestão, "para preservarmos nossos limites de alavancagem e para garantir a lucratividade da companhia".

O último prejuízo da estatal foi no primeiro trimestre de 1999, quando houve a maxidesvalorização do real. Na ocasião, a estatal registrou perda de R$ 1,539 bilhão.

– A panela de pressão está prestes a explodir, porque o cenário não vai mudar até o fim do ano, por causa das eleições. Ou seja, não haverá reajustes nos combustíveis – disse o advogado Claudio Pinho, especialista de petróleo e gás.

 

Produção recua 4%
Segundo um analista do setor, o prejuízo no segundo trimestre foi ocasionado pelo aumento de 13% nos custos relativos à importação de derivados no segundo trimestre em relação ao início deste ano. Entre abril e junho, essas despesas totalizaram R$ 52,032 bilhões. Ao mesmo tempo, o avanço de 10,9% do dólar frente ao real resultou em despesas financeiras de R$ 6,407 bilhões. No primeiro trimestre, a estatal contabilizara ganho financeiro de R$ 465 milhões.

– A empresa passa ainda por um período de paradas programadas de suas plataformas. Por serem antigas, precisam de mais manutenção e trocas de equipamentos. Há também as despesas com os custos dos investimentos que estão sendo feitos em novos poços – explica Lucas Brendler, analista da Geração Futuro, que previa lucro líquido de R$ 3,4 bilhões.

Ricardo Correa, da corretora Ativa, diz que o câmbio teve impacto maior que o previsto.

– O resultado piorou a avaliação mesmo de quem já estava bem pessimista sobre o desempenho da Petrobras – afirma Correa.

Ele acredita que o resultado reforça a necessidade de reajustes de preços nos combustíveis, mas se mostra cético quanto à possibilidade de o governo se sensibilizar sobre o assunto. No dia 25 de junho, houve reajuste para a gasolina e o diesel e, em 9 de julho, outra alta no diesel.

– Mas esses reajustes são insuficientes e não melhoram o cenário – disse um analista do setor que não quis se identificar.

Com as paradas programadas nas plataformas, a produção nacional de petróleo e gás da estatal no segundo trimestre registrou queda de 4%, ficando em 2,332 milhões de barris por dia.

 

Endividamento sobe 15%
Se por um lado o dólar em alta afetou os gastos da companhia; por outro, a receita de vendas foi beneficiada. No segundo trimestre, houve alta de 3% em relação ao anterior, chegando a R$ 68,047 bilhões. No semestre, o avanço foi de 16% em igual período do ano passado, atingindo um total de R$ 134,181 bilhões. Analistas explicam que isso ocorre porque, exceto a gasolina e o diesel – que representam 65% da receita -, os demais combustíveis, como querosene de aviação e gás natural, acompanham os preços internacionais, com reajustes mensais.

A Petrobras registrou aumento de quase 6% na importação de derivados no segundo trimestre, com um total de 764 mil barris por dia, em relação ao mesmo período do ano passado. Dessa forma, a área de abastecimento da estatal teve um prejuízo de R$ 7 bilhões no segundo trimestre deste ano. No mesmo período de 2011, a perdas foram de R$ 2,280. Já no primeiro semestre, as perdas totais, com a venda dos combustíveis com preços defasados, chegam a R$ 11,629 bilhões. Entre janeiro e junho de 2011, os prejuízos chegaram a R$ 2,374 bilhões.

– A política de segurar preços tem se mostrado cada vez mais prejudicial, reduzindo o valor das ações na Bolsa – diz um analista.

Para tentar minimizar os impactos com as importações, a Petrobras tem elevado a operação de suas refinarias. No segundo trimestre, as unidades atingiram 96% de sua capacidade máxima. No mesmo período do ano passado, o índice havia sido de 92%. A área de gás e energia, antes gerida por Graça Foster, também teve perdas. No segundo trimestre, o lucro líquido foi de R$ 86 milhões, queda de 88,5%.

Apesar das perdas, a estatal segue investindo pesado. No semestre, a companhia investiu R$ 38,673 bilhões, uma alta de 20,87% frente a igual período de 2011. Com isso, aliado a captações de longo prazo da empresa, o endividamento total aumentou 15%, para R$ 179,1 bilhões.

Compartilhar:

Leia também
Últimas Notícias

Inscreva-se na nossa newsletter