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Globalmente, luta por vaga no Conselho de Segurança da ONU

Flávia Barbosa

 
WASHINGTON. O palco das relações internacionais reserva ao Brasil o papel de porta-voz das nações do Sul emergente e em desenvolvimento nos principais fóruns de decisão política e econômica, na avaliação de brasilianistas ouvidos pelo GLOBO. A tradição diplomática, a liderança na América do Sul, a influência na América Central e na África, o crescimento econômico e a inclusão social dos últimos anos, além da reaproximação com os EUA, credenciam o país como ator relevante nas principais arenas globais – o que inclui a possibilidade de concretizar o maior projeto de política externa do Brasil, um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

– São 200 milhões de pessoas, uma economia em expansão, um fornecedor de matéria-prima essencial e um cliente importante do mercado internacional. O Brasil é um ator que precisa ser ouvido – afirma Thomas Trebat, do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, em Nova York.

Para Albert Fishlow, professor emérito da mesma instituição, o governo Dilma Rousseff está operando uma gradual mudança de foco na política externa, com peso maior para o engajamento econômico. Isso recolocou a relação com os EUA em perspectiva positiva – e são provas disso as visitas oficiais de Barack Obama e Dilma e a busca de parcerias estratégicas em educação, ciência e tecnologia. As vitórias recentes do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra americanos e europeus também reforçam o potencial natural do país.

Brasil busca estratégia mais equilibrada


Fishlow avalia que, ao abandonar o ímpeto de aprofundamento restrito das relações Sul-Sul, o Brasil "está se movendo na direção de ter uma estratégia mais equilibrada", o que deverá render frutos políticos e consolidar o país como um interlocutor com as nações ricas:

– O Brasil está numa posição única, por causa da relação comercial histórica com os EUA e com a Ásia, especialmente tendo a China como principal parceiro comercial. É uma posição especial, que tende a reforçar a presença internacional do Brasil, como vemos no G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo).

Trebat acrescenta que, no atual estágio de economia globalizada, a relevância brasileira já é uma realidade:

– O mundo era G-8 e agora é G-20, e o Brasil é um dos outros 12. De comum acordo, é um país que pertence a esta mesa. As grandes discussões levam sempre o Brasil em consideração? Não. Obama e Angela Merkel (chanceler da Alemanha) ouvem o Brasil sempre? Não. Mas a posição brasileira, em cada reunião de ministros e chefes de Estado, influencia a pauta e as decisões? Sim.

O alicerce brasileiro é a América do Sul. Ainda que a posição brasileira não seja vista necessariamente com bons olhos, a liderança do país é inconteste. Foi o Brasil, diz Fishlow, que fez o esforço de união da região no início do anos 2000, como preparação para a negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Além disso, destaca Trebat, o país é a referência regional de desenvolvimento.

– O Brasil não precisa ter um só avião, um só fuzil, um só marinheiro para ter uma influência sobre a região inteira. O Brasil lidera pelo exemplo – diz Trebat, que estende à América Central o alcance brasileiro.

Relação com África é positiva


Trebat diz que a ligação com a África, a partir dos países de língua portuguesa, é outra vantagem. Ainda que China e Índia invistam mais no continente, o Brasil tem uma ampla presença diplomática – segundo especialistas, a rede de 35 embaixadas é a maior – e é visto como aliado, não como explorador. Fishlow lembra que é estratégica para o Brasil a aproximação com a África do Sul, admitida no Brics e parceira, com a Índia, no Ibas.

– Os africanos veem no Brasil um país que respeita e representa seus valores e interesses em fóruns – salienta Trebat.

No entanto, há um longo caminho a percorrer para o Brasil se tornar uma nação dominante. Ainda é preciso um engajamento em questões como as do Oriente Médio, o que passa pela flexibilização do entendimento sobre a intervenção em assuntos domésticos, que pauta a posição brasileira em casos como os da Líbia e da Síria.

Mas Fishlow acredita que a disposição do Brasil de fazer contribuições maiores às Nações Unidas, como no Haiti, e o maior apreço dos EUA pela diplomacia multilateral após a guerra do Iraque, em 2001, favorecem a ascensão do Brasil ao Conselho de Segurança:

– Há espaço para a extensão do Conselho e para o Brasil chegar a um acordo com Japão, Alemanha, Índia, África do Sul, sobre esse espaço.

No campo econômico, o desafio é interno. Sexta maior economia do mundo, o país tem desigualdades, infraestrutura deficiente e escassez de recursos humanos, devido à educação precária. Sem resolver essas questões, o país não se tornará uma potência relevante como a China.

– Acho um simbolismo importante que o Brasil, ainda que por outras causas, em vez de comprar caças, esteja investindo em mandar cem mil brasileiros para estudar em centros de matemática e ciência no exterior – pondera Trebat.

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