Flávia Milhorance
O jovem Gabriel Baptista tem 15 anos e já mede 1,94m. Ele baixa os olhos e encontra os do pai, André, de 44 anos, de 1,72m. A diferença entre os dois é de 22 centímetros, três décadas e um fator que tem influenciado gerações de brasileiros: estamos mais altos. O Exército acompanha o perfil de seus recrutas desde a década de 1980, quando a altura média era de 1,67m e o número do calçado, 40. Em 2011, a altura média atingiu 1,74m e o calçado, 41.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também mostra esta tendência. Na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), um levantamento de 2002-2003 apontou que homens de 19 anos tinham uma altura mediana (média ponderada) de 1,69m, enquanto que em 2008-2009 ela aumentou para 1,72m. Entre as mulheres da mesma idade, a curva se mantém crescente: a mediana no período anterior era de 1,60m e na mais recente, de 1,61m. Embora o IBGE e o Exército tenham metodologias diferentes, ambos apontam para o crescimento da população.
A principal causa, segundo especialistas, é que o brasileiro tem se alimentado melhor, e isto ocorre devido às melhorias de condições socioeconômicas ao longo das décadas. De acordo com a pediatra Evelyn Eisenstein, professora adjunta da Faculdade de Medicina e Pediatria Endocrinológica da Uerj, a altura é considerada o melhor indicador econômico e de saúde de uma população, mais até do que o Produto Interno Bruto (PIB).
– Existe o que chamamos de tendência secular. O aumento da altura é um aprimoramento genético, como se fosse uma evolução. O brasileiro comia mal. Tínhamos há 20 anos cerca de 30% de desnutrição crônica. Em geral, a população realmente melhorou sua parte nutricional. Existe ainda uma tendência de aumento da altura por diminuição das infecções, das doenças, da melhoria da higiene, dos tratamentos e das vacinas – explica.
Uma realidade vista de cima
Mesmo com a curva crescente da altura ao longo das gerações, o jovem Gabriel está bem além da média. Ele é o mais alto da sua casa, do colégio e um dos mais altos até do time de basquete do Botafogo, onde treina na categoria infantil.
– O professor do colégio viu meu tamanho e quis me trazer para fazer o teste no Botafogo. De fato, foi a altura que motivou isto, e agora quero seguir carreira – diz Gabriel, que ainda brinca: – Para mim é bom ser alto, tenho mais moral com os outros do colégio porque eles ficam com medo de mim.
No entanto, segundo ele, o mercado brasileiro não está preparado para os mais altos:
– A cama é sempre menor. E é difícil também achar sapato do meu número. Calço 48 quase indo para 49.
O técnico de basquete do Botafogo, Rafael Teixeira, afirma que também entre os atletas a alimentação melhorou.
– Hoje eles se alimentam muito melhor. Há acompanhamento nutricional que ajuda no crescimento. Além disso, a literatura específica mostra que as crianças que não tiveram alimentação adequada terão o desenvolvimento prejudicado no futuro. Dependendo desta falta de nutrientes, ele pode ser mais frágil, ter problemas ósseos, articulares e crescer menos. E isto atrapalha na atividade física.
Teixeira faz questão de desmistificar a importância da altura para a prática de esporte.
– Até pode ser um diferencial entre dois atletas de mesmo nível num primeiro momento. Mas o que conta mais é o esforço e o talento.
A pediatra Angela Maria Spinola-Castro, chefe do setor de Endocrinologia Pediátrica e professora da Unifesp, bate na tecla de que o fato de o filho ser mais alto que o pai não pode ser encarado como uma regra:
– Tem-se o mito de que os altos se saem melhor na vida. Por isso, vejo no meu consultório muita cobrança de pais para que seus filhos cresçam, e que cresçam mais que eles próprios. E por isso pedem complementos hormonais, que só devem ser prescritos em alguns casos específicos.
A pediatra também ressalta que o crescimento da população se dá mais em algumas regiões, como no Centro-Oeste e no Nordeste, do que em outras, como no Sul e no Sudeste.
– O brasileiro está mais alto em algumas regiões, e o principal motivo é a questão nutricional que vem melhorando. Por isso, o cruzamento de dados da altura se dá com o de orçamento familiar do IBGE.
Segundo a professora Evelyn Eisenstein, o fator genético conta. Mas no Brasil, ele tem menos efeito.
– O brasileiro é um povo muito miscigenado, então é lógico que no Sul predomina a população com imigrantes europeus. Mas no Nordeste também tem, e lá tem uma desnutrição maior, tem o sol tropical, que provoca maior gasto calórico.
A especialista explica que há uma média da velocidade de crescimento, e que as informações sobre este desenvolvimento constam do Cartão da Criança do Ministério da Saúde. Em média, nos primeiros anos de vida, é normal um crescimento de 12 centímetros por ano. Dos 6 aos 10 anos, a criança costuma crescer cerca de 5 centímetros. Na puberdade, por volta dos 10 anos, há o chamado estirão puberal, quando ela pode crescer até dez centímetros. O estirão dura em média dois anos, e depois a velocidade de crescimento diminui.