O chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, esteve reunido com a cúpula das Forças Armadas do Paraguai horas antes da deposição do presidente Fernando Lugo, no dia 22, indica um vídeo divulgado nesta terça-feira, 3, pelo novo governo de Assunção.
Militares e políticos paraguaios dizem que, nessa ocasião, Maduro teria pedido aos generais que não reconhecessem a destituição e continuassem a receber ordens de Lugo.A gravação do circuito interno do palácio presidencial confirma que o ministro do governo de Hugo Chávez reuniu-se com os comandantes no ápice da crise paraguaia. O vídeo, porém, não prova que o ministro venezuelano tenha de fato incitado a desobediência entre os militares de Assunção.
As imagens mostram Maduro entrando em uma sala com os chefes das três armas das Forças Armadas e da polícia do Paraguai, além do embaixador do Equador em Assunção, Julio Prado, e assessores de Lugo. As autoridades teriam se reunido – longe das câmeras – por 10 minutos, momento em que o chanceler de Caracas supostamente fez o pedido pela sublevação militar.
Maduro estava em Assunção com os demais chanceleres da Unasul, incluindo o brasileiro Antonio Patriota. A missão do bloco buscou – sem sucesso – dissuadir senadores paraguaios de votar o impeachment em menos de 36 horas.
Na segunda-feira, o comandante da Força Aérea do Paraguai, Miguel Christ Jacobs, que esteve no encontro com Maduro, confirmou em depoimento no Senado que o ministro venezuelano pediu apoio da caserna a Lugo. A reunião teria sido organizada pelo chefe do gabinete militar do presidente deposto, general de divisão Angel Vallovera.
O objetivo de Maduro seria convencer os militares a emitir um comunicado dizendo que, mesmo se o Senado derrubasse o presidente – como ocorreu –, eles continuariam leais a Lugo. Pouco depois, porém, os generais soltaram uma nota dizendo que respeitariam a decisão do Legislativo, como fez o próprio Lugo no início da noite.
Com a destituição concluída, o vice-presidente Federico Franco assumiu o governo e se instalou no palácio presidencial.
Provas
As imagens do circuito interno foram entregue aos jornalistas durante uma entrevista coletiva da nova ministra da Defesa, María Liz García, que já havia denunciado a "ingerência" de Caracas entre os militares paraguaios.
Primeiro, uma gravação editada de quase dois minutos e sem áudio foi repassada aos repórteres que estavam na entrevista. Depois, uma versão ampliada de quase 17 minutos, com som, apareceu nos sites de notícia.
"Estou segura de que (cópias do vídeo) serão entregues à Procuradoria", disse a ministra. O deputado José López Chávez, do Partido Unace, pediu que o chanceler venezuelano, o embaixador equatoriano e Lugo sejam processados por incitar a desobediência das Forças Armadas. O parlamentar defendeu ainda que os adidos militares da Venezuela e Equador em Assunção sejam "expulsos por atentar contra a soberania nacional."
Em visita a Assunção, o secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o chileno José Miguel Insulza, qualificou de "estranho" o encontro do chanceler venezuelano com os militares paraguaios. Insulza, entretanto, disse que a comissão da OEA que investiga a crise política não analisará o vídeo.
Pouco após a destituição do presidente paraguaio, Chávez apareceu diante das câmeras da TV estatal venezuelana para denunciar o "golpe" em Assunção, prometendo retaliações. No dia seguinte, Caracas anunciou o corte de suprimentos de petróleo para o Paraguai. Países do Mercosul suspenderam o Paraguai das reuniões do grupo. A ausência permitiu que a Venezuela entrasse no bloco.