O atraso na entrega de sondas de perfuração encomendadas na China e na Coreia – criticado pela presidente da Petrobras, Graça Foster – colocou novamente em cena um antigo debate: a escolha entre construir esse tipo de equipamento no Brasil ou no exterior. Com a crítica, a Petrobras mostrou que os atrasos não são exclusividade do Brasil. Mais do que isso: rebateu o argumento de que a política de conteúdo local seja a responsável pelo descumprimento de cronogramas de projetos. As empresas que construíram as sondas na Ásia para afretá-las à Petrobras se defenderam dos ataques da estatal.
Graça e o diretor de exploração e produção da Petrobras, José Formigli, apresentaram, na segunda-feira, relação de 14 sondas feitas na China e na Coreia e previstas para serem entregues em 2012 e cujos atrasos, em relação aos cronogramas originais, variam de 83 a 864 dias. Das 16 sondas previstas para 2011, apenas 10 foram entregues com 542 dias de atraso.
A Petrobras não indicou as razões do descumprimento. Entre os argumentos do setor privado, estão dificuldades de contratar a construção nos estaleiros asiáticos em uma época em que o mercado estava aquecido. Depois que estourou a crise financeira, em setembro de 2008, o problema passou a ser acesso a crédito, o que levou à renegociação de contratos. Em meados de 2008, antes da crise, a Petrobras tinha aprovado o afretamento de 12 unidades de perfuração a serem construídas no exterior por cerca de US$ 8 bilhões.
Fonte da indústria disse que os atrasos apontados pela Petrobras incluem fase de testes de aceitação pela estatal. Outro executivo criticou a comparação entre atrasos nos projetos no Brasil e no exterior e disse que é preciso explicar melhor a forma como se mede o conteúdo local dos projetos da Petrobras no país.
A Odebrecht Óleo e Gás (OOG) afirmou, em nota, que a empresa controla sete unidades de perfuração, sendo que três contratos foram obtidos em concorrências vencidas pela empresa. Houve antecipação na entrega de duas unidades, afirmou a OOG. "Os demais contratos foram objetos de acordos feitos entre a OOG e os vencedores originais de outras concorrências, que estavam encontrando dificuldade na colocação da encomenda junto a estaleiros e o respectivo financiamento", afirmou a OOG. Segundo a empresa, os acordos para assumir os contratos foram celebrados com a Delba e a Interoil.
De acordo com a OOG, a empresa, em alinhamento com a Petrobras, e por convite da estatal, associou-se à Delba e à Interoil para tornar viável a construção e garantir os financiamentos necessários de forma que os projetos pudessem ser concluídos dentro de um prazo renegociado com a Petrobras. Na lista apresentada pela estatal, os atrasos nas plataformas da Odebrecht variam de 344 a 683 dias. O maior atraso da lista, de 864 dias, é o da plataforma Schain Amazônia. Procurada, a Schain disse que não comentaria o assunto.
A Queiroz Galvão Óleo e Gás, que aparece na relação da Petrobras com 189 dias de atraso no projeto da sonda Amaralina Star, disse que essa sonda e outra embarcação, a Laguna Star, vão ser entregues pelo estaleiro Samsung em junho e setembro e a previsão é de que entrem em operação no Brasil em outubro e dezembro. A construção dos navios-sonda, afretados à Petrobras em contrato de seis anos, será concluída em menos de dois anos, segundo a empresa.