Manuela Aragão
Falta muito pouco para os sul-coreanos ficarem mais ricos que os japoneses. Dentro de cinco anos, o PIB per capital da Coreia do Sul, calculado considerando o índice de custo de vida, deve ultrapassar o do Japão, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional. Será uma virada histórica para o país que, durante quatro décadas, foi colônia nipônica.
Foi um período de grande sofrimento, em que milhares de coreanas foram obrigadas a servir de escravas sexuais dos invasores. Depois da rendição do Japão aos aliados, em 1945, o que pôs fim à II Guerra Mundial, a Coreia recuperou brevemente sua autonomia. Foco de tensão na Guerra Fria entre soviéticos seus aliados chineses e os americanos, a Península da Coreia foi palco de uma guerra na década de 50. O conflito terminou em julho de 1953, com o armistício sendo conquistado ao custo da divisão do país em Coreia do Norte (comunista) e Coreia do Sul (capitalista), ambas paupérrimas, com indicadores socioeconômicos de padrão africano.
Como se sabe, a Coreia do Norte entrou em uma longa hibernação e, submetida a uma dinastia de ditadores sustentados pelo poder militar, continua mantendo seu povo em condições sub-humanas. A Coreia do Sul progrediu velozmente com um modelo de capitalismo exportador, forte ênfase na educação de alta qualidade e abrupto aumento da qualidade de vida da população.
Conglomerados sul-coreanos como Samsung, LG e Hyundai conquistaram mercados em todo o mundo. A educação tornou-se modelo de sucesso. Uma criança sul-coreana estuda, em média, sete horas por dia. Professores são premiados segundo o rendimento dos seus alunos. Universidades cobram mensalidades e contam com ajuda financeira das empresas, interessadas em preencher seus quadros com os estudantes mais brilhantes.
Nos anos 80, o imenso progresso social e econômico da Coreia do Sul chamou a atenção do mundo. O país tornou-se o mais vistoso dos tigres asiáticos. Nessa mesma década, a menos de 200 quilômetros de distância, o Japão, que emergira como a grande potência asiática do pós-guerra, chegando ao posto de segunda maior economia do mundo, começava a declinar.
O modelo exportador japonês criou enorme riqueza e elevou o padrão de vida dos japoneses a níveis extraordinários, mas a excessiva valorização cambial evoluiu para uma bolha especulativa que se materializou principalmente nos salários e no ramo imobiliário. No começo dos anos 90, o terreno do Palácio Imperial em Tóquio custava em dólares mais do que todos os imóveis da Califórnia. Secretárias japonesas ofereciam lances maiores do que executivos americanos por casas luxuosas no Havaí.
Em 1992, a bolha estourou. A economia japonesa estagnou e, desde então, vem se arrastando com índices mínimos de crescimento. A crise mundial de 2007 e 2008 reduziu as exportações. Um de cada três dekasseguis, brasileiros que foram para a terra dos avós em busca de uma vida melhor, voltaram ao Brasil. No mesmo ano (2011) em que um terremoto seguido de tsunami quase provocou uma tragédia nuclear em Fukushima, o Japão perdeu o posto de segunda maior economia para a China.
A afluência da ex-colônia japonesa, a Coreia do Sul, tem como corolário a valorização da cultura do país na região. Embora Singapura, Taiwan e Hong Kong também tenham ultrapassado o Japão em PIB per capita, a voz e o rosto dos artistas de maior sucesso nesses países são de origem coreana. O tigre coreano, finalmente, deu o salto definitivo rumo a um futuro de paz e prosperidade.