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O Brasil Frente as Novas Ameaças Globais – Perspectivas para 2014


Entrevista com  André Luís Woloszyn, Analista de Assuntos Estratégicos, que tem contribuído com análises sobre terrorismo para DefesaNet .

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DefesaNet Você acredita que o Brasil possa ser alvo de uma ação terrorista durante a Copa do Mundo de 2014?
Woloszyn – Acredito na possibilidade de que o Brasil possa sofrer atentado terrorista na Copa do Mundo de 2014, pois num mundo globalizado as ameaças também se tornaram globalizadas. Mas apontar grupos terroristas dispostos ou mesmo em condições logísticas de efetuar ações desta natureza é prematuro. Irá depender, especialmente, de como se comportará  a conjuntura da política  internacional nestes próximos dois anos. (conflito israelo-palestino, relações Irã-EUA e os efeitos colaterais da primavera árabe).
 
DefesaNet  -Em caso positivo, quais seriam os pontos vulneráveis?
Woloszyn – Os pontos mais vulneráveis provavelmente serão os locais onde estarão hospedados as delegações de atletas estrangeiros, suas rotas de deslocamentos para treinos e pontos turísticos visitados além dos  próprios estádios onde se desenvolverão as competições.
 
DefesaNet  – A Polícia Federal estaria preparada para estas ameaças?
Woloszyn – Acredito que a PF esteja parcialmente preparada para lidar com o terrorismo  mas  não em grande escala pois sua estrutura atual (material e tecnológica) não é suficiente. Pela complexidade do tema e por experiências de crises anteriores torna-se  necessário o envolvimento de outros órgãos públicos, notadamente da área policial e de inteligência em um trabalho conjunto e coordenado o que é dificultoso. Outros fatores intervenientes poderão contribuir para dificultar a adoção de medidas pró-ativas que são o fato de não possuirmos experiência alguma no trato com o terrorismo e não apresentarmos  uma cultura voltada para a prevenção.
 
DefesaNet  – Você acredita que o Governo Federal tem preocupação em relação a ameaça do terrorismo internacional?
Woloszyn – Compartilho da  opinião de que o Brasil não se constitui um alvo em si mesmo, como a Alemanha também não o era nas Olimpíadas de Munique, em 1974. Seu  território, sim, poderá ser utilizado para ações com a finalidade de atingir alvos internacionais a muito cobiçados e que não foram atingidos anteriormente por falta de oportunidade  ou  mesmo recrudescimento nas medidas de segurança. O grau de vulnerabilidade torna-se maior especialmente em um evento desta magnitude onde estarão concentrados grande parte da imprensa mundial e onde todas as atenções estarão voltadas para o país, o que seria uma oportunidade para grupos ou pessoas (o que se denomina de lobo solitário)  praticarem tais atentados ganhando notoriedade. Quanto ao arrefecimento das políticas de contra-terrorismo de parte do Governo Federal não acredito pois estes tem a percepção de que seria o maior erro de avaliação do século, no Brasil. A imagem  institucional  do país e a credibilidade perante a comunidade internacional seriam fortemente abaladas como nação que não teve condições de se antecipar  a crises e eventos previsíveis.
 
DefesaNet  -Você acredita em ações do  PCC e CV durante o evento como forma de pressão as autoridades brasileiras?
Woloszyn -. É uma forte possibilidade que não pode ser descartada. Porém, caso ocorra ataques do PCC,  CV e outros, a exemplo de maio de 2006 em São Paulo e novembro de 2010 no Rio de Janeiro, deverão acontecer meses antes da abertura pois, invariavelmente, as ações destas organizações visam pressionar e intimidar as autoridades para a concessão de benefícios pontuais e direcionados, por conta do desgaste político que estas ações acarretam na opinião pública.
 
DefesaNet  – Existe a possibilidade de acordos das autoridades com estes grupos para impedir que ações criminosas aconteçam com ocorreu no passado?
 
Woloszyn – Sim. Acredito que as autoridades possam negociar uma trégua com os narcotraficantes para que o evento ocorra sem maiores incidentes  mas em que termos e em que circunstâncias?  Neste sentido, não concordo com negociações desta natureza  pois você teria uma moeda de troca que certamente viria em desprestígio das instituições governamentais e em detrimento do bem comum da população.
DefesaNet  -. Com seria na sua opinião, o pior cenário e o que se pode fazer para prevenir que ocorra?
Woloszyn – O pior cenário possível seria a ocorrência de um atentado terrorista durante a Copa do Mundo de 2014, com elevado número de vítimas fatais e feridos e com um poder de reação inadequado (socorro à feridos, rotas de transporte alternativas, hospitais preparados para receber a demanda, investigação e prisão de culpados –caso não seja ataque suicida) o que demonstraria definitivamente que não tínhamos competência para tratar com uma crise desta magnitude.  O que podemos fazer para nos antecipar? Bem, o terrorismo antes de sua materialização como atentado, é uma questão que envolve exclusivamente a atividade de inteligência, na tentativa de detectar e neutralizar tal ameaça. Fortalecendo esta atividade, criando uma coordenação geral eficiente entre as agências, dotando-as de  recursos humanos qualificados e ferramentas tecnológicas seria um importante passo. Mas não único, pois é de fundamental importância o trabalho conjunto de outros segmentos, inclusive do alerta da população para informar em caso de alguma atitude suspeita. Podemos apreender muito com as falhas  que  resultaram no 11-S, mas o primeiro passo, é acreditar na premissa de que um atentado terrorista no Brasil seja possível.
 
DefesaNet – Na sua opinião, quais as maiores vulnerabilidades do Brasil?
Woloszyn -. Existem muitas vulnerabilidades. Dentre as principais destacam-se  a deficiência no controle e fiscalização de fronteiras terrestres e extensão marítima. Possuímos 17,8 mil Km de fronteiras terrestres com nove tríplices fronteiras limites com países da América Latina que, por sua vastidão e tipo de terreno, torna-se de difícil controle, porém de fácil acesso para quem deseja adentrar em território brasileiro sem um registro oficial. A extensão marítima é de cerca de 8 mil Km de costa, nas mesmas condições,  permitindo deslocamentos por água, de  pequenas embarcações, com poucas chances de detecção pelas autoridades.
 
DefesaNet  -Você acredita que a utilização de veículos não tripulados nas fronteiras seria uma solução?
Woloszyn –. A utilização de drones (veículos não tripulados) nas fronteiras da Amazônia não traria grandes resultados pois o tipo de vegetação (floresta) é densa e fechada e este equipamento é utilizado especialmente em terrenos abertos e de vegetação pouco densa como a fronteira dos EUA com o México, em Israel e no Afeganistão.

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