André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos.
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Na comemoração de um ano da morte do homem mais procurado do mundo, após caçada que durou uma década, envolveu milhares de pessoas e bilhões de dólares, finalizada pelos Seals, em Abbottabad, no Paquistão, alguns pontos obscuros e incertezas quanto ao futuro do terrorismo internacional e da rede terrorista que ele liderou já podem ser percebidos com maior clareza.
Com a divulgação de parte dos seis mil documentos secretos apreendidos em seu esconderijo, conclui-se que a outrora toda poderosa Al Qaeda, capaz de desestabilizar a política internacional e abalar mercados econômicos globais já não existe mais, pelo menos, não da forma que a conhecemos a partir dos mega atentados que patrocinou em diversas partes do mundo na década que passou. Nestes documentos históricos que agora vem a domínio público e prometem muitas surpresas, o próprio Osama Bin Laden reconhece a fragilidade da organização que criou com a necessidade de descentralização e a crescente falta de confiança dos muçulmanos em relação a ela por conta das milhares de vítimas inocentes que pereceram em seus atentados, incluindo muçulmanos, indiscriminadamente.
Mas, certamente, a mais importante descoberta, ao contrário do que muitos especialistas acreditavam, é a de que ele ainda estava ativo, procurava desesperadamente novas conexões e, nestas circunstâncias, representava enorme risco para as democracias ocidentais pois também planejava novos mega atentados, especialmente contra alvos estadunidenses em diferentes países.
A Al Qaeda hoje, é uma rede fragmentada e desestruturada, sem o aporte financeiro que recebia anteriormente, com algumas tentativas frustradas e atentados de pouca expressão, perpetrados por “lobos solitários” que reivindicam a publicidade para ela apenas pela notoriedade que esta ainda ocasiona. E, pelos constantes fracassos acumulados em anos, com uma liderança sem o mesmo carisma e parte dos antigos e experientes colaboradores presos ou mortos, torna-se difícil convencer pessoas a morrer em uma guerra já considerada perdida por muitos destes mesmos extremistas que incentivaram a Jihad num passado recente.
Embora não seja sensato subestimar o terrorismo, a tendência é de que a rede criada por Osama Bin Laden ainda permaneça sendo uma ameaça regional com o surgimento de diversas células simpatizantes locais, especialmente na região do Magreb e que podem se disseminar rapidamente. Mas, felizmente, não mais se constitui em uma ameaça global, pelo menos, por enquanto, até pelo fato de que as tecnologias de segurança e defesa evoluíram muito desde o 11-S e a comunidade internacional está mais consciente dos riscos e ameaças que representam o terrorismo internacional e suas conexões, notadamente com o crime organizado incluindo o narcotráfico.
Inobstante, a rede terrorista Al Qaeda sempre permanecerá como um mito na imaginação das pessoas, sinônimo do terrorismo extremista que marcou uma década, mas que atualmente, faz parte de um ciclo que se encerra com a morte de seu maior e mais carismático líder e patrocinador.