Ramona Ordoñez
Liana Melo
Apesar dos temores de novas estatizações na Bolívia, o Brasil está em uma posição bem mais confortável em relação ao gás natural que importa de lá. Em 2006, quando o presidente Evo Morales nacionalizou o setor de petróleo e gás, a estatal brasileira foi uma das mais afetadas. Além da menor dependência, as descobertas de grandes reservas de petróleo no pré-sal brasileiro fizeram com que a Petrobras reduzisse investimentos no exterior, como na Venezuela e no Equador, onde também os governos alteraram nos últimos anos as regras do setor.
Com um consumo diário total que gira em torno de cerca de 83 milhões de metros cúbicos (m3) por dia, os até 30 milhões de m3/dia importados da Bolívia representam hoje cerca de 36%, bem menos do que os 50% de 2006.
Para reduzir a dependência do gás da Bolívia, a Petrobras investiu pesado nos anos seguintes à nacionalização no aumento da produção interna, na malha de dutos e em dois terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL). A produção nacional chega a 55 milhões de m3/dia, além da capacidade de importar até 21 milhões de m3/de GNL.
– Estamos caminhando para uma posição confortável, e a previsão é atingirmos a autossuficiência em cinco anos – avalia Marcos Tavares, presidente da consultoria Gás Energy, comentando que o Brasil poderá se dar "ao luxo", num futuro próximo, de virar exportador de gás.
Para especialista, estatal não deve sair da Bolívia
Mas Tavares não considera a possibilidade de o país deixar de importar o gás da Bolívia, até porque seria "pouco razoável do ponto de vista econômico" abandonar toda a infraestrutura montada no país para importar gás.
O diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, diz que o Brasil deveria realizar a 11 rodada de licitação de áreas para exploração, o que não ocorre desde 2008.
– Seria uma forma de reafirmação a posição brasileira.
Na Venezuela, com uma produção pequena, de menos de 35 mil barris por dia, a Petrobras não se abalou quando o governo Chávez reduziu sua participação para 40% nos blocos que operava. No Equador, a empresa não aceitou se tornar mera prestadora de serviços e está exigindo uma indenização de US$ 217 milhões pelos blocos que possuía. Recentemente, a Petrobras teve sua licença de exploração cassada na província argentina de Neuquén, medida que ainda tenta reverter.