Com a participação de 8,5 mil militares e uma centena de agentes civis, o Ministério da Defesa deu início na manhã desta quarta-feira à Operação Ágata 4 – a maior ação conjunta das Forças Armadas – na região Norte, na fronteira com Venezuela, Suriname, Guiana Francesa e Guiana. Nas próximas semanas, tropas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, com a participação da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança Pública, entre outros, estarão patrulhando uma área de cinco mil quilômetros entre a foz do Rio Oiapoque ao município de Cucuí, no estado do Amazonas.
Desta vez, a Ágata será executada a partir do Comando Militar da Amazônia (CMA) e terá, como nas edições anteriores, ações de cunho social, uma vez que a população ribeirinha enfrenta problemas com as cheias do rio Negro e seus afluentes. Ontem (1º), um hospital de campanha da Força Aérea (foto acima) zarpou do 7º Comando Aéreo Regional (Comar) para prestar atendimento aos moradores do distrito de Moura e do município de Barcelos, na região metropolitana de Manaus. Montado numa balsa, o hospital tem capacidade de atender entre 350 e 400 pacientes por dia.
Sob a coordenação do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), a Operação Ágata integra o Plano Estratégico de Fronteiras (PEF), lançado em junho do ano passado pela presidenta Dilma Rousseff. Em 2012, a presidenta autorizou a realização de três edições da operação.
O vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Defesa, Celso Amorim, devem visitar pontos da Ágata dentro dos próximos dias. No âmbito do PEF, existem duas mobilizações de patrulhamento da fronteira: a Ágata, de caráter pontual, com data marcada para começo e término; e a Operação Sentinela, comandada pelo Ministério da Justiça, que constitui uma ação de caráter permanente nas divisas do Brasil com os países sul-americanos.
Ágata 4
A partir de estudos detalhados, o EMCFA decidiu realizar a quarta edição da Operação Ágata numa área que abrange os estados do Amazonas, Pará, Amapá e Roraima. Militares e civis buscarão alvos como garimpos irregulares, pistas clandestinas, ações de madeireiros, tráficos de drogas e pessoas, bem como demais crimes contra o meio ambiente.
Ontem, as equipes que participam da missão se reuniram na sede do CMA. Coube ao general-de-brigada Franklimberg Ribeiro de Freitas, chefe do Centro de Operações do CMA, dar as diretrizes para o início da operação. Segundo relato do general, essa edição da Ágata vem sendo elaborada nos últimos meses com a participação de entidades militares e civis. No desenrolar da operação, oficiais da França, da Venezuela e dos demais países da região de fronteira atuarão como observadores das missões.
“Estamos efetivamente prontos para o início da operação. Atuaremos de forma integrada com as demais forças e entidades participantes”, anunciou Franklimberg.
Em seguida, foram repassadas instruções operacionais, bem como a divulgação do cronograma da missão. Depois, o chefe do Comando Militar da Amazônia, general-de-exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, deu ênfase à transparência da operação e afirmou que o comando da Ágata 4 vai privilegiar a divulgação das ações e seus resultados na mídia nacional, regional e local.
Outra ação do general Villas Bôas ocorre nesta quarta-feira, na sede do CMA, com a participação de entidades representativas da sociedade da região amazônica. Foram convidados o governador Omar Aziz; o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes; parlamentares; empresários; e dirigentes sindicais para uma reunião que tem por objetivo apresentar a Operação Ágata 4.
Hospital de campanha
Além da presença militar nas fronteiras, a Operação Ágata 4 tem previstas ações sociais. Ontem, o hospital de campanha da Força Aérea Brasileira (FAB) deixou o píer do 7º Comar e se deslocou para o município de Barcelos, a 490 quilômetros de Manaus. Até 9 de maio, uma equipe de 38 profissionais do serviço médico atenderá moradores nas especialidades de clínica médica, ginecologia, geriatria, pediatria, odontologia, ortopedia e dermatologia. O hospital tem condições de realizar exames de raio-X, ultrassonografia e hemogramas. Os resultados são fornecidos de imediato.
“Caso sejam comprovadas doenças mais graves, os pacientes serão encaminhados a centros médicos de Manaus”, afirmou o tenente-coronel médico Roberto Thury, comandante do hospital de campanha. Ele informou que os equipamentos já foram usados em tragédias no Haiti e México, além do Paraná e Rio de Janeiro, nas enchentes mais recentes.
O comandante do 7º Comar, major-brigadeiro-do-ar Nilson Carminati, disse durante a solenidade de lançamento do navio-hospital que a integração do equipamento será de grande utilidade para as populações situadas nas regiões mais vulneráveis, onde predomina a ausência de assistência médica.
Além do hospital montado numa balsa, a Força Aérea Brasileira (FAB) emprega na Ágata 4 os seguintes equipamentos:
• aviões de alerta aéreo antecipado E-99, que utilizam radares para localizar voos clandestinos;
• caças A-29 Super Tucano capazes de perseguirem e interceptarem voos clandestinos e, desse modo, fazem com que as aeronaves pousem em locais determinados pela FAB;
• aviões de sensoriamento remoto R-99 que utilizam os modernos sensores para localizar pistas clandestinas utilizadas pelo narcotráfico;
• helicópteros H-60 Black Hawk podem decolar com equipe de medidas de controle de solo, especialmente treinada para deter tripulantes de voos ilícitos e preservar provas até a chegada da Polícia Federal;
• radares que se posicionam em pontos estratégicos na função de vasculhar os céus da fronteira em busca de aeronaves suspeitas.
Enchente no Amazonas
A Ágata 4 acontece no instante em que as cheias do rio Negro desalojam moradores na região metropolitana de Manaus e mais 24 cidades do Amazonas. Ontem, no bairro Educandos, na capital amazonense, moradores reclamavam da falta de atendimento. Numa das vielas, a doméstica Ângela Maria Magalhães Moreira contou que teve que abandonar um barraco de madeira com o marido e sete filhos porque a água invadiu a moradia.
O rio atingiu a cota de 29,20 metros, quase 54 centímetros para repetir as cheias de 2009, a maior tragédia nessa região. A funcionária autônoma Suelen Patrícia do Rego Silva – que se alojou com o marido e dois filhos na casa de vizinhos – queixa-se do fato de não poder trabalhar, pois tem de manter a vigília para não perder os móveis e eletrodomésticos.
Nascida nessa comunidade há 66 anos, Vitória Estevam da Silva contou que o lugar sempre teve problemas com as cheias. Ela lamenta a falta de empenho das autoridades. No momento, Vitória espera que a mobilização da Ágata 4 possa chamar a atenção para as necessidades da população e resolver por completo o estado de calamidade dos moradores.