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FEB – 67 Anos do Ultimo Tiro da Artilharia Brasileira na II. Guerra Mundial

67 Anos do Ultimo Tiro da Artilharia Brasileira
na II Guerra Mundial – 1945 – 2012

 
Israel Blajberg
Ex-aluno CPOR/RJ
Tu Mar Rondon  Art 1965
iblaj@telecom.uff.br

 
 
No quartel de Barueri –SP, diante da tropa formada, muitas estórias são recordadas entre os veteranos no palanque …  A marcha batida interrompe as lembranças. O exórdio executado pela Banda de Música anuncia a chegada do General, antigo Comandante do histórico Grupo Bandeirante – III Grupo 105 da FEB, atual 20º. G A C Leve – Aeromóvel, os que marcham sempre à frente da vanguarda, arrojando-se do céu, fulminantes, no dizer da canção.

Antigos integrantes da unidade, velhos artilheiros, familiares, ex-combatentes veteranos da FEB com suas boinas e braçadeiras. Apenas uns poucos FEBianos ainda estão aqui entre nós, e orgulhosamente comparecem, todos em torno de 90 anos.

A tropa entoa a Canção da arma, no ritmo cadenciado e seguro da artilharia hipomovel, desfilando com garbo.  Jovens com a fibra do soldado brasileiro que doravante serão para sempre, até o dia em que tiverem que deixar o quartel, do qual jamais se esquecerão.

O desfile é magnífico, os pavilhões nacional e da unidade, os estandartes das baterias tremulando ao vento que sopra na manhã de Barueri, a chuva tendo amainado justamente ao iniciar-se a cerimonia. Do seu nicho à entrada do quartel,  Santa Bárbara protege os Artilheiros, e por seus desígnios a festa se desenvolverá em tempo seco.

29 de abril de 1945. Eram exatamente 0145 quando foi lançado contra o inimigo nazista o ultimo tiro disparado pela artilharia brasileira na Itália. Os comandos chegaram rápidos e concisos passados via rádio da Central de Tiro para a Peça Diretriz:  

Bateria, Atenção, Concentração !!!   Explosiva Carga 5 Espoleta Instantânea !   Centro por um bateria por meia dúzia !   Deriva 2800 elevação 357 !   Fogo !!!

A Vitória chegava para a democracia. Uma pesada barragem contra as tropas alemãs encerrou assim  a resposta às agressões sofridas pelo Brasil, com a perda de mais de mil vidas nos torpedeamentos. Decorridos 67 anos, apenas 3 dos quase quatrocentos homens do glorioso Grupo Bandeirante da FEB ainda estão entre nós, recordando a operação.  Era o 1º/2º Regimento de Obuses 105 Auto-rebocado (1º/2º RO 105 Au R – "III Grupo da Força Expedicionária),  herdeiro de antigas e tradicionais unidades, Regimento de Artilharia da Bahia, em 1749, e 7° Corpo de Artilharia de Posição, em 1824, hoje aquartelado em Barueri-SP,  o  20º. G A C Leve – Aeromóvel, tropa de elite integrante da Força de Ação Rápida Estratégica do Exército.
 
No pátio, apresta-se a 2ª. Bateria. O Coronel Amerino Raposo, 90 anos, descendente  remoto do Bandeirante Raposo Tavares  comandou a Linha de Fogo em 1945, e com emoção transmite vibrante saudação aos jovens formados à sua frente.

Hoje, passados 67 anos as mesmas peças originais da bateria novamente disparam uma salva sob seu comando, ressoando pelos ares de Barueri para lembrar este momento de glória das armas nacionais, quando em apoio ao I Batalhão do 6° Regimento de Infantaria foi empregada contra a tropa alemã em movimento para o Norte, que entraria para a História Militar Brasileira como a manobra de Collecchio – Fornovo di Taro que culminou na captura da 148ª Divisão de Infantaria alemã, e da Divisão Bersaglieri Itália, fazendo mais de 16 mil prisioneiros, sendo  2 generais, Otto Freter Pico e Mario Carloni.
 
Além do Cel Amerino, apenas mais 2 velhos artilheiros que viveram aquele momento ainda estão em condições de participar da reconstituição acionando o disparador. Orgulhosamente os ex-combatentes Kodama e Leal guarnecem 2 peças.
 
A Poderosa Artilharia faz estremecer os ares.  A fumaça branca se dispersa levada pelo vento. A tropa se prepara para o desfile. Os velhos artilheiros pensam nos irmãos de armas não mais aqui presentes e aqueles que não voltaram. Não existe consolo, mas suas almas se elevaram pela certeza de que um mundo melhor passaria a existir.
 
Ao final a guarnição da saudade desfila diante do palanque onde estavam altas autoridades militares, o Comandante Militar do SE, Comandante da 2ª. DE, Comandante da 12ª. Brigada de Infantaria Leve Aeromovel de Caçapava, ChEM do CMSE,  Comandante do Grupo, Prefeito,  ilustres personalidades.
 
Dos simples soldados aos coronéis e generais que comandaram o Grupo, e ao general de 4 estrelas, todos se irmanam na cadencia do bumbo no pé direito. Não fica bem para um velho soldado chorar, mas percebe-se que muitos estão emocionados, e não conseguem conter uma lágrima furtiva …   Há 30, 40, 50 anos eles eram um daqueles rapazes que estavam em forma, militares jovens e esbeltos, cabelos pretos aparados, coração cheio de esperança.
 
A solenidade vai terminando. Os convidados visitam o bem cuidado museu.  Junto com outros troféus, a bandeira com a malfadada suástica. O belíssimo Monumento merece sempre grandes atenções, pela beleza singela e nobre significado,  contendo os nomes dos nossos Heróis. A seu lado o nicho de Santa Barbara acolhe os fieis, artilheiros a quem a Santa protege.
 
Os Veteranos da FEB e da AGRUBAN vão retornar para casa, a esperança de no próximo ano estarem juntos mais uma vez.  Despedidas  já com saudades, a visita foi curta. Pensam nos irmãos de armas que não estão mais aqui. Não existe consolo, mas suas almas se elevaram na certeza de que um mundo melhor passaria a existir.

Os Veteranos se impressionam com a evolução da mancha urbana, eles que conheceram a região ainda quase virgens. O adensamento populacional estancou diante do quartel, mas é impressionante como aquelas chácaras se transformaram em alphavilles, hotéis, prédios imensos, apenas o gigantesco e querido quartel garantindo a preservação das matas, o ar puro em sua imensidão, que traz pássaros esvoaçantes alegrando a formatura com seus piares.

Imersos em pensamentos, retornam ao mundo do dia-a-dia deixando as recordações do passado… Velhos Artilheiros, cumpriram seu dever, honrando a memória da nossa gente.  Simplesmente foram Soldados – do Exercito de Caxias  – da Artilharia de Mallet, a bradar o eterno e sagrado comando,  que ecoou em Tuiuti, Fornovo di Taro, e agora em Barueri:
 
Peça, Fogo ! ! !
“ Peça Atirou !!! “
 
 

“ Ma Force d’en Haut “
Minha Força vem do Alto
Brasão d’Armas do Marechal Mallet
Patrono da Artilharia Brasileira

Nota DefesaNet – Israel Blajberg é o autor do livro "Soldados que vieram de longe", que retrata a participação de soldados judeus na Força Expedicionária Brasileira (FEB)

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