Após ter suas algemas retiradas na primeira sessão de seu julgamento pelos atentados de Oslo em 2011, nesta segunda-feira, Anders Behring Breivik depositou sua mão direita ao peito para depois fechar o punho e erguer o braço. Com o gesto, Breivik, acusado pela morte de 77 pessoas, retoma uma longa tradição do gesto que remonta a diferentes épocas e ideologias – muitas vezes contraditórias entre si.
No estudo A saudação romana, Martin Winkler foi a fundo nas raízes do hábito. De acordo com ele, não se sabe quando o gesto foi cunhado, embora um de seus registros mais antigos seja a pintura O Juramento dos Horácios (1784), de Jacques-Louis David. Séculos depois, o sinal acabou sendo adotado tanto por nazistas e comunistas, puristas arianos e defensores dos negros. O nome pelo qual é conhecido hoje – saudação romana – é obra dos fascistas na década de 1920.
Entre seus adeptos mais famosos estão os dois grandes líderes da extrema-direita da primeira metade do século XX: primeiro Benito Mussolini, da Itália fascista, e depois Adolf Hitler, da Alemanha nazista. No entanto, grupos de militância de esquerda também adotaram o sinal. Na União Soviética, os Jovens Pioneiros transformou o gesto abrindo a mão; outros grupos comunistas costumavam fechar o punho para simbolizar unidade e solidariedade. O punho erguido, por sua vez, foi empregado por uma gama de outros movimentos, como os de defesa da liberdade civil e do feminismo.
A ampla e múltipla carga política do gesto ultrapassou as manifestações ideológicas puras. Nos Jogos Olímpicos de 1968, dois atletas americanos negros (Tommie Smith e John Carlos) protestaram com o gesto na cerimônia de entrega das medalhas e acabaram suspensos pelo Comitê Olímpico Norte-Americano. No cinema, Charlie Chaplin deu-lhe novo escopo na sua leitura do nazismo na obra-prima O Grande Ditador. O Peter Sellers também lhe faz referência no seu personagem-título de Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick.
Recentemente, a série de livros e de filmes "The Hunger Games" revisitou o gesto por meio de uma saudação de três dedos usada em protesto por uma nação oprimida. No livro, a personagem diz que o gesto significa agradecimento e admiração. Já para Breivik, acusado pelo pior atentado terrorista da Noruega contemporânea, o punho cerrado representa "força, honra e desafio contra os tiranos marxistas da Europa". Breivik, responsável pela morte de 77 pessoas em pleno centro de Oslo e em uma ilha pacífica dos arredores da cidade, planeja alegar "legítima defesa".