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Relação ‘distante’ deve ser desafio para Dilma nos EUA

Pablo Uchoa e Caio Quero

Embora os Estados Unidos sejam o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, e os dois países tenham uma série de desavenças comerciais e divergências políticas pendentes, o encontro entre Dilma e o presidente americano Barack Obama em Washington, nesta segunda-feira, e a visita da presidente a Boston, na terça, devem ser marcados por anúncios e parcerias relacionados principalmente às áreas de ciência, educação, tecnologia e inovação.

Temas mais espinhosos, como um eventual apoio dos Estados Unidos à ambição do Brasil por um assento permanente em um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado, provavelmente não devem registrar maiores avanços, na opinião de analistas consultados pela BBC Brasil.

Um dos focos da visita deve ser o programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, que prevê a concessão de 75 mil bolsas de estudos para pesquisadores e estudantes brasileiros em universidades de diversos países. Atualmente 800 bolsistas brasileiros já estudam nos EUA como parte do programa.

Distância

Para Peter Hakim, presidente-emérito do instituto de análises políticas Inter-American Dialogue, embora temas como educação, ciência e tecnologia sejam importantes no longo prazo, o foco nestas questões pode ser uma indicação das distâncias entre os dois governos.

"(Estes temas) podem ser de grande importância no longo prazo, mas não devem ser objeto de envolvimento presidencial. Eles demostram a escassez de consultas e negociações entre Brasil e Estados Unidos", disse.

Segundo o analista, embora as relações entre Brasil e EUA sejam 'amigáveis', há uma dificuldade em torná-las mais produtivas.

"Nem os Estados Unidos nem o Brasil têm ideias sérias sobre o que pode ser feito para tornar a relação mais produtiva e cooperativa. Claro que as relações são majoritariamente amigáveis e cordiais, apesar de muitos desacordos e algumas disputas abertas. Os dois governos se acomodam e se toleram enquanto mantém sua distância", diz.

Avanços

Já para Julia Sweig, diretora de Estudos Latino-Americanos do think-tank Council on Foreign Relations, desde a visita de Obama ao Brasil, em março do ano passado, já foram registrados avanços nas relações entre os dois países, como o fim da tarifa imposta pelos EUA à importação de etanol brasileiro, que estava em vigor há mais de 30 anos e não foi renovada pelo Congresso americano, no último mês de dezembro.

"Eu não vejo as coisas de maneira tão negativa, provavelmente porque estou vendo as coisas de um modo mais histórico (…). O Congresso (americano) eliminou o a tarifa sobre o etanol (brasileiro), que era um grande assunto da agenda brasileira", disse Sweig em entrevista concedida pelo telefone.

Embora a maioria dos analistas afirme ser improvável que a visita da presidente Dilma resulte no anúncio de mudanças significativas nas relações entre os dois países, na opinião de Abraham Lowenthal, professor-emérito de Relações Internacionais da University of Southern California, o sucesso da viagem presidencial dependerá da capacidade dos dois governos de intensificarem a cooperação bilateral.

"O grande significado de tais visitas presidenciais, em minha opinião, tem mais relação com os sinais que os presidentes enviam a suas burocracias e públicos nacionais do que com ocasiões para mudanças dramáticas de abordagem e política", disse Lowenthal em entrevista à BBC Brasil.

"A visita está estimulando ambos os governos a registrar progressos em temas específicos: oportunidades educacionais, cooperação tecnológica e perspectivas de cooperação em exploração e produção de petróleo e de energias renováveis. Se os dois governos continuarem a construir a cooperação nestes temas, a visita certamente será bem sucedida.

Irã e Conselho de Segurança

No campo da política internacional, no entanto, Brasil e Estados Unidos vêm divergindo principalmente no que diz respeito ao modo como lidar com o programa nuclear iraniano e em relação à intervenção das forças da Otan na Líbia.

Durante visita à Índia, no final de março, Dilma defendeu o direito de países desenvolverem programas nucleares para fins pacíficos e criticou a intensificação de sanções contra o Irã, cujo programa nuclear é visto por EUA, Israel e países europeus como um meio de desenvolver armas atômicas, o que o governo de Teerã nega.

O país já havia sido motivo de divergências com os Estados Unidos, quando, em maio de 2010, Brasil e Turquia mediaram um acordo sobre o programa nuclear iraniano que foi posteriormente rejeitado pelo governo americano.

Na opinião de Peter Hakim, o tema continua a ser crucial para o governo americano, principalmente em um ano de eleição presidencial. Segundo o analista, a posição brasileira em relação ao Irã pode ser um dos motivos que levam os Estados Unidos a não anunciarem uma apoio à entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

"Um apoio deixaria Obama vulnerável a acusações de que estaria premiando um país que apóia o Irã", disse.

Já para Julia Sweig, os governos de Estados Unidos e Brasil têm conhecimento das posições um do outro sobre a questão e as discussões sobre o tema devem transcorrer sem maiores surpresas.

"Eu acho que a grande lição que foi aprendida desde a Declaração de Teerã de maio de 2010 a respeito do Irã e de outras questões de segurança internacional entre EUA e o Brasil é a de administrar os desacordos. Eu não acho que haverá nenhuma surpresa no modo como a presidente Dilma e o presidente Obama irão discutir a questão do Irã".

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