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América Latina falará de igual para igual com EUA em cúpula

A América Latina, que participou há quase duas décadas da primeira Cúpula das Américas dividida e em meio a uma de suas inúmeras crises econômicas, chegará em Cartagena como uma região mais próspera e unida, e capaz de dialogar de igual para igual com os Estados Unidos. O Brasil é um dos melhores exemplos dessa América Latina independente: o país se tornou recentemente a sexta economia mundial, vem aumentando seu peso político regional e deseja se consolidar como uma potência global.

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil será neste ano uma das locomotivas da América Latina, que terá um crescimento da economia de 3,3%. A região será uma das poucas que se expandirá mais que a média mundial, de 3%. Em boa parte devido à crise que sofre há quatro anos, os Estados Unidos perderam influência econômica na região. Um relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) diz que a participação dos EUA no comércio latino-americano caiu de 59,7%, em 2000, para 40,1%, em 2010.

Neste período, a região apontou seu horizonte principalmente para a China. Desde 2006, calcula-se que o comércio entre o gigante asiático e a América Latina, centrado sobretudo na aquisição de matérias-primas e alimentos por parte da China, aumentou 160%. Já a movimentação financeira entre as duas partes em 2011 foi de US$ 180 bilhões.

Numa recente visita a Brasília, a secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, admitiu em declarações à Agência Efe que parte do progresso da região se deve a essa relação privilegiada com a China.

No entanto, alertou que esses vínculos possuem riscos, pois podem gerar uma "nova dependência" e atrasar um processo de modernização industrial que a América Latina deve empreender para superar sua condição de mero exportador de matérias-primas.

Além dessas reviravoltas comerciais e econômicas, a região tem hoje uma realidade política muito diferente da de 1994, quando foi realizada a primeira Cúpula das Américas, época em que a América Latina vivia os efeitos da gravíssima crise originada no México e que ficou conhecida como "Efeito Tequila".

Promovida pelo Brasil, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) se tornou um mecanismo de diálogo político sem a tutela dos Estados Unidos capaz de abrigar todas as tendências políticas regionais.

Na Celac, os governos conservadores do México, Colômbia e Chile, os radicais da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba), e os moderados Peru, Brasil e Uruguai, entre outros, começaram a conviver e a definir pontos comuns em meio à diversidade.

Segundo relatório divulgado no ano passado pelo instituto Diálogo Interamericano, com sede em Washington, a Celac, assim como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que também foi promovida pelo Brasil, são provas concretas de que os Estados Unidos já não têm a influência política que tinham na região durante a segunda metade do século 20.

Nessa mesma linha, um diplomata brasileiro disse à Agência Efe que "não deixa de ser paradoxal" que a Cúpula das Américas, nascida de uma iniciativa dos Estados Unidos, seja agora um dos palcos em que as políticas de Washington recebem mais críticas.

A Casa Branca começou a ouvir questionamentos antes da própria cúpula, devido a sua recusa de convidar Cuba para o evento, justificando o fato pela falta de liberdade política na ilha.

O presidente do Equador, Rafael Correa, que pediu que os integrantes da Alba não participem do evento como forma de boicote, já confirmou que não irá para Cartagena.

Se o resto do grupo dos radicais concordar com a iniciativa, com certeza a cúpula se transformará numa dor de cabeça para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Nos países mais influentes da Alba, como Venezuela, Equador e Bolívia, os EUA não têm atualmente embaixadores em função de divergências políticas. A nomeação do embaixador americano na Nicarágua só ocorreu na semana passada.

Essas divergências políticas e ideológicas deverão aflorar numa reunião na qual Obama também chegará em condições diferentes da cúpula que participou no início de seu mandato, em 2009.

Em Trinidad e Tobago, Obama estava há poucos meses na presidência e todos os líderes latino-americanos concordavam que sua figura representava um sopro de esperança para uma nova relação entre os EUA e a América Latina.

Agora, Obama chegará em plena campanha para reeleição e encontrará muitos líderes latino-americanos, não só da Alba, convencidos de que o presidente americano deu às costas para a região durante seu primeiro mandato.

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