Brasília – A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, participará esta semana de uma reunião das potências emergentes que compõem o Brics – cujas parcerias podem ajudar o Brasil a assegurar seu posto sexta economia mundial – em Nova Délhi e aproveitará a viagem para obter informações sobre o caça francês Rafale, que tem sido analisado pelo governo indiano.
Os líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reunirão pela quarta vez na quinta-feira, com uma agenda principalmente econômica em meio à crise internacional, explicou a subsecretária política da chancelaria brasileira, Maria Edileuza Reis.
"O principal ponto da agenda é a proposta de criar (no futuro) um banco dos Brics" destinado a financiar investimentos e projetos de infraestrutura, informou o ministro de Indústria, Fernando Pimentel.
Dilma terá também encontros bilaterais com cada um dos líderes fora da cúpula, na qual o Brasil chega como a sexta economia do planeta, depois de superar a Grã-Bretanha.
Os países membros do Brics (termo cunhado no início da década passada para denominar as grandes economias emergentes e de rápido crescimento do planeta) representam cerca de 19% do PIB mundial. Estima-se que este ano, os Brics contribuirão com cerca de 56% do crescimento mundial e os países do G7 somente com 9%, segundo dados do governo brasileiro.
"Roussef vê nos Brics a oportunidade de diversificar as relações econômicas do Brasil e fortalecer os laços com os países emergentes", explicou Oliver Stuenkel, coordenador da Escola de História e Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, que participou da delegação brasileira em um recente fórum de intelectuais do grupo.
Apesar de ser visto como um grupo improvável, que reúne nações com tamanhos e interesses absolutamente díspares, "não há dúvidas de que o Brics continuará se encontrando e os laços se fortalecerão", avalia Stuenkel, para quem o "grande desafio (…) será criar uma agenda" que vá "mais além" dessa imagem de oposição que propõem as grandes nações industrializadas.
Herdeira política de Luis Inácio Lula da Silva, que apostou em aprofundar relações com outros países emergentes, Dilma Rousseff partiu no domingo à noite em direção à Índia.
Cooperação militar e caças
Depois da cúpula do grupo Brics, Dilma dará início a uma visita bilateral a Índia, com quem o Brasil integrou em 2003 o fórum IBAS (Índia-Brasil-África do Sul) e que pode ser chave para a decisão de Brasília sobre a compra de 36 aviões caças.
Na licitação, estimada em 5 bilhões de dólares, competem os caças Rafale da francesa Dassault, o F/A-18 Super Hornet da americana Boeing e o Gripen NG da sueca Saab.
Analistas e fontes do governo brasileiro disseram que a decisão da Índia de entrar em negociações exclusivas com a França para a compra de 126 Rafales – uma licitação estimada em 12 bilhões de dólares – pode ajudar a convencer o Brasil a optar pelo mesmo avião.
A subsecretária política da chancelaria brasileira reconheceu o interesse do Brasil por uma "troca de ideias e impressões" sobre a recente opção indiana pelo Rafale.
"A decisão da Índia, não formalizada, pode ter um impacto na decisão do Brasil, porque mostra que o Rafale (que até agora nunca foi vendido a outro país) já tem um cliente", disse à AFP o diretor do site especializado Defesanet, Nelson During.
O Brasil e a Índia poderiam ressuscitar "um velho projeto debatido entre ambos os países em 2002, de se articular para produzir um mesmo avião", nessa época o francês Mirage, acrescentou During.
O Brasil e a Índia negociam um possível acordo técnico-militar, explicou a responsável da chancelaria. "É extremamente interessante" que os dois países debatam um acordo militar, já que "poderia haver muitas complementaridades na área industrial", disse During.
O Brasil não tomará uma decisão sobre os aviões caças antes da viagem de Dilma à Índia, sua reunião com o presidente americano Barack Obama na Casa Branca dia 9 de abril e as eleições francesas de maio, informou recentemente uma alta fonte do governo.