A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou nesta quinta-feira a publicação de um relatório secreto sobre a atuação da última ditadura militar (1976-1983) durante a guerra que seu país e o Reino Unido travaram há 30 anos pela soberania das Ilhas Malvinas.
O Relatório Rattenbach, que já foi publicado por uma revista em 1983, pode ser encontrado no site oficial da Presidência argentina, depois que uma comissão do Ministério da Defesa e da Chancelaria o entregou à governante. "Esta é a história dos argentinos em sangue vivo", comentou a presidente.
O documento, de 17 tomos, foi elaborado pelo militar Benjamín Rattenbach após um decreto de Reynaldo Bignone, o último dos quatro presidentes da ditadura, e em novembro de 1983 foi classificado como segredo político e militar pelo regime.
O relatório foi elaborado a partir da investigação e a análise do desempenho e da responsabilidade da condução política e estratégico-militar do conflito bélico.
O texto qualifica de "aventura militar" a tentativa argentina de recuperar as Malvinas, sob domínio britânico, não estabelece o custo da guerra "pelos critérios diferentes de cada uma das forças" e recomenda severas sanções aos integrantes da Junta Militar, entre elas a possibilidade de pena de morte para o ditador Leopoldo Galtieri.
O documento assinala que ninguém no governo de fato considerava possível que o Reino Unido enviasse tropas para recuperar as ilhas e relata como foi encolhendo a margem de manobra do regime militar, desde reivindicar a soberania do arquipélago até a oferta de retirar as tropas.
O texto alude a "falhas de coordenação" entre as Forças Armadas, aos "erros" de Mario Benjamín Menéndez, que fora o governador militar das ilhas após o desembarque argentino, e à "falta de presença" de chefes militares na frente de batalha.
Os investigadores militares consideraram que todas as tarefas de comunicação, logística e tática foram "ineficientes", condenaram o "excesso de otimismo e a incapacidade para o planejamento das operações bélicas" e o fato de terem sido enviados às ilhas "jovens soldados sem a devida capacitação".
A publicação do relatório coincide com o aumento da tensão com o Reino Unido pela questão das Malvinas, às vésperas do 30º aniversário do começo da guerra, que vitimou 255 britânicos, três moradores das ilhas e 649 argentinos.