Prever as ações e intenções do regime dos aiatolás do Irã é uma das maiores dores de cabeça dos órgãos de inteligência. A maior preocupação é com o programa nuclear, mas sobram dúvidas. "Não acreditamos que hajam de fato decidido ter armas atômicas", disse o diretor nacional de Inteligência dos EUA, James Clapper.
Para a maioria, no entanto, trata-se de saber quando de fato os líderes iranianos terão pronta sua arma nuclear e, num segundo estágio, mísseis capazes de transportá-la a longa distância. Setores-chave na liderança de Israel não querem pagar para ver e defendem uma ação militar o quanto antes contra as instalações nucleares do Irã. Os EUA, agindo com acerto, vêm trabalhando para conter os israelenses.
A questão se torna ainda mais intrincada na reta final para as eleições legislativas de sexta-feira no Irã, quando se sabe que há uma intensa pancadaria interna no regime entre os ultraconservadores do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, e os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
É a primeira votação nacional desde as eleições presidenciais de 2009, fraudadas, em que Ahmadinejad foi reeleito e multidões saíram às ruas em protesto, sofrendo violenta repressão por parte das forças de segurança do regime. Khamenei teme que isso volte a acontecer, no momento em que o governo está desgastado pela piora da situação econômica do país, atingido por sanções ocidentais em razão da insistência na opção nuclear.
Nesse contexto, é mais difícil saber se são para valer ou para consumo interno as ameaças do Irã – como o fechamento do Estreito de Ormuz, suspensão de venda de petróleo a vários países da Europa e ações militares para prevenir um possível ataque, como o que estaria sendo planejado em Israel. A busca de inimigos externos é sempre uma saída quando regimes ditatoriais se veem acuados por problemas internos que ameaçam sua popularidade.
No momento, a situação é confusa. Resta esperar para ver se as forças políticas ultraconservadoras do líder Khamenei conseguirão, no pleito de sexta, neutralizar os adeptos de Ahmadinejad, que ascendeu à presidência defendendo a volta às origens da Revolução Islâmica, mas que em algum momento perdeu o apoio de Khamenei.
Um porta-voz da União Europeia considerou "basicamente satisfatória" uma oferta do Irã para o reinício das negociações sobre seu programa nuclear, que envolvem ainda EUA, Rússia e China. O mais prudente parece ser aguardar o resultado das eleições para ver se a proposta iraniana tem consistência.