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Síria pode repetir o destino do Iraque

Andrêi Iliachenko

Na última terça-feira (7), o chanceler russo, Serguêi Lavrov, e o chefe da inteligência exterior russa, Mikhail Fradkov, se reuniram em Damasco com o presidente sírio, Bashar al Assad, para discutir o conflito interno na Síria.

Em primeiro lugar, decidiu-se intensificar os esforços para pôr à mesa de negociações as partes em conflito, ou seja, o governo e a oposição.

“É óbvio que os esforços para acabar com a violência devem ser acompanhados de um diálogo entre todas as forças políticas”, disse o ministro do Exterior russo após o encontro em Damasco. “Recebemos hoje a confirmação de que o presidente da Síria está disposto a contribuir para esse trabalho.”

Ainda de acordo com Lavrov, citado pela agência Itar-Tass, o governo sírio pediu à Rússia para influenciar os “grupos oposicionistas que não aceitam, por enquanto, dialogar”. Por isso, a Rússia continuará trabalhando  com diferentes grupos da oposição síria, explicou o ministro. “Mas aqueles que têm sobre eles maior influência do que a Rússia também devem trabalhar com esses grupos”, completou.

Em artigo publicado na Gazeta Russa, o ex-ministro das Relações Exteriores russo, Evguêni Primakov, disse que “apesar de ouvirmos entre os opositores algumas vozes favoráveis a um diálogo com a liderança da Síria, a oposição se recusa terminantemente a fazer contato, rejeitando todas as numerosas tentativas de iniciar negociações para pôr fim ao derramamento de sangue”. “É possível que as ações externas tenham desempenhado um papel fatal nisso”, declarou o ex-chanceler, em aparente alusão às forças internacionais interessadas em manter o conflito aceso.

Lavrov reiterou a proposta russa de convocar negociações entre as partes beligerantes sírias em Moscou com a mediação do Kremlin. Em uma declaração sobre os resultados do encontro do presidente Assad com Serguêi Lavrov, a diplomacia síria salienta que o presidente se reafirmou disposto a enviar uma delegação oficial do governo sírio para um encontro em Moscou.

 Se a oposição se recusar novamente a negociar, isso não só prejudicará sua reputação mas também reforçará a posição internacional da Rússia, empenhada em fazer com que a comunidade internacional reconheça tanto a responsabilidade de Damasco quanto da oposição pelo derramamento de sangue, que já dura 11 meses.

Segundo a agência Interfax, após o encontro, Serguêi Lavrov disse: “O presidente Assad disse que iria se reunir nos próximos dias com a comissão que elaborou o projeto de nova Constituição do país. Os trabalhos estão concluídos. Agora será anunciada a data de um referendo sobre esse documento importante para a Síria”.

“O governo sírio declarou o fim do estado de emergência e do monopólio do partido governista Baas, a implantação do multipartidarismo e a realização de eleições democráticas do presidente e do parlamento. A oposição não deu um só passo ao seu encontro. Mesmo assim, aparentemente, ao lado do governo de Bashar al Assad está boa parte, para não dizer a maior parte, da população do país”, disse Evguêni Primakov, cuja carreira está muito vinculada ao Oriente Médio.

Depois que a Rússia e a China vetaram, no último sábado (4), o projeto de resolução sobre a Síria no Conselho de Segurança da ONU, o descontentamento do Ocidente ultrapassou os limites imagináveis. Para Lavrov, algumas críticas às ações de Moscou no Conselho de Segurança são indecorosas e estão à beira da histeria.

Os EUA fecharam sua embaixada em Damasco e outros países ocidentais retiram seus embaixadores da Síria. Foi posta em circulação a tese sobre a necessidade de criar uma coalizão de “amigos da Síria”. Tudo isso não representa apenas passos para o isolamento internacional do país, mas o início da formação de uma frente antisíria, que faz lembrar vividamente a criação da coalizão anti-iraquiana, iniciada com o desmantelamento do regime de Saddam Hussein sem a aprovação da ONU.

Essa conduta pode levar ao surgimento de mais uma área conflagrada no Oriente Médio e à desestabilização de todo o sistema das relações internacionais baseado no papel central da ONU na manutenção da segurança internacional.

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