Parlamentares americanos se comprometeram a analisar todos os documentos que comprovam que os pilotos do jato Legacy Joseph Lepore e Jan Paul Paladino foram culpados pela colisão com o Boeing 1907 da Gol, ocorrida em setembro de 2006, que deixou 154 mortos, de acordo com a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907.
Nessa terça-feira foi o primeiro dia de reuniões da Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal brasileira com os congressistas americanos. Os deputados Tom Petri, Nick Rahall, Steve Cohen e Devin Nunes se solidarizaram com a causa, comprometendo-se a analisar os documentos levados pela comitiva brasileira. Além disso, se mostraram interessados em conhecer os fatores que levaram à tragédia, pois desconheciam os reais motivos do acidente. Tom Petri, presidente da Subcomissão de Aviação da Câmara dos EUA, comprometeu-se a dar um retorno nas próximas semanas aos representantes do governo brasileiro.
A comitiva brasileira, liderada pelos deputados federais Dimas Ramalho (PPS-SP) e Geraldo Thadeu (PSD-MG), foi aos Estados Unidos para acompanhar, junto a entidades governamentais, as providências que devem ser adotadas pelo FAA (órgão que regula a aviação nos EUA), a pedido da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em relação ao acidente. O Itamaraty agendou encontros com deputados e parlamentares americanos.
O grupo irá cobrar a tomada de providências da FAA quanto à cassação do brevê dos pilotos, em virtude da condenação definitiva que sofreram no processo administrativo movido pela Anac.
O acidente
O voo 1907 da Gol, que fazia a rota Manaus-Rio de Janeiro, com escala em Brasília, caiu no norte do Mato Grosso, em 29 de setembro de 2006 e matou os 148 passageiros e seis tripulantes. O acidente ocorreu após uma colisão com um jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer, que pousou em segurança numa base aérea no sul do Pará.
Os pilotos do Legacy, os americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, são acusados de não terem acionado o Sistema de Alerta de Tráfego e Prevenção de Colisão (TCAS), equipamento responsável pelo contato entre a aeronave e as torres de transmissão. A denúncia do Ministério Público Federal, apresentada em maio de 2007, relata que o transponder do avião da Gol permaneceu ligado durante todo o voo, mas o do Legacy, a partir de um certo momento, foi desligado. O transponder é um aparelho que interage com os radares secundários do controle aéreo e com outros transponders, fornecendo informações sobre a posição e o deslocamento das aeronaves.
A sequência de erros que causou o acidente passou também por uma falha de comunicação entre controladores brasileiros e pilotos do jato, que, sem entender as instruções, teriam posto a aeronave na mesma altitude do voo da Gol, 37 mil pés. Em maio de 2007, os pilotos e quatro controladores de voo foram denunciados pelo Ministério Público Federal por crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo nacional. Os americanos foram absolvidos da acusação de negligência em dezembro de 2008, mas, em 2010 a Justiça anulou a absolvição e ordenou o reinício do julgamento.
Em maio de 2011, eles foram condenados pela Justiça de Mato Grosso a quatro anos e quatro meses de prisão em regime semiaberto por expor a perigo aeronave própria ou alheia e pelo ato ter resultado em morte. A pena, no entanto, foi convertida em prestação de serviço comunitário e proibição do exercício da profissão e seria cumprida nos Estados Unidos, onde os pilotos residem.
Em 2008, os controladores de voo Leandro José Santos de Barros e Felipe Santos dos Reis foram absolvidos sumariamente de todas as acusações pela Justiça Federal. Jomarcelo Fernandes dos Santos também foi isentado do crime, em maio de 2011. Na mesma decisão, a Justiça de Mato Grosso condenou Lucivando Tibúrcio de Alencar a prestar serviços comunitários por atentado contra a segurança do transporte aéreo.
Na Justiça Militar, a ação penal militar para apurar a responsabilidade de cinco controladores que trabalhavam no dia do acidente – quatro denunciados pelo MPF e João Batista da Silva – só foi instaurada em junho de 2008. Em outubro de 2010, quatro deles foram absolvidos – apenas Jomarcelo Fernandes dos Santos foi condenado por homicídio culposo. Ele recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM), mas o órgão manteve a condenação, em fevereiro de 2012.