Tenente Roberta Nunes
Uma corrida contra o tempo! Esse é o lema de quem depende de um novo órgão para sobreviver. Alguns minutos de diferença podem definir o sucesso de um transplante. Para garantir maior agilidade nesse processo, o Centro Nacional de Transplantes conta com o apoio fundamental da Força Aérea Brasileira (FAB). Com apenas duas horas de reação, as tripulações ficam de sobreaviso em tempo integral, e em todo o país, com equipes 24 horas por dia, sete dias por semana, para realizar o transporte de órgãos e tecidos com a maior agilidade possível.
Um coração novo e saudável mudou a história da família da jovem Alicia Alves Silva. Diagnosticada com miocardite, aos dois anos de idade, ela entrou para a fila de transplantes e, com a ajuda da FAB, conseguiu receber o órgão. Hoje, com 12 anos, Alicia esbanja saúde.
“Eu só tinha dois anos quando fiz o transplante, não entendia nada daquilo que estava acontecendo comigo, mas vejo meus pais contando a minha história para as pessoas e sinto uma emoção inexplicável. As pessoas dizem que eu sou um milagre, e eu sei que sem a FAB tudo isso não seria possível. A agilidade no transporte do meu coração contribuiu para o sucesso do meu transplante. Muita gratidão à FAB”, contou Alicia.
“Hoje eu vejo a FAB como uma Instituição que faz parte diretamente da minha família, pessoas que tive o privilégio de conhecer depois e agradecer pessoalmente por tudo que fizeram por nós. Um papel memorável, de extrema grandeza. Somos muito gratos pela FAB ter transportado o coração da Alicia com tanto zelo”, disse Giselly Alves, mãe da jovem.
A FAB faz o transporte das equipes médicas de coleta e dos órgãos que serão transplantados, para os receptores de qualquer lugar do país. Esse apoio sempre foi fornecido pela Força Aérea, mas, desde outubro de 2017, com o Decreto Nº 9.175, a FAB tem que deixar pelo menos uma aeronave disponível para esse tipo de missão, atendendo às requisições do Ministério da Saúde.
“Em termos de legislação, nós temos que manter uma aeronave sempre disponível para cumprir essa missão, mas na verdade nós temos esquadrões de transporte aéreo espalhados em todas as regiões do Brasil, e todos têm uma tripulação de sobreaviso para realizar o transporte de órgãos e tecidos, com equipes 24 horas por dia, sete dias por semana, com tempo de reação de duas horas”, explicou o Chefe do Centro Conjunto de Operações Aeroespaciais, Brigadeiro do Ar Francisco Bento Antunes Neto.
Dados FAB
De acordo com Comando de Operações Aeroespaciais, em 2022, até agora já foram transportados 221 órgãos, em 205 missões, com aproximadamente, 1000 horas de voo. Fígado e coração são os órgãos mais transportados nas asas da FAB.
“Quando nós pensamos em termos de números, pode-se pensar que não é significativo, mas para aquela pessoa que vai receber um coração, àquela família que vai ter uma alegria dessas – de ver um ente querido que está doente se recuperar e ter uma vida longa – é muito importante. Então, cada unidade que nós colocamos aí nesse número de órgãos transportados é importante”, acrescentou o Brigadeiro Antunes.
“Quando somos acionados para uma missão dessas, o sentimento é de gratidão por colaborar com algo tão importante e que, também, exige muito comprometimento e responsabilidade para que tudo ocorra da melhor forma. A sensação de poder ajudar a salvar uma vida é única. Para mim, cada voo desses é muito especial e renova a sensação de dever cumprido com a entrega de resultados à sociedade brasileira”, comentou o Major Aviador Leandro Soriano Evangelista, do Sexto Esquadrão de Transporte Aéreo (6º ETA).
Acionamento
Todo o processo de transporte de órgãos, tecidos e partes do corpo humano é iniciado quando a Central Nacional de Transplantes (CNT) é informada por alguma central estadual sobre a existência de órgão e tecido em condições clínicas para tal propósito. A CNT aciona as companhias aéreas para verificar a disponibilidade logística. Se houver voo compatível, os aviões comerciais recebem o órgão e levam ao destino. Quando não há, a Central contata a FAB, que desloca um ou mais aviões para a captação e transporte do órgão.
Os pedidos chegam ao Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), localizado em Brasília (DF), que é responsável pelo planejamento das missões. É lá onde há uma divisão de operações correntes, com várias células: algumas cuidando da defesa aeroespacial, outras do salvamento e resgate, e uma delas está dedicada 24h por dia a estar em condições de receber esse chamamento por parte da CNT. Então, é essa célula que vai planejar como a missão vai acontecer e fazer as coordenações necessárias. A cobertura desse serviço abrange todo o país.
Dia Nacional da Doação de Órgãos
O Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado em 27 de setembro, visa conscientizar a sociedade sobre a importância da doação e, ao mesmo tempo, fazer com que as pessoas conversem com familiares e amigos sobre o assunto.
Fotos: Suboficial Johnson e Sargento Viegas / CECOMSAER