O tom sobe desde segunda-feira (20) entre a Rússia e a Lituânia, que impôs restrições ao trânsito de algumas mercadorias por ferrovia até o enclave russo de Kaliningrado. Moscou afirma que caso a situação não seja normalizada, vai "agir para defender os direitos nacionais".
Membro da União Europeia (UE), a Lituânia aguarda uma reação do bloco, sob muito nervosismo. Desde o último fim de semana, o governo do país começou a aplicar as sanções europeias contra a Rússia. Em decorrência das sanções, o trânsito de algumas mercadorias por via férrea em direção a Kaliningrado – enclave russo localizado entre a Lituânia e a Polônia – foi interrompido.
Entre os produtos atingidos pelas medidas europeias estão equipamentos tecnológicos, material de construção, metais e carvão. O governo lituano alega que as restrições não foram impostas por sua vontade, mas após decisão da UE, em resposta à invasão russa na Ucrânia.
"Não é a Lituânia, são as sanções europeias que entraram em vigor em 17 de junho", declarou o chefe da diplomacia lituana, Gabrielius Landsbergis. Neste contexto, "as mercadorias sancionadas (…) deixarão de ser autorizadas a transitar pela Lituânia", especificou o ministro.
O serviço alfandegário do país também tentou intervir, ressaltando que o transporte em direção de Kaliningrado não foi completamente interrompido. "Os trens de passageiros continuam a circular, bem como as mercadorias que não são visadas pelas sanções", indicou Lina Laurinaityte-Grigiene, do serviço aduaneiro lituano.
A Rússia rejeita as explicações e ameaça retaliar. O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrouchev, classificou a restrição como "hostil" nesta terça-feira (21). "Medidas adequadas estão sendo elaboradas e serão anunciadas em breve.
Suas consequências terão um impacto negativo e forte à população da Lituânia", advertiu. O ministério russo das Relações Exteriores também convocou o embaixador da União Europeia em Moscou, Markus Ederer, para tratar sobre a questão.
Em um comunicado, a diplomacia russa acusou a UE de encorajar uma "escalada de tensão" e exigiu o restabelecimento imediato do trânsito de mercadorias da Lituânia para Kaliningrado. Descrevendo a situação como "desagradável, mas superável", o governador do enclave, Anton Alikhanov, anunciou que as mercadorias que não podiam mais passar pela ferrovia começariam a ser transportadas por via marítima "dentro de uma semana".
Ele acusou os lituanos de estabelecer um "bloqueio" e estimou que entre 40% e 50% das importações do enclave poderiam ser afetadas pelas restrições.
Relações delicadas
As relações entre a Rússia e os países bálticos, incluindo a Lituânia, são delicadas há anos. Primeira república soviética a declarar sua independência, em 1990, a Lituânia é hoje membro da Otan e da União Europeia.
Já o enclave russo de Kaliningrado, à beira do Mar Báltico, era uma cidade prussiana, chamada de Königsberg, até ser conquistada pela União Soviética em 1945, quando derrotou a Alemanha nazista. A região é separada do resto da Rússia e faz fronteira com a Polônia a oeste, e com a Lituânia a leste.
É lá que fica ancorada a frota russa do Mar Báltico e onde Moscou afirma ter implantado mísseis Iskander, capazes de transportar ogivas nucleares. Apesar das tensões, centenas de trens de passageiros e mercadorias não militares fazem o trajeto entre a Lituânia e Kaliningrado, passando por Belarus através do corredor de Suwalki, para chegar à Rússia.
O trajeto de cerca de 70 quilômetros foi uma das condições impostas pela Lituânia quando passou a integrar a UE. Diante da escalada de tensão, a Ucrânia não tardou a reagir. "A Rússia não tem o direito de ameaçar a Lituânia", declarou o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kouleba. "Saudamos a posição da Lituânia e apoiamos fortemente os nossos amigos lituanos", publicou no Twitter.
Americanos capturados
A tensão também corre o risco de se agravar entre Moscou e Washington, depois que dois americanos que combatiam com as forças ucranianas foram capturados pelo Exército russo. Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, eles devem ser "responsabilizados pelos crimes que cometeram".
Essa foi a primeira reação da Rússia em relação aos dois ex-militares americanos, Alexander Drueke, de 39 anos, e Andy Huynh, de 27 anos. Moscou considera que os dois "se envolveram em atividades ilegais no território da Ucrânia", como disparos e bombardeios e "colocando a vida de soldados russos em perigo".
Enquanto isso, continua a ofensiva russa no leste da Ucrânia. Kiev denunciou nesta terça-feira uma "destruição catastrófica" em Lysychansk, localidade vizinha de Severodonetsk, onde quase 570 pessoas, entre elas 38 crianças, estão refugiadas na fábrica de produtos químicos Azot.
"As últimas 24 horas foram difíceis para as forças ucranianas", afirmou o governador da região de Lugansk, no leste. Um terço de Severodonetsk permanece sob controle de Kiev. A cidade é considerada uma etapa crucial para a conquista integral do Donbass, uma região parcialmente administrada pelos separatistas pró-Rússia, desde 2014.
Outras localidades do Donbass que permanecem sob controle de Kiev se preparam para lutar contra as tropas russas, como Sloviansk e Kramatorsk, ao leste de Severodonestk. (RFI com agências)