Gustavo Brigatto
O Exército brasileiro decidiu usar armas nacionais para se defender no ciberespaço: concluiu duas licitações, no valor total de R$ 6 milhões, para a compra de sistemas antivírus e de um simulador de guerra cibernética produzido pelas empresas brasileiras BluePex, de Campinas (SP) e Decatron, do Rio. O investimento faz parte das ações para reforçar a defesa e se preparar para contra-atacar ameaças cibernéticas. "Queremos estar com um nível tecnológico bastante avançado até 2015", diz o general Antonino Santos Guerra, do Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército. "Vamos nos defender, mas também nos preparar para o ataque. O Exército é escudo e também espada"
O Exército brasileiro decidiu usar armas nacionais para se defender no ciberespaço. A corporação concluiu duas licitações com valor total de pouco menos de R$ 6 milhões para a compra de sistemas antivírus e de um simulador de guerra cibernética. Os contratos foram vencidos pela BluePex, de Campinas (SP), e pela Decatron, do Rio.
O investimento faz parte das iniciativas do Exército para se preparar para eventuais contra-ataques a ameaças cibernéticas. "Queremos estar com um nível tecnológico bastante avançado até 2015", diz o general Antonino Santos Guerra, comandante do Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército (Ccomgex), órgão responsável pelas duas compras recentes. "Vamos nos defender, mas também nos preparar para o ataque. O Exército é escudo e também espada", diz.
De acordo com Guerra, até o fim do ano podem ocorrer mais quatro pregões. Na lista de compras estão serviços de perícia e equipamentos para detectar acessos não autorizados a redes de computadores, entre outros sistemas.
A preferência por tecnologias nacionais tem dois objetivos, explica Guerra: estimular o crescimento das companhias nacionais de tecnologia da informação (TI) e reduzir a dependência do Exército em relação a fornecedores internacionais.
Tanto nas compras que acaba de fazer, como nas que estão previstas, o Exército vai exigir que as vencedoras das licitações transfiram para a corporação as tecnologias vendidas e as funções desenvolvidas no período do contrato. Com essa medida, o Exército poderá, no futuro, manter suas estruturas funcionando com pessoal próprio.
Para o simulador de guerra cibernética – um sistema de treinamento que permite criar situações fictícias de ataques virtuais a redes de computadores – o general comenta que o Exército deixará de ter problemas com as constantes atualizações dos pacotes de mercado, que exigem o pagamento de licenças para ser renovadas. Por R$ 5,1 milhões, a Decatron está desenvolvendo um sistema novo que começará a ser instalado até o meio do ano, informa Carlos Rust, sócio-diretor da companhia.
No caso do antivírus, o Exército vai substituir os sistemas da espanhola Panda (comprados em 2010), pelos softwares da AVware, uma empresa da BluePex. O contrato de R$ 800 mil prevê que o software, lançado comercialmente em 2011, seja instalado em todos os 60 mil computadores que compõem a rede da corporação, a EBNet.
A companhia também vai treinar os militares nas técnicas de detecção e remoção de ameaças virtuais e criar um centro de análise dedicado em Brasília. Dessa forma, os dados na EBNet não precisarão deixar o ambiente militar para ser avaliados, como acontecia com produtos de outras empresas, diz Jefferson Penteado, presidente da BluePex. "Isso dá segurança ao Exército de que as informações não serão roubadas", afirma.
Guerra diz não tem reservas quanto à utilização de tecnologias desenvolvidas por empresas de pequeno porte, em substituição a produtos de grandes fornecedores internacionais. "A única diferença entre essas empresas é a disponibilidade de capital para ter uma grande estrutura de detecção de vírus. E se a gente não comprar deles [das companhias nacionais], eles serão pequenos sempre", diz. De acordo com o general, as empresas que venderem para o Exército poderão usar as tecnologias desenvolvidas em seus produtos, o que fomentará seu crescimento.
Penteado, da BluePex, afirma que a nova versão do AVware para empresas, que será lançada em fevereiro, vai incorporar algumas funções originadas do contrato com o Exército. "É uma vitrine muito importante", diz.
O plano de defesa cibernética do Exército tomou forma no fim de 2010 e começou a sair do papel no ano passado, com a criação do Centro de Defesa Cibernética, o CDCiber. Comandado pelo Exército, o centro tem o objetivo de reunir as ações de proteção virtual das Forças Armadas.
O centro está sob o comando do general José Carlos dos Santos, paulista de Sorocaba que estava preparando sua aposentadoria quando foi convidado a permanecer por mais quatro anos, por conta de sua experiência nas áreas de comunicações e tecnologia da informação (TI). Em entrevista ao Valor no ano passado, Santos disse que o CDCiber vai precisar de cerca de R$ 100 milhões por ano até 2015.
Para 2012, o orçamento do CDCiber é de R$ 83 milhões. O montante será investido em equipamentos, softwares e capacitação de pessoal. De acordo com Guerra, 500 militares serão treinados na área de defesa cibernética.