Os governantes do Japão, Austrália, Estados Unidos e Índia alertaram nesta terça-feira (24) em Tóquio contra as tentativas de "mudar pela força o status quo" das relações internacionais, em um momento de preocupação crescente com a possibilidade de uma invasão de Taiwan pela China.
Um comunicado conjunto da denominada aliança Quad evita mencionar diretamente a crescente força militar chinesa na região, mas deixa poucas dúvidas sobre suas preocupações.
O documento, em linguagem cautelosa, também cita o conflito na Ucrânia, sem apresentar uma postura conjunta sobre a invasão russa, que a Índia se negou a condenar.
"Com a invasão russa da Ucrânia, que abala os princípios fundamentais da ordem internacional (…) confirmamos que as tentativas unilaterais de mudar o status quo pela força nunca serão toleradas em nenhum lugar, em especial na região Ásia-Pacífico", declarou o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida
Ao lado do chefe de Governo do Japão, a reunião de cúpula contou com as presenças do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e dos primeiros-ministros da Índia, Narendra Modi, e Austrália, Anthony Albanese.
"Nos opomos com veemência a qualquer ação coercitiva, provocativa e unilateral que busque mudar o status quo e aumentar as tensões na região, como a militarização de áreas em disputa, o uso perigoso de navios da Guarda Costeira e milícias marítimas, assim como os esforços para interromper as atividades de exploração marítima de outros países", acrescenta o comunicado.
Horas depois do final da reunião, o Japão afirmou que aviões chineses e russos voaram juntos sobre o Mar do Japão e o Mar da China Oriental, manobras que Tóquio considerou uma "provocação".
"No momento em que a comuniadde internacional responde à agressão da Rússia contra a Ucrânia, o fato de a China executar este tipo de ação em colaboração com a Rússia, que é o agressor, é um motivo de preocupação que não deve ser subestimado", disse o ministro da Defesa, Nobuo Kishi.
Os quatro países do Quad tentam transformar o grupo em um contrapeso ao avanço militar e econômico chinês, apesar de suas divergências.
Para concretizar o objetivo, a aliança apresentou um plano de investimento de pelo menos 50 bilhões de dólares em projetos de infraestrutura na região nos próximos cinco anos, assim como uma iniciativa de vigilância marítima considerada uma forma de fortalecer o monitoramento das atividades chinesas.
As iniciativas respondem à crescente preocupação regional com a atividade militar de Pequim, que inclui voos de aviões de combate, exercícios navais e o cerco a barcos pesqueiros.
Democracia versus autocracia
A aliança também expressou preocupação com os esforços chineses para estabelecer relações com países do Pacífico, como as Ilhas Salomão, que assinou em abril um amplo acordo de segurança com Pequim.
O ministro chinês das Relações Exteriores visitará esta semana as Ilhas Salomão e relatos da imprensa indicam que pode fazer escalas em outros países como Vanuatu, Samoa, Tonga e Kiribati.
Diante do cenário, o primeiro-ministro japonês fez um apelo ao Quad para "ouvir com cuidado" os vizinhos regionais, incluindo as ilhas do Pacífico, "para ajudá-las a resolver os desafios imediatos que enfrentam".
"Se não caminharmos ao lado dos países da região, o Quad não terá sucesso", completou.
O novo primeiro-ministro australiano Albanese também destacou que o bloco precisa "estimular nossos valores compartilhados na região no momento em que a China claramente busca ter mais influência".
O Quad se reuniu um dia depois de Biden declarar que seu país defenderia Taiwan de uma eventual agressão da China, o que sugeriu uma mudança na tradicional "ambiguidade estratégica" de Washington a respeito de Taipé.
A política, implementada desde que Washington mudou o reconhecimento diplomático para Pequim em 1979, consiste que o governo dos Estados Unidos se compromete a fornecer meios de defesa para Taiwan, mas sem deixar claro se optaria por uma intervenção direta.
Nesta terça-feira, Biden afirmou que "a política não mudou em nada".
O porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin, acusou Washington de apostar em um "jogos de palavras" com Taiwan.
"Se os Estados Unidos prosseguirem no caminho equivocado, não apenas terá consequências irreparáveis para as relações sino-americanas, mas também provocará eventualmente em um custo impagável para os Estados Unidos", disse.
No início da reunião, o presidente americano afirmou que "trata-se de democracias versus autocracias. Temos que estar seguros de poder cumprir".
Os governantes do Quad pretendem se reunir novamente no próximo ano na Austrália.