"Estamos a menos de 50 km do front. Os feridos mais graves são trazidos primeiro para esta sala de reanimação. Como você pode ver, bloqueamos as janelas para tornar o local seguro. Evitamos deixar os feridos aqui por muito tempo, pois é arriscado”, relata Yurii, um dos médicos do hospital militar. “Na maioria das vezes, quando a condição do paciente se estabiliza, eles são levados para hospitais civis mais ao norte”, completa.
Entre os feridos está Stepan, um jovem soldado que acaba de chegar da região do Donbass, sem fôlego de tanta dor. "Fui ferido ontem, na região de Donetsk. Um tiro de um tanque russo atingiu nossa posição. O projétil caiu muito perto de nós. Foi uma confusão porque o bunker desabou em cima de nós. Eu fugi, mas tenho muitos hematomas e minhas costas doem. Ao meu lado, um camarada teve a perna amputada e não sobreviveu”, relata o militar.
Segundo o tenente-coronel Viktor Pysanko, diretor do hospital militar, se antes os pacientes davam entrada com ferimentos causados principalmente por explosões, hoje é cada vez maior o número de vítimas de tiros de artilharia. "Os russos fazem isso para tentar empurrar nossas linhas de combate. É um método antigo, já comprovado no Afeganistão e na Chechênia. Eles cobrem tudo com sua artilharia e depois tentam empurrar o front com sua infantaria”, explica.
As autoridades também contam com profissionais de saúde estrangeiros, que ajudam à distância. Um paraquedista, que já havia servido no Kosovo e na República Democrática do Congo, utilizou a sua rede de contatos para desenvolver o uso da telemedicina. Dos Estados Unidos à França, passando por Israel, vários médicos responderam ao chamado do jovem oficial e contribuem com as operações.
No Donbass, a resistência continua
Mais ao leste, na região do Donbass, onde ficam as repúblicas autoproclamadas de Donetsk e Lugansk, a ofensiva lançada há mais de uma semana avança lentamente.
Os bombardeios são intensos, mas as forças russas lutam para tomar aldeia após aldeia. "Há muitas pessoas aqui que apoiam os russos", conta um homem com traje militar que se apresenta como membro de uma unidade de defesa territorial do Donbass.
"Essas pessoas já deram todas as posições do nosso exército para os russos, mas ainda tentamos permanecer discretos," explica, ao lado de seus dois colegas, em uma estrada de terra nos arredores de Slavyansk, cidade conhecida como separatista.
Ao longe, ouve-se o som de tiros. “Esses são apenas de treinamento”, explica Ruzlan, o único do grupo a ter formação militar. "Um soldado deve aprender a se tornar amigo de sua arma. Eu, quando entrei no serviço militar, por meses vivi e dormi com a minha arma", diz. As forças de defesa territorial ucranianas são compostas por civis para apoiar o Exército convencional.
Os soldados dizem que estão prontos a morrer por suas terras. Porém, é difícil manter as tropas motivadas, explica o chefe da unidade, um ex-fotógrafo de paisagens.
“Você não pode dizer que eles estão entediados, mas há pessoas que estão atualmente na linha de frente engajadas em lutas intensas. Todos viemos para lutar e agora estamos apenas patrulhando a cidade. Então, eu tento motivar minha unidade o tempo todo”, relata.