O Kremlin disse nesta sexta-feira que a invasão da Ucrânia que a Rússia chama de "operação especial" pode terminar em um "futuro previsível", uma vez que seus objetivos estão sendo alcançados e o trabalho está sendo cumprido tanto pelos militares russos quanto pelos negociadores de paz do país.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também disse que Moscou entendia que alguns países que haviam tentado adotar uma posição equilibrada haviam sido submetidos a pressões para votar pela suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU, na quinta-feira.
A Assembleia Geral da ONU suspendeu a Rússia do Conselho por relatos de "graves e sistemáticas violações e abusos dos direitos humanos" na Ucrânia, o que levou Moscou a anunciar que estava se retirando do órgão.
Kremlin diz que Rússia sofreu "perdas significativas" na Ucrânia
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta quinta-feira que a Rússia sofreu "perdas significativas" na Ucrânia, onde suas tropas entraram em 24 de fevereiro no que chama de "operação militar especial".
O Ministério da Defesa da Rússia informou em 25 de março, em sua atualização mais recente, que 1.351 soldados russos foram mortos desde o início da campanha e 3.825 ficaram feridos. O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse dois dias depois que pelo menos 10.000 soldados russos provavelmente foram mortos.
"Temos perdas significativas de tropas", disse Peskov ao canal britânico Sky News em uma entrevista, "e é uma grande tragédia para nós". A ONU diz que confirmou a morte de mais de mil civis, embora o número real provavelmente seja muito maior.
Ucrânia recupera controle da região de Sumy, na fronteira russa
A região de Sumy, no nordeste da Ucrânia e na fronteira com a Rússia, foi "liberada" das forças russas – anunciou o governador local, Dmytro Jivitsky, nesta sexta-feira (8).
"O território foi liberado dos 'orcs' (palavra usada na Ucrânia para se referir aos soldados russos)", disse Jivitsky no aplicativo Telegram, advertindo que a região "não é segura". Segundo ele, há zonas minadas, onde especialistas trabalham para desativá-las.
Com sua saída de Sumy, Rússia concluiu a retirada das suas tropas de todo norte da Ucrânia. Localidade onde vivem cerca de 250.000 pessoas, Sumy é a capital da região homônima. Foi sitiada nos primeiros dias da guerra pelas tropas russas, que não chegaram a controlá-la totalmente e acabaram se retirando.
O acesso à cidade ainda é muito complicado, e milhares de estudantes estrangeiros, oriundos, sobretudo, da África, estão presos nela há semanas.
Putin 'desistiu' de Kiev, segundo chefe da Pentágono
Vladimir Putin "desistiu" de tomar Kiev para concentrar os esforços das forças russas nas áreas separatistas do Donbass, disseram altas autoridades militares dos Estados Unidos nesta quinta-feira (7). "Putin pensou que poderia tomar rapidamente o controle da Ucrânia, tomar rapidamente o controle da capital. Ele estava errado", declarou o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, em audiência no Congresso.
"Acredito que Putin desistiu dos esforços para capturar a capital e agora está focado no sul e no leste do país", completou Austin diante da Comissão das Forças Armadas do Senado. Contudo, o resultado da guerra, que promete ser longa, segue incerto, analisou o chefe do Estado-Maior americano, general Mark Milley.
"Será um trabalho a longo prazo", declarou. "Ainda resta uma grande batalha pela frente no sudeste, onde os russos pretendem concentrar forças e continuar seu ataque. Então veremos como isso vai acabar".
A Ucrânia recebeu cerca de 60.000 sistemas antitanque dos Estados Unidos e aliados, e o exército ucraniano usa minas terrestres que obrigam os soldados russos a lutar em zonas onde ficam mais vulneráveis, explicou o general Milley.
O Ocidente também enviou aos ucranianos cerca de 25.000 sistemas antiaéreos de diversos tipos que impediram a Rússia de tomar o controle do espaço aéreo ucraniano, completou o militar.
Milley afirmou que o exército ucraniano pede agora o envio de tanques e de artilharia para repelir a próxima ofensiva russa. "O terreno (no sudeste) é diferente do norte.
É muito mais aberto e propício para as operações de blindados de ambos os lados", explicou. "Eles precisam de mais tanques e artilharia, e é isso que pedem".
O secretário de Defesa pareceu admitir que os Estados Unidos consideravam, pelo menos no início do conflito, que a Ucrânia não seria capaz de recuperar o controle das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, no Donbass, que agora se tornou o objetivo declarado de Moscou.
Questionado insistentemente pelo senador republicano Tom Cotton sobre a informação que a inteligência militar americana compartilha com os ucranianos, Austin admitiu que, até agora, não havia coberto as regiões separatistas.
"Nós fornecemos a eles inteligência para conduzir operações", inclusive no Donbass, explicou. Mas quando perguntado explicitamente por Cotton se essa inteligência se referia às áreas controladas desde 2014 por separatistas pró-Rússia, Austin reconheceu que as instruções dadas aos analistas militares até agora "não eram claras".
"Queremos ter certeza de que isso está claro para nossas forças", acrescentou. "Esse é o objetivo das novas instruções de hoje." Os serviços de inteligência americanos previram a guerra na Ucrânia com impressionante precisão, mas não anteciparam a forte resistência ucraniana.
Também acreditavam que Kiev cairia em 48 horas e que o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, seria imediatamente deposto e substituído por um regime pró-russo.