Um comandante militar rebelde da Síria pediu na terça-feira ao mundo que proteja os civis do seu país, e criticou os monitores da Liga Árabe por serem incapazes de conter a repressão do governo contra manifestantes.
A ONU diz que mais de 5 mil pessoas, a maioria civis, já foram mortas em dez meses de repressão a protestos contra o presidente Bashar al Assad. O governo diz estar enfrentando "terroristas armados" que, patrocinados pelo exterior, já teriam matado mais de 2 mil soldados e policiais.
O líder rebelde Riad al Asaad, que comanda da Turquia o grupo Exército Sírio Livre, defendeu uma intervenção internacional para substituir a missão árabe, que termina nos próximos dias.
"A Liga Árabe e seus monitores fracassaram na sua missão, e embora respeitemos e apreciemos os nossos irmãos árabes por seus esforços, achamos que eles são incapazes de melhorar as condições na Síria ou de resistir a esse regime", disse ele à Reuters por telefone.
Síria rejeita mobilização de tropas árabes proposta pelo Catar
A Síria rejeita a mobilização de tropas árabes proposta pelo emir do Catar para pôr fim à violência no país, afirmou nesta terça-feira o ministério das Relações Exteriores sírio em um comunicado.
"A Síria rejeita as acusações de dirigentes do Catar sobre o envio de tropas árabes, o que amplifica a crise, frustra a ação árabe e abre caminho para uma intervenção estrangeira", declarou o ministério no comunicado, publicado pela agência oficial Sana.
No sábado, o emir do Catar declarou ser partidário de enviar tropas de países árabes à Síria para "deter a matança" que já cobrou a vida de mais de 5 mil pessoas nos 10 meses da revolta contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad.
O cheque Hamad bin Khalifa al Thani se transformou no primeiro líder árabe a pedir publicamente a mobilização de tropas árabes na Síria, ao declarar no programa 60 Minutos, do canal americano CBS, que "alguns efetivos deveriam ir para acabar" com a violenta repressão das forças do presidente sírio.
A violência na Síria continua, apesar da presença de dezenas de observadores enviados pela Liga Árabe para supervisionar a aplicação de um plano de saída da crise desde o dia 26 de dezembro.
Nesta terça, onze civis morreram, oito deles na explosão de uma bomba durante a passagem do micro-ônibus em que viajavam, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) em um comunicado.
"Por essa razão, pedimos a eles que entreguem a questão ao Conselho de Segurança da ONU, e pedimos à comunidade internacional que intervenha, porque ela é mais capaz de proteger os sírios a esta altura do que nossos irmãos árabes."
A missão árabe monitora a implementação de um acordo de paz que prevê a desmilitarização das cidades, a libertação de manifestantes presos e o estabelecimento de diálogo entre governo e oposição.
Assad, no poder desde 2000, promete fazer reformas, mas disse neste mês que irá esmagar os "terroristas" com "mão de ferro". A rebelião popular começou de forma pacífica, tendo como inspiração a chamada Primavera Árabe, mas ganha cada vez mais contornos de uma guerra civil, com a participação de militares desertores e de outros rebeldes armados contrapondo-se às forças do governo.
A agência estatal de notícias Sana disse nesta terça-feira que foguetes disparados por militantes mataram um oficial militar e cinco subordinados dele num posto de controle rural nos arredores de Damasco, deixando também sete feridos. Na véspera, segundo a agência, pistoleiros mataram um brigadeiro leal a Assad.
Na cidade de Homs, ativistas disseram que um tanque fez disparos contra o bairro de Khalidiya, após uma noite de protestos contra o presidente. Um vídeo no YouTube mostrou uma multidão dançando e agitando a antiga bandeira da Síria, abandonada depois que o partido Baath, de Assad, assumiu o poder, em 1963.
Os ativistas também disseram que houve confrontos entre rebeldes e soldados no bairro. Houve relatos também de que um homem foi morto a tiros em uma barreira militar em Qatana, subúrbio de Damasco, e que um ativista foi morto por um franco-atirador em Khan Sheikhoun, no noroeste do país.
O mandato da missão da Liga Árabe termina na quinta-feira, e o bloco regional irá em breve decidir se retira os 165 monitores do país ou prorroga sua permanência. A Liga pode remeter o caso da Síria ao Conselho de Segurança, mas China e Rússia têm usado seu poder de veto nessa instância para impedir qualquer ação internacional contra Assad.