A imprensa francesa desta quinta-feira (24) faz uma balanço das consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, um mês depois do início da guerra, entre elas, o renascimento da OTAN, que aparece como único mecanismo capaz de proteger os europeus.
O jornal Libération analisa como a invasão da Ucrânia pela Rússia abalou o equilíbrio mundial. Para analistas entrevistados pelo jornal, os encontros do G7, da OTAN e do Conselho Europeu de chefes de estado desta quinta-feira e a viagem do presidente americano, Joe Biden, à Polônia na sexta-feira (25) não resultarão em nenhuma decisão espetacular.
"Trata-se principalmente de mostrar a união do Ocidente diante da agressão russa", diz Libé. De acordo com o especialista em geopolítica Dominique Moïse, entrevistado pelo jornal, "Putin reinventou o Ocidente". Para o analista, a ideia de um "clube de valores comuns parecia ultrapassada e fora de moda", mas com a ofensiva russa, as ideias que unem os países ocidentais passaram a ser mais fortes que os pontos de cisão, como a "cruzada americana contra a China".
Os efeitos já se fazem sentir: a União Europeia que parecia dividida, se uniu contra a primeira ameaça real as suas fronteiras exteriores e países que haviam negligenciado seus exércitos, como Alemanha e Dinamarca, anunciaram medidas importantes para alcançar os objetivos da OTAN em matéria de defesa.
Morte cerebral
De acordo com Libération, "Putin conseguiu tirar a OTAN do estado de 'morte cerebral' declarado por Emmanuel Macron, em novembro de 2019." Mas os efeitos da guerra são sentidos além das fronteiras europeias. A Turquia escolheu o campo ocidental e se mostrou um apoio confiável. Ela e o Irã – se aceitar o acordo nuclear – poderiam, no futuro, ter um papel importante nas questões energéticas", analisa o jornal. Já à China, preocupada principalmente com a pandemia de Covid-19, deve tirar lições militares da invasão russa e pensar duas vezes antes de invadir Tawain.
Le Parisien diz que Putin, que apostava em uma guerra relâmpago, não esperava a resistência dos ucranianos e do presidente Volodymyr Zelensly. Para o diário, a "OTAN aparece atualmente como único mecanismo militar capaz de proteger os europeus", em meio ao risco de que o conflito "transborde" das fronteiras ucranianas.
Fim dos tabus
De acordo com Le Parisien, a reunião desta quinta-feira dos membros do Tratado do Atlâtico Norte em Bruxelas, com a presença de Joe Biden, acontece com uma OTAN "revigorada".
A crise causou um "despertar estratégico dos europeus", diz a publicação, citando as palavras de Emmanuel Macron. "Os temas tabus explodiram", entre eles a entrega de armas à Ucrânia e o aumento dos orçamentos dedicados à defesa dos países membros do bloco.
Le Figaro traça um perfil de Joe Biden como chefe de guerra. O presidente americano teria restabelecido a confiança dos europeus, conseguindo coordenar as respostas econômicas e militares dos aliados à guerra na Ucrânia.
OTAN nunca esteve tão unida, diz Biden em visita à Europa¹
Em visita à Europa, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta quinta-feira (24/03) que a OTAN "nunca esteve tão unida" como atualmente e apelou aos aliados para manterem a pressão sobre a Rússia, sustentando que essa é a única maneira de conter o presidente russo, Vladimir Putin. "Putin contava com uma divisão na OTAN.
Durante a minha conversa com ele, no início de dezembro, fiquei convencido de que ele achava que nós não iríamos conseguir manter a coesão. A OTAN nunca, nunca esteve tão unida como está hoje. Putin está obtendo exatamente o contrário daquilo que pretendia", afirmou Biden.
O presidente americano fez a declaração numa coletiva de imprensa em Bruxelas, depois de ter participado de cúpulas de líderes da OTAN e do G7. A noite, estavam previstos encontro e jantar com líderes da União Europeia (UE). Biden frisou que já sabia que as sanções não iriam "dissuadir Putin", mas sublinhou que a "manutenção das sanções aumentará a dor", e a demonstração de união entre os aliados irá influenciar o comportamento do presidente russo.
"A razão pela qual pedi esta cúpula foi para me assegurar que, passado um mês, iremos continuar a manter o que temos feito: não apenas este mês, não apenas no próximo mês, mas durante todo o ano. É isso que irá pará-lo [Putin]", disse.
Reiterando a necessidade de união entre os Estados-membros da OTAN num futuro próximo, Biden considerou que, "se a Europa ceder em um mês, seis semanas ou dois meses", o Kremlin não se importará com "qualquer nome" que seja adicionado à lista de sanções.
"Temos de nos manter completamente, totalmente unidos", reforçou. Durante a fala, Biden também anunciou mais de 2 bilhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia e 1 bilhão de dólares em assistência aos ucranianos afetados pela guerra. Em relação às negociações diplomáticas em andamento entre a Ucrânia e a Rússia, o presidente americano disse que cabia a Kiev determinar se gostaria ou não de ceder território.
Exclusão da Rússia do G20 Biden também alertou para a ameaça de uso de armas químicas e disse que a Rússia deveria ser excluída do G20 – e, caso isso não fosse possível, a Ucrânia deveria ser inserida ao grupo como país observador.
A Rússia confirmou nesta quarta-feira a intenção do presidente russo, Vladimir Putin, de participar da cúpula do G20 na Indonésia ainda neste ano e, por enquanto, o país anfitrião manteve seu convite ao líder, apesar da invasão na Ucrânia. Biden também abordou o possível envolvimento da China na invasão russa.
Ele afirmou que disse ao presidente chinês, Xi Jinping, que Pequim enfrentará consequências se ajudar Moscou durante o ataque em andamento. "Não fiz ameaças, mas deixei claro para ele. Certifiquei-me de que ele entendesse as consequências de ajudar a Rússia", disse Biden sobre sua recente conversa com Xi. "A China entende que seu futuro econômico está muito mais ligado ao Ocidente do que à Rússia", complementou.
Sobre o possível uso de armas químicas pela Rússia, Biden disse que isso provocaria uma reação dos países ocidentais, que será decidida no momento apropriado. "Nossa resposta seria proporcional", enfatizou.
A Casa Branca vem afirmando há semanas que a Rússia poderia estar preparando um ataque com armas químicas ou biológicas na Ucrânia, em uma estratégia que incluiria a fabricação de um pretexto falso para o ataque.
Cúpula da OTAN
Também nesta quinta-feira, líderes de países da OTAN reunidos em Bruxelas decidiram reforçar as capacidades de defesa da aliança militar, diante da invasão russa na Ucrânia, que não dá sinais de se aproximar de um fim.
Uma das medidas anunciadas após a reunião foi a de estabelecer quatro novos batalhões da OTAN no Leste Europeu, compostos por militares de diversos países da aliança, que ficarão estacionados na Bulgária, na Hungria, na Romênia e na Eslováquia.
Esses batalhões se somarão a outros quatro já em atividade no Leste Europeu, na Polônia, na Estônia, na Letônia e na Lituânia.
Os líderes emitiram uma declaração conjunta condenando a invasão russa na Ucrânia, dizendo que ela havia "abalado a paz na Europa". A medida já havia sido antecipada na quarta pelo secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, e foi confirmada nesta quinta.
Ele também informou que a OTAN ativou seus mecanismos de defesa química e nuclear, e enviará para a Ucrânia equipamentos para o país se proteger contra ameaças biológicas, químicas, radiológicas e nucleares.
¹com